Brasil

Após STF formar maioria para liberar compra de vacinas por estados, governadores retomam negociação com fornecedoras

Diante do impasse do Ministério da Saúde para compra da vacina da Pfizer, governo da Bahia tentará negociar com a farmacêutica
Funcionária confere frascos da vacina Pfizer/BioNTech armazenados em freezer de hospital em Coventry, no Reino Unido Foto: Reuters
Funcionária confere frascos da vacina Pfizer/BioNTech armazenados em freezer de hospital em Coventry, no Reino Unido Foto: Reuters

BRASÍLIA— Após o Supremo Tribunal Federal (STF) formar maioria nesta terça-feira para liberar a compra de vacinas por estados e municípios, caso a União descumpra planejamento, governadores retomaram negociações com fornecedoras de imunizantes contra a Covid-19.  Os gestores estaduais comemoraram a possibilidade aberta pelo STF que, segundo eles, pode contribuir para "salvar vidas".

Nesta terça, seis dos 11 ministros do Supremo votaram a favor de permitir a compra e distribuição de vacinas por estados e municípios. A permissão só valerá caso o Plano Nacional de Imunização esteja sendo descumprido pelo governo federal ou a quantidade de doses seja insuficiente. O julgamento ainda está em curso, mas já há maioria pela permissão.

Segundo o governador do Piauí e representante do Fórum de Governadores, Wellington Dias (PT), o grupo vai procurar o Instituto Butantan e a Fiocruz para questionar sobre a possibilidade de aquisição de produção excedente. Outras três vacinas estão no radar dos gestores: a Sputnik V, com a qual alguns estados já têm conversas avançadas; a Covaxin; e a da Pfizer, que recebeu registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta terça.

No caso desta última, a estratégia do Fórum é esperar a aprovação de medidas no Congresso que facilitem a compra do imunizante e, caso o Ministério da Saúde não feche o contrato, negociar com a farmacêutica pela via estadual. Estados como a Bahia, no entanto, não pretendem esperar esse processo e já marcaram reunião com a Pfizer para essa semana. As negociações do governo brasileiro com a Pfizer estão travadas, segundo o Ministério da Saúde, por questões jurídicas.

— Já estamos buscando essas alternativas.  É importante a decisão do STF também para vacinas que já estão autorizadas por uma das agências reguladoras, já estão em uso e com demonstrada eficiência, com prova de imunização oelevada, que a gente tenha o direito de comprar. Claro que o ideal é o ministério comprar, mas na ausência deles... — disse Wellington Dias, exemplificando:

— Antes a gente tinha dificuldade porque eles (farmacêuticas) não tinham cronograma, agora tem o cronograma. Então sei o que exatamente o ministério comprou e está garantido. Por exemplo, se o ministério está dizendo que tem 10 milhões comprados com a Sputnik e se a gente tem a possibilidade de a Sputnik entregar 10 milhões a mais, então isso não é tirando do Plano Nacional de Imunização, é um complemento. A gente se dispõe a trabalhar com a compra e seguindo a regra do PNI.

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Segundo ele, reuniões já estão sendo marcadas ao longo da semana para discutir o tema. Dias afirma que o objetivo é conseguir vacinar 50 milhões de pessoas até abril, mas a dificuldade de aquisição de doses por parte do governo federal não tem facilitado o alcance da meta.

Governador da Bahia, Rui Costa (PT) pretende negociar com a Pfizer ainda nesta semana. Na esteira da indecisão do governo federal em relação à compra do imunizante e com a votação no STF, ele afirma que marcou uma reunião com a farmacêutica para essa semana.

— Eles afirmaram que deram tempo limite até semana que vem para o ministério se posicionar, caso não se posicionassem eles iriam disponibilizar para outros países ou para os estados quantitativo se o ministério não confirmar a compra.

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Costa criticou ainda o governo e a Anvisa pela dificuldade do país em obter doses da vacina.

— Estou comemorando (a posição da maioria do STF). Quero agradecer a todos do Supremo a sensibilidade pelas vidas humanas dos brasileiros . Estão tendo a sensibilidade humana e da saúde que a Anvisa e o governo federal não têm. Assim que concluir o julgamento vamos acelerar as providências para fazer a compra (de vacinas)— disse o governador.

Nesta terça-feira, 17 dias após pedido feito pela Pfizer, a Anvisa concedeu registro definitivo à vacina produzida pela farmacêutica. A medida jogou ainda mais pressão sobre as negociações do Ministério da Saúde com a empresa, que estão travadas. Além da Pfizer, apenas a Fiocruz solicitou registro definitivo para um imunizante. O processo, no entanto, acabou atrasado devido ao entrave na importação de insumos para a produção do imunizante, como O GLOBO mostrou.

Além do registro definitivo, atualmente, duas vacinas podem ser usadas no país, mas de maneira mais restrita, uma vez que têm apenas autorização emergencial: a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, e a vacina de Oxford, desenvolvida pela Astrazeneca e que passará a ser fabricada pela Fiocruz.

Atualmente, processos relacionados à Sputnik V estão paralisados na Anvisa devido à ausência de dados para análise do imunizante. Muitos gestores apostam na Medida Provisória aprovada no Congresso que determina a autorização de uso pela Anvisa, em até cinco dias, de vacinas que tenham recebido aval de determinadas agências no exterior.

Com a confirmação do STF, a regra pode reduzir ainda mais o prazo de apreciação pela Anvisa. A maioria da Corte vota pela liberação do uso de imunizantes autorizados por determinadas agências reguladoras estrangeiras, se a Anvisa não deliberar sobre o tema em 72 horas.

Em relação à Covaxin, a farmacêutica Precisa, responsável pelo imunizante no país, afirmou que deve pedir autorização à Anvisa para o desenvolvimento de estudos no país em breve.