RIO - O advogado André de Almeida, um dos idealizadores da ação coletiva (
class action)
que levou a Petrobras a
pagar US$ 2,9 bilhões para encerrar uma disputa judicial
com acionistas nos Estados Unidos em 2018, já mira uma nova batalha na justiça em Nova York contra a estatal.
Ele tem entre seus clientes fundos de investimentos que são acionistas da Petrobras e ficaram insatisfeitos com a
intervenção do presidente Jair Bolsonaro para trocar o presidente da empresa
, que é controlada pela União, mas tem capital aberto com ações detidas por milhares de investidores, muitos deles estrangeiros.
A Almeida Advogados, em parceria com o escritório Wolf Popper LLP, foi quem protocolou a primeira petição que gerou a class action em NY em dezembro de 2014.
A estratégia é fazer parceria com outras bancas no exterior novamente. Segundo Almeida, a forma como o presidente Jair Bolsonaro anunciou a troca no comando da estatal é mais um exemplo de ilegalidade que acontece na empresa.
- O governo se comporta como se fosse o único dono da Petrobras, atropelando os acionistas minoritários. Vou buscar a justiça nos Estados Unidos. Já estou trabalhando nisso com os clientes - disse Almeida ao GLOBO.
Já na sexta-feira uma nova ação coletiva era um dos temores entre executivos de alto escalão da estatal, sobretudo das áreas de governança, jurídica e financeira.
O tom de ameaça ganhou ainda mais força após a gestora Aberdeen Standard Investments, dona de 0,5% do capital social da estatal, ter enviado carta ao Conselho da estatal.
Declarações de Bolsonaro: ponto de partida
Para Almeida, a ilegaligade no processo de demissão de Roberto Castello Branco está na declaração do presidente Jair Bolsonaro de que a mudança no comando da estatal teve como preocupação o aumento nos preços dos combustíveis.
- A política de preços da Petrobras não deve ser usada como uma política pública. E as declarações de Bolsonaro já demonstram que toda essa mudança foi feita em virtude disso. Isso ficou claro para todos - afirmou ele.
Carlos Lobo, do escritório de advocacia norte-americano Hughes Hubbard & Reed LLP, de Nova York, concorda que a troca do presidente da Petrobras sob intervenção de Bolsonaro configura uso político da estatal.
Ele acredita que isso vai resultar em várias ações coletivas por parte de investidores. Para ele, houve um abuso de poder por parte do governo, que é o acionista controlador da estatal:
-Já vimos esse filme, que levou a empresa a passar por graves dificuldades financeiras. Houve um atropelo na governança da empresa.
Conselheiros 'não são servos' da União
O Conselho de Administração da Petrobras se reúne amanhã para avaliar se convoca ou não uma assembleia geral para eleger um novo conselho e iniciar o processo de entrada do general Joaquim Silva e Luna no comando da companhia no lugar de Castello Branco.
- Se o Conselho de Administração aprovar o pedido da União estará comentendo um ilícito. Isso vale até mesmo para os integrantes do Conselho que foram indicados pela União. Assim que eles aceitaram o cargo, a preocupação deles passou a ser com os interesses da empresa. Eles não são servos do governo. Tem que se preservar o respeito ao Estatuto Social da empresa - explicou Almeida.
'Déjà vu', compara advogado com ação de 2018
O advogado cita diferenças entre a crise atual e a de 2018, quando a ação coletiva foi baseada na revelação do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato.
Na ocasião, a empresa, segundo ele, teria sido conivente com os contratos superfaturados e o esquema de pagamento de propina nas licitações, que resultou na prisão de diretores da estatal e presidentes de construtoras.
Desta vez, a ilegalidade seria conduzir ações que não levam em conta o melhor interesse dos acionistas.
- É um déjà vu - disse ele, que chegou a publicar um livro sobre a ação de 2018 contra a Petrobras que resultou em um acordo em favor dos acionistas representados nos EUA.