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Rio

Rio registra recusas da vacina contra Covid-19 entre profissionais de saúde

Secretaria de Saúde ainda confirmou outros seis casos entre idosos em asilos; Cidade está em seu segundo dia de campanha de vacinação
Técnica em enfermagem Isamara Ribeiro Barbosa, primeira vacinada no Hospital Municipal Raul Gazolla, no Rio, em 19 de janeiro de 2021 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Técnica em enfermagem Isamara Ribeiro Barbosa, primeira vacinada no Hospital Municipal Raul Gazolla, no Rio, em 19 de janeiro de 2021 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO - O segundo dia de campanha vacinação no Rio vem marcando registros emocionantes de idosos e profissionais de saúde sendo vacinados. Mas, houve também casos de recusa. Nesta quarta, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que já foram registrados seis idosos em asilos , além de profissionais de saúde, sem especificar a quantidade, que recusaram a vacina contra a Covid-19.

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Numa entrevista pela manhã, o secretário havia confirmado a informação dos seis casos em asilos, mas esse número vem aumentando, apesar de ainda ser a minoria.

— Agora temos negativas também de profissionais de saúde — afirmou Daniel Soranz, que não pôde dar mais detalhes, por questões de privacidade, mas confirmou que as recusas tiveram motivação "ideológica".

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Nesta primeira fase de vacinação, estão sendo contemplados 34% dos profissionais de saúde — uma estimativa da quantidade de trabalhadores na linha de combate contra a Covid-19 — idosos e pessoas com deficiência residentes de Instituições de Longa Permanência (ILPIs) e indígenas. Especula-se que uma das pessoas que recusou a vacina é um fisioterapeuta do Hospital  Ronaldo Gazzolla.

— A grande maioria das pessoas quer muito tomar a vacina, está muito emocionada com este momento de vacinação. Infelizmente, ainda há pessoas que têm resistência à vacina, e isso é muito ruim, porque elas colocam em risco as vidas delas e o coletivo — explicou Soranz, que fez um apelo contra o receio dos grupos prioritários.— Esta vacina é muito segura, sem nenhum efeito adverso grave documentado, todos os efeitos adversos foram muito leves nos estudos.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que "está usando estratégia de convencimento, apresentando dados de segurança da vacina e pedindo a colaboração dos profissionais idosos que se recusaram a tomar a vacina". Sobre punições, a pasta respondeu que   vai avaliar com o Ministério Público e com o Comitê de Especialistas para o Enfrentamento da Covid-19 (CEEC) quais as melhores medidas a serem adotadas em relação aos idosos abrigados que também não querem tomar a vacina contra a Covid-19.

Discussão jurídica

Ainda que raras, essas situações preocupam autoridades, até por conta das duvidas jurídicas sobre o tema. Especialistas destacaram que ainda não há normas e regulamentações específicas para esses casos. Apesar de obrigatória, a vacinação não pode ser compulsória. A recomendação, por enquanto, é para que se intensifiquem as campanhas de informação sobre a necessidade da vacina.

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Nesta terça, O GLOBO mostrou o primeiro caso relatado de recusa à vacina, no asilo Recreio dos Anciões , em que um casal de idosos afirmou que não desejaria ser vacinado.  Sobre o tema, a advogada especializada em casas geriátricas Ariane Angioletti, assessora jurídica da Frente Nacional de Fortalecimento das ILPIs, explicou que a discussão jurídica é nova, mas  seu posicionamento é de orientar asilos a rescindirem os contratos com esses idosos.

— As vacinas do calendário nacional da vacinação são obrigatórias, mas a vacina contra Covid-19 ainda é uma excepcionalidade por enquanto. O que temos é uma decisão do STF que possibilita estados e municípios a tomarem medidas restritivas contra quem não aceitar a vacina. Na teoria, é obrigatória, mas não pode ser coercitiva. Então fica num limbo jurídico. Não temos penalidades definidas ainda — explicou Ariane, em entrevista nesta terça.

No caso dos funcionários municipais, a aplicação de medidas administrativa pode ser mais fácil do que a idosos. Segundo Ariane, é provável que municípios abram processos disciplinares para apuração de conduta grave no seu exercício.

O professor de direito administrativo da Uerj, Gustavo Binenbojm, diz que, agora, o mais importante é que municípios e estados decidam as punições, administrativas, já que o código penal é prerrogativa da União, que serão tomadas para esse tipo de caso. Neste primeiro momento, explica, era natural que se priorizasse a definição de chegada de vacinas e logística para que depois os governantes entrassem na discussão sobre punições.

— O STF julgou que a vacinação deve ser obrigatória, mas que a pessoas pode se recusar a tomar, mediante punições jurídicas. O problema é que ainda não temos definidas as sanções administrativas, mas governos precisarão enfrentar essa questão. Muitos políticos temem a impopularidade desse tipo de medidas, então será decisão com cálculo político — afirma Binenbojm, que ainda comentou a gravidade da recusa no caso de profissional da saúde. — Eles estão em contato com outras pessoas o tempo todo, então podem contaminar mais gente. Por serem funcionários municipais, é mais fácil dar sanção administrativa.