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Rio, Cuiabá e Salvador interrompem vacinação contra Covid-19; outras quatro capitais devem parar na próxima semana

Um mês após o início da campanha de imunização contra a Covid-19 no Brasil, cidades deixam de aplicar primeira dose por falta de remessa do Ministério da Saúde
Idosos na fila de imunização em posto no Centro de São Gonçalo, na manhã de terça: segundo a prefeitura, doses só estão garantidas até a próxima sexta-feira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Idosos na fila de imunização em posto no Centro de São Gonçalo, na manhã de terça: segundo a prefeitura, doses só estão garantidas até a próxima sexta-feira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO e SÃO PAULO — Um mês após o início da campanha de imunização contra a Covid-19 no Brasil, três capitais interromperam a aplicação da primeira dose da vacina por falta do produto. Além do Rio, que havia divulgado a decisão anteontem, Salvador e Cuiabá anunciaram ontem que dependem de novas remessas do Ministério da Saúde para dar prosseguimento à primeira fase da vacinação. Outras quatro devem parar até a próxima semana, segundo levantamento do GLOBO, sem que o governo federal apresente uma previsão para novas entregas às unidades da federação.

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Como o Rio, as capitais de Bahia e Mato Grosso dizem assegurar a aplicação da dose de reforço para aqueles que receberam a primeira aplicação. Segundo dados da Secretaria estadual de Saúde baiana, 82 municípios do estado já utilizaram todo o estoque de vacinas disponibilizado pelo governo federal. Em MT, a cidade de Rondonópolis também interrompeu ontem a vacinação. Segundo o G1, Sinop e Cáceres devem parar de aplicar a primeira dose ainda hoje.

Em nota divulgada ontem, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) atribuiu a escassez à forma como o governo federal coordena o combate à pandemia , com uma “sucessão de equívocos”. “É urgente que o país tenha um cronograma com prazos e metas estipulados para a vacinação de cada grupo”, cobrou a FNP. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) foi mais longe: pediu a demissão do ministro Eduardo Pazuello .

Questionado pelo G1 sobre as declarações das entidades, o ministério disse que tem trabalhado “diuturnamente para dar a melhor resposta à sociedade”.

Outras três capitais devem pausar suas campanhas até o fim desta semana: Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis. Já Porto Alegre só tem doses até a próxima semana. O impasse ocorre em meio a um momento crítico da contaminação no Brasil: a média móvel de mortes diárias está acima de mil desde 21 de janeiro.

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A secretaria de Saúde de Belém fez alerta semelhante:

“Nos próximos dias, serão utilizados os últimos lotes de vacina no público alvo de 84 anos, nos idosos acamados e nos profissionais de saúde”, informou a pasta. “Sem previsão de novas entregas, não é possível elaborar um cronograma fixo de vacinação, por conta da ausência absoluta de programação do Ministério da Saúde.”

Trânsito no drive-thru

No município do Rio, houve fila de vacinação no drive-thru instalado no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, na véspera da interrupção da vacinação. E outras cidades importantes da Região Metropolitana chegam perto de esgotar seus estoques de vacinas, enquanto aguardam novos envios.

Em Niterói, a Secretaria municipal de Saúde garantiu que há estoque para realizar a vacinação de idosos a partir de 87 anos apenas hoje.

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Em Duque de Caxias, município mais populoso da Baixada Fluminense, a previsão é que as pouco mais de 900 vacinas que restam não durem mais de duas horas e acabem já no início da manhã.

Em São Gonçalo, na Região Metropolitana, os imunizantes devem acabar nesta semana. De acordo com a prefeitura, há garantia de doses apenas até sexta-feira. Nesta fase, serão imunizados idosos de 83 anos, hoje, e com mais de 81 anos, amanhã e na sexta-feira.

Já a prefeitura de Nova Iguaçu afirma que a vacinação segue normalmente, e a expectativa é que o estoque seja suficiente para imunizar idosos entre 80 e 84 anos na próxima semana.

— A expectativa é que o estoque atual seja suficiente para vaciná-los, mas estamos aguardando a chegada de mais doses para termos a garantia de que não haverá interrupção da campanha na cidade — disse o secretário municipal de Saúde, Manoel Barreto.

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Ao GLOBO, o ministério afirmou que não há previsão para o envio de novas doses para os 26 estados e o Distrito Federal. “À medida que os laboratórios disponibilizarem novos lotes, novas grades de distribuição e cronogramas de vacinação dos grupos prioritários serão orientados pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, declarou a pasta.

A próxima janela para estancar o gargalo das capitais deve ser a conclusão da produção de 17,3 milhões de doses da CoronaVac pelo Instituto Butantan. Até agora, 9,8 milhões de doses foram entregues pelo Butantan ao PNI. Os próximos lotes começam a ser “gradualmente” distribuídos no dia 23, diz o governo paulista. Segundo o diretor do Butantan, Dimas Covas, a partir dessa data o órgão será capaz de fornecer 600 mil vacinas por dia ao governo federal. O acordo do instituto com o ministério prevê a entrega de 46 milhões de doses até abril. Ontem, o governo federal informou que assinou a aquisição de outras 54 milhões de doses da CoronaVac , disponíveis até setembro.

Há ainda a previsão de entrega de 4 milhões de unidades do imunizante de AstraZeneca/Oxford, mas o governo federal tampouco precisou uma data. A produção da Fiocruz só começa a ficar pronta em março.

Nesse ritmo, a secretaria de Saúde da Bahia estima que, em vez de cada fase de vacinação durar um mês, como prevê o ministério, cada etapa demore até quatro meses, “em virtude da entrega de doses a conta-gotas”.

Cinco capitais (Recife, Fortaleza, Palmas, Manaus e Campo Grande) e Distrito Federal informaram que assegurarão a vacinação dos grupos prioritários da primeira fase, mas dependem de novas remessas para avançar. Vitória, Goiânia, Aracaju e São Paulo disseram ter doses suficientes para dar sequência à vacinação. As demais capitais não responderam à reportagem.