
Prefeitura de São Paulo decide usar todas as vacinas disponíveis para aplicar primeira dose nos profissionais de saúde
O governo de São Paulo enviou nesta quarta-feira (27) um ofício ao Ministério da Saúde solicitando autorização para usar todas as doses da CoronaVac disponíveis na primeira dose, sem reservar a metade para a segunda. Com isso, o governo paulista quer garantir que todos os profissionais de saúde tomem ao menos uma dose.
Até agora, a orientação do governo federal era para que os estados distribuíssem aos municípios só metade do lote de CoronaVac, para garantir a segunda aplicação
"Considerando a necessidade de imediata ampliação do processo de vacinação e considerando a escassez ou insuficiência de imunizantes enviados pelo Ministério da Saúde, [o governo] solicita a utilização de todo o quantitativo da CoronaVac sem reservar metade para a segunda dose", diz pedido assinado por Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, e pelo secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn.
Também nesta quarta, Centro de Contingência do Coronavírus do governo de São Paulo recomendou que o intervalo de aplicação entre as duas doses da CoronaVac seja ampliado para mais de 28 dias, mas a decisão sobre a possibilidade de estender o intervalo entre as doses caberá ao governo federal, por meio das regras do Programa Nacional de Imunização (PNI).
Linha de produção da CoronaVac, no Instituto Butantan, em SP — Foto: Amanda Perobelli/Reuters
"O que nós temos neste momento é uma diretriz do PNI que recomenda que a vacina CoronaVac seja aplicada em duas doses em um intervalo entre 14 e 28 dias. Todos os lotes encaminhados para os governos estaduais vêm com uma recomendação expressa do Ministério da Saúde", afirmou o secretário executivo da Secretaria Estadual de Saúde, Eduardo Ribeiro.

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Para o comitê de contingência, formado por 20 especialistas em saúde, adiar a segunda dose pode até ser mais eficaz.
“Hoje, a segunda dose está prevista para ser feita em até 28 dias após a primeira. No entanto, do ponto de vista científico biológico, é possível pensar que a segunda dose dada em uma data posterior aos 28 dias seja até mais eficaz. Então, o Centro de Contingência, neste momento, é favorável à possibilidade de ter uma extensão", afirmou o coordenador do Centro de Contingência, Paulo Menezes nesta quarta.
Cientistas ouvidos pelo Jornal Nacional dizem que atrasar a segunda dose não compromete a eficácia, mas, para eles, os estudos clínicos dizem pouco sobre qual é a proteção obtida com uma dose só.
"Atrasar não vai alterar a eficácia, não vai perder a validade da primeira dose. Não é jogar fora e começar tudo de novo - a gente pode atrasar o reforço sem nenhum prejuízo pra eficácia da vacina", diz Natália Pasternak, doutora em Microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência.
"A gente não sabe qual é a proteção que a primeira dose dá sozinha, antes da segunda dose. Então, essa janela, o ideal é que ela não se afaste muito. Então, a gente planejou essa janela pra 21 dias. Não deu pra fazer em 21?, vou fazer em 28 - tem problema? Vou fazer em 40, tem problema? Problema pra eficácia não tem. O problema é a demora, que justamente deixa as pessoas expostas por mais tempo - só com uma dose que a gente não sabe o quanto protege", completou.
No site do Butantan, a bula da CoronaVac diz que o intervalo entre a primeira e a segunda dose deve ficar entre duas e quatro semanas.
Cidade de SP
Na cidade de São Paulo, todas as doses recebidas já estão sendo usadas na primeira aplicação. O governo estadual já comunicou a prefeitura que enviará as vacinas para segunda dose.
Depois de ter recebidos as doses da vacina de Oxford, a Prefeitura de São Paulo ampliou nesta quarta a vacinação para todos os profissionais de saúde das unidades básicas de saúde, idosos em instituições e pessoas com transtorno mental em residências terapêuticas.
A Prefeitura diz que dos 500 mil profissionais de saúde que precisam ser vacinados, 180 mil já foram imunizados.
"Da Coronavac, 91% nós já vacinamos, nós já utilizamos. Nós distribuímos praticamente tudo. Nós já utilizamos 91% delas. [faz pausa] Nós vacinamos com a Coronavac num primeiro momento todos os profissionais de saúde da linha de frente de atendimento da Covid 19, médicos e enfermeiros. Além disso, nós vacinamos, de hospitais públicos e privados, e também vacinamos os idosos que estavam acamados em asilos e instituições de longa permanência, e cerca de 2 mil indígenas aldeados na cidade", disse o secretário da Saúde da cidade, Edson Aparecido.
População e doses
O PNI contra a Covid-19 conta atualmente com 6 milhões de doses da CoronaVac que foram autorizadas no primeiro pedido de uso emergencial à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e por outros 4,1 milhões referentes ao segundo pedido. Há ainda 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca.
No entanto, o montante é insuficiente para vacinar toda a população prevista nos primeiros grupos prioritários. Só no estado de São Paulo, por exemplo, a estimativa é que tenha 1,5 milhão de profissionais de saúde nesse grupo. Seriam necessárias, portanto, 3 milhões de doses da CoronaVac, considerando as duas aplicações.
O estado de SP tem cerca de 9 milhões de pessoas que teriam prioridade para imunização. Esse número considera profissionais da saúde, povos indígenas, quilombolas e idosos. Por não haver quantidade suficiente de doses, a campanha começou com profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia, indígenas, quilombolas e idosos internados em instituições.