Topo

Tales Faria

Mourão e Bolsonaro estão como Temer e Dilma

O presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão estão cada dia mais distantes - Sergio Lima/AFP
O presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão estão cada dia mais distantes Imagem: Sergio Lima/AFP

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

27/01/2021 10h13

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O presidente Jair Bolsonaro tem mostrado maior resiliência do que a ex-presidente Dilma Rousseff. Ele já voltou atrás várias vezes, disse que não disse o que disse e fez as pazes com quem anunciou rompimento — do centrão ao governo chinês.

Então é possível que amanhã, ou hoje mesmo, desfile abraçado com seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Mas a verdade é que a relação entre os dois não anda nada boa.

Estão na mesma situação que Dilma viveu com seu vice, Michel Temer, durante quase todo o governo. Até que o emedebista tornou pública uma carta que enviou à presidente rompendo o (falso) relacionamento que mantinham.

A quem pergunta se ele tramou pelo impeachment, Temer responde que sempre foi fiel, apesar de tratado com rispidez pela chefe da nação. Só teria aderido ao impeachment quando o assunto já era abertamente discutido no Congresso e os dois estavam rompidos.

Essa é uma versão que a História ainda esclarecerá. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha escreve em suas memórias que não é bem assim. Diz que Temer teria urdido contra a chefe e levado o MDB para apoiar o impeachment, junto com o centrão e o hoje presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

Quanto ao general-vice-presidente Hamilton Mourão, não se sabe até agora de qualquer movimento pela derrubada do presidente.

Mas Bolsonaro e seus auxiliares no Planalto já estão de orelha em pé.

Mourão revelou à CNN, nesta terça-feira, que está sentindo falta de diálogo com Bolsonaro. "Faz falta, sim. Faz falta até para eu entender em determinados momentos o que eu preciso fazer", disse.

Um tom parecido com o muxoxo da tal carta de Temer. "Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários", dizia Temer.

Dizem os velhos conselheiros políticos do Planalto que não se deixa um vice desocupado, sem saber o que fazer. Porque, aí, ele encontra o que fazer e isso, em geral, não acaba sendo boa coisa para o chefe.

É o que pensam também os articuladores políticos do presidente. Acham que está na hora de Bolsonaro tomar muito cuidado com seu vice. Têm aconselhado o chefe a dar um passo atrás, refazer a relação que já tiveram, razoavelmente cordial. Mourão, além de vice, é general, com alguma penetração na caserna.

Quem conhece o descompromisso de Bolsonaro com suas próprias ideias, sabe que ele pode muito bem voltar atrás nos maus tratos ao vice.

Antes que Mourão coloque um ponto final, como Temer disse a Dilma na tal carta: "Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção."

Depois disso, a presidente da República caiu. E Temer assumiu o cargo.