Coronavírus

Por Lara Pinheiro, G1


Coveiros carregam caixão de vítima da Covid-19 no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, no dia 22 de janeiro. — Foto: Marcio James/AFP

O Brasil registrou, em janeiro, 29.558 mortes por Covid-19, segundo dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. O número é o terceiro mais alto desde o início da pandemia e o maior desde julho – quando o país teve o recorde mensal de mortes pela doença.

Cinco estados tiveram recordes de óbitos, e cerca de 10% das mortes do país foram vistas no Amazonas (veja detalhes mais abaixo).

Janeiro também é o segundo mês consecutivo em que as mortes de um mês superam as do mês anterior. O aumento percentual em relação a dezembro é de 35,5%.

Mortes por Covid-19 por mês no Brasil
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

As médias móveis diárias calculadas pelo consórcio de imprensa também apontam que houve uma tendência nacional de aumento nos óbitos por 14 dias consecutivos de janeiro – do dia 8 ao dia 21.

O dado referente a janeiro foi calculado subtraindo-se as mortes totais de dezembro (194.976) do total de mortes até 31 de janeiro (224.534). Os números dos meses anteriores foram determinados com a mesma metodologia (veja mais ao final da reportagem).

Recordes de mortes nos estados

Cinco estados tiveram recordes de mortes mensais em janeiro: Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rondônia.

Com 2.832 óbitos por Covid no mês passado, o Amazonas teve 9,6% do total de óbitos no país. O estado tem mostrado, de forma ininterrupta, uma tendência de alta diária na média móvel de mortes por Covid desde 22 de dezembro.

Mortes por Covid no Amazonas por mês
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

Em Manaus, o colapso dos sistemas de saúde, com a falta de oxigênio nos hospitais, fez com que mais de 300 pacientes tivessem que ser transferidos para outros estados e que cilindros com o gás tivessem que ser doados pela Venezuela. Até agora, ao menos 14 estados já receberam pacientes do Amazonas.

Em Minas Gerais, 3.158 pessoas perderam a vida para a Covid em janeiro. Belo Horizonte voltou a reabrir o comércio nesta segunda-feira (1º) depois de três semanas de fechamento. A cidade também retoma as aulas na rede municipal nesta segunda – mas, por enquanto, apenas de forma remota.

Mortes por Covid em Minas Gerais por mês
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

No Paraná, foram registrados 2.041 óbitos por Covid em janeiro. O estado foi um dos que receberam pacientes de Rondônia e do Amazonas. Em Ponta Grossa, a prefeitura prorrogou o toque de recolher; já em Londrina, o prefeito descartou a adoção de medidas restritivas.

Mortes por Covid no Paraná por mês
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

Em Mato Grosso do Sul, foram 580 mortes em janeiro. Dezembro havia registrado o recorde anterior mensal no estado, com 560 mortes. Nos últimos três dias, a tendência na média móvel diária nos óbitos tem sido de queda.

Mortes por Covid em Mato Grosso do Sul por mês
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

Em Rondônia, foram 427 vidas perdidas em janeiro, levando o número total a 2.244. O governo também precisou transferir pacientes para outros estados.

Mortes por Covid em Rondônia por mês
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

Em Roraima, apesar de não ter havido recorde de mortes, há uma tendência de alta diária na média móvel de mortes por Covid desde 18 de janeiro. O hospital geral do estado atingiu a superlotação de leitos clínicos no dia 30, e, naquela data, não havia leitos de UTI disponíveis. Nesta segunda-feira (1º), a ocupação de leitos semi-intensivos chegou a 100%.

O estado tem 856 mortes pela Covid, das quais 69 foram vistas em janeiro. O recorde é de julho, quando 222 pessoas morreram pela doença.

Única queda e mortes por estado

O Maranhão foi o único que teve queda nas mortes em janeiro: 197 pessoas perderam a vida para a Covid-19 no estado. O número é o menor desde o início da pandemia, se o dado de março – quando houve uma morte – não for considerado. O estado teve o seu maior número de óbitos em junho, quando 1.072 pessoas morreram de Covid.

Mortes por Covid no Maranhão por mês
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1

Em janeiro, os estados registraram as seguintes mortes por Covid-19, segundo as secretarias de Saúde:

  1. SP: 6.317
  2. RJ: 4.281
  3. MG: 3.158
  4. AM: 2.832
  5. PR: 2.041
  6. RS: 1.797
  7. SC: 1.087
  8. BA: 968
  9. ES: 777
  10. PE: 694
  11. GO: 683
  12. MT: 609
  13. MS: 580
  14. CE: 484
  15. PA: 456
  16. RO: 427
  17. PB: 384
  18. DF: 295
  19. SE: 294
  20. RN: 292
  21. AL: 257
  22. PI: 225
  23. MA: 197
  24. TO: 148
  25. AP: 134
  26. AC: 72
  27. RR: 69

Nova variante e relaxamento nas medidas

Especialistas ouvidos pelo G1 creditam o aumento das mortes no país às festas de fim de ano e à variante detectada no Amazonas, mais transmissível. Eles também preveem que o colapso visto em Manaus deve se repetir no resto do Brasil.

"Manaus está sempre à nossa frente. O que acontece em Manaus vai acontecer em outros lugares. É uma questão de tempo", afirma Ethel Maciel, enfermeira epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Maciel avalia que, sem campanhas de conscientização ou medidas restritivas e com o espalhamento da nova variante, muitas pessoas ainda irão morrer.

"Nós não reconhecemos o problema, continuamos como se o vírus não estivesse aqui. Ele está matando e vai matar muita gente. Essa variante no Brasil se espalha muito rápido e tem muitos indícios de que despista o sistema imune. E a gente continua com tudo aberto, tudo normal", diz.

O médico e pesquisador Marcio Bittencourt, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a situação da pandemia ainda é diferente de um estado para o outro, mas faz previsões semelhantes.

"O que a gente tem em janeiro é o aumento [de casos e mortes] em várias regiões, em grande parte relacionado às medidas de flexibilização. As pessoas não estão fazendo [as medidas de prevenção], estão se contaminando mais e morrendo mais. Isso é o principal", afirma.

"O segundo ponto é a saturação da estrutura hospitalar – que faz com que pessoas que deveriam conseguir sobreviver acabem falecendo porque o sistema colapsou, foi incapaz de oferecer assistência à saúde, em vários aspectos, na Região Norte, principalmente na região que tem Manaus como referência", explica Bittencourt.

Existe, ainda, a questão da nova variante do coronavírus na região – mais transmissível.

"[Há] uma nova variante do vírus – que caracteriza maior transmissibilidade e, aparentemente, quadros mais graves, potencialmente justificando parte da mortalidade. A curva de mortalidade lá é impressionante, muito maior que no ano passado. Pessoas de 40, 50, 60 anos morrendo", diz o médico.

Por fim, Bittencourt lembra que esta é a época de gripe no Norte do país. "Se tudo seguir esse padrão, a gente vai ter um novo episódio nos próximos meses – março, abril, maio no Nordeste e, mais para frente, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Vai haver uma piora sazonal independentemente da variante", afirma.

No dia 20, o Amazonas registrou mais de 5 mil novos casos de Covid, um recorde; 3,6 mil foram detectados em Manaus.

Veja perguntas e respostas sobre a vacinação contra a Covid-19

Veja perguntas e respostas sobre a vacinação contra a Covid-19

Vacinação

O mês passado também viu o início da vacinação contra a Covid no país. No dia 17, São Paulo foi o primeiro a começar a aplicação da CoronaVac, minutos depois da aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O balanço da vacinação contra Covid-19 no país aponta que, até domingo (31), 2.051.295 doses de vacina já haviam sido aplicadas no país.

Metodologia

O consórcio de veículos de imprensa começou o levantamento conjunto no início de junho. Por isso, os dados mensais de fevereiro a maio são de levantamentos exclusivos do G1. A fonte de ambos os monitoramentos, entretanto, é a mesma: as secretarias estaduais de Saúde.

Outra observação sobre os dados é que, no dia 28 de julho, o Ministério da Saúde mudou a metodologia de identificação dos casos de Covid e passou a permitir que diagnósticos por imagem (tomografia) fossem notificados. Também ampliou as definições de casos clínicos (aqueles identificados apenas na consulta médica) e incluiu mais possibilidades de testes de Covid.

Desde a alteração, mais de mil casos de Covid-19 foram notificados pelas secretarias estaduais de Saúde ao governo federal sob os novos critérios.

Veja vídeos sobre a vacinação no Brasil:

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