Economia

Google, Facebook e outras 'big techs' estão na mira de Angela Merkel, que pede apoio de Biden para taxá-las

Em sessão virtual do Fórum de Davos, chanceler alemã faz defesa do multilateralismo. O francês Macron celebra volta dos EUA ao Acordo de Paris
A chanceler alemã Angela Merkel na sessão virtual do Fórum Foto: POOL / REUTERS
A chanceler alemã Angela Merkel na sessão virtual do Fórum Foto: POOL / REUTERS

RIO - A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, aproveitou sua participação no Fórum Econômico Mundial nesta terça-feira para defender mudanças na taxação de gigantes de tecnologia, como Google e Facebook, e pedir apoio a esse projeto ao novo presidente americano, Joe Biden.

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Ela também defendeu o multilateralismo e, num recado a Biden e ao presidente chinês, Xi Jiping, afirmou que é contra os países serem forçados a escolher entre um bloco ou outro, liderados pelas duas maiores potências mundiais.

- Espero que, com a nova administração americana, possamos agora continuar e intensificar o trabalho da OCDE sobre a tributação mínima das empresas digitais. Que tenhamos sucesso em mais uma vez ancorar o papel central da lei de concorrência globalmente e prevenir o surgimento de monopólios - disse Merkel em sessão virtual.

Neste ano, o Forúm Econômico Mundial está sendo realizado apenas no formato on-line, batizado como Agenda Davos 2021. Uma versão presencial está sendo preparada para maio.

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A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem um projeto de taxar as 'big techs', que é endossado por países da União Europeia (UE). Mas o ex-presidente Donald Trump não apoia a tributação dessas empresas.

A discordância entre a UE e os EUA neste ponto é um dos focos de tensão entre os dois. A França chegou a aprovar um imposto sobre as gigantes de tecnologia, mas recuou após Trump ameaçar impor altas tarifas a produtos de luxo franceses.

'EUA de um lado e China de outro'

A exemplo do presidente chinês Xi Jinping, Merkel também defendeu o multilateralismo nas relações entre as nações e maior transparência nos negócios.

- Sou contra a formação de blocos, como os EUA de um lado e a China de outro - afirmou.

Ela completou:

- Multilateralismo e transparência é o que precisamos neste momento. E é preciso haver equilíbrio entre ações do Estado na economia e as da iniciativa privada, permitindo ao indivíduo realizar seu potencial.

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Merkel enfatizou que a pandemia serviu para mostrar ao mundo como os países estão interligados e as fraquezas e vulnerabilidades nos sistemas econômicos.

- A pandemia, que ninguém poderia prever em Davos no ano passado, mudou a forma como vivemos e fazemos negócios. Ela mostrou como estamos globalmente interligados, vivendo no mesmo planeta, e como ainda estamos vulneráveis à natureza (afinal, a doença veio de um animal).

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A chanceler alemã elogiou o presidente americano Joe Biden por fazer os Estados Unidos voltarem ao seio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e disse que o papel da entidade é fundamental, inclusive para pesquisar a origem do vírus na China.

Macron: foco na sustentabilidade

O presidente da França, Emmanuel Macron, também participou da Agenda Davos 2021 e concentrou seu discurso na sustentabilidade como uma das chaves para a economia mundial pós-pandemia. Ele também comemorou a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, após a posse do presidente Joe Biden.

- Quando os EUA saíram do acordo, houve riscos, mas agora com uma das primeiras medidas de Biden sendo a volta ao acordo, precisamos atuar juntos para cumprir os compromissos assumidos e aplicá-los em nível regional, com novas metodologias e inovação - disse Macron.

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Segundo o presidente francês, revoluções tecnológicas como a inteligência artificial e a computação quântica vão ajudar a resolver questões mais rapidamente e criar inovações que terão impacto na desigualdade social e nas medidas para enfrentar as mudanças climáticas.

Ele também disse que "financialização" extrema do capitalismo da década passada, com alocação de recursos em mercados com menos riscos, levou ao aumento da desigualdade e a menos inovação.

- É preciso pensar a economia para os seres humanos, os esforços da economia hoje são para salvar vidas - frisou. - E as empresas precisam ser reformuladas de dentro, em todos níveis, para levarem em consideração o impacto social e climático de sua atuação. Pois só sairemos dessa pandemia pensando em reduzir a desigualdade no mundo.