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Rio Grande do Sul vive seu pior momento da pandemia da Covid-19 e está perto de ter colapso na rede de saúde

Média móvel de mortes bate recorde, e 96% dos leitos de UTI estão ocupados na capital, Porto Alegre
Torcedores do Internacional se aglomeram, muitos sem máscara, durante alta dos números da pandemia no Rio Grande do Sul Foto: DIEGO VARA / REUTERS
Torcedores do Internacional se aglomeram, muitos sem máscara, durante alta dos números da pandemia no Rio Grande do Sul Foto: DIEGO VARA / REUTERS

RIO — O Rio Grande do Sul vive o seu pior momento desde o começo da pandemia. Nesta semana, houve uma disparada nas internações na rede pública de saúde do estado em relação à semana anterior: aumento de 72% em leitos clínicos e de 27% nos de UTI.

E, no momento, tanto o estado quanto a capital registram taxas recordes de ocupação de leitos de UTI: Porto Alegre tem hoje 96% de sua rede tomada, enquanto o estado está com 87% dos leitos ocupados. A expectativa é que o número de mortes e casos continue aumentando pós-carnaval.

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Dados do consórcio de veículos de imprensa indicam que, nesta terça, o RS teve média móvel de mortes de 75, a maior desde o começo da pandemia. A média móvel de mortes também registrou um aumento de 53% em relação há duas semanas, indicativo de alta nos óbitos.

De ontem para hoje, em menos de 24 horas, foram ocupados 69 leitos de UTI e 211 leitos clínicos, segundo o Boletim de Hospitalizações do Rio Grande do Sul.

— Nunca tinha acontecido isso, o aumento máximo era 64. A velocidade é muito impressionante. Estamos vivendo a fase mais crítica desde o começo da pandemia, nunca estivemos nessa situação. Estamos muito próximos de um esgotamento — afirma a epidemiologista e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Lucia Pellanda.

Os hospitais estão tão saturados que há Unidades de Pronto Atendimento (UPA) que estão atuando 300% acima da capacidade de atendimento em Porto Alegre e até chegam a abrigar pacientes entubados.

Segundo Pellanda, o número de leitos dobrou no RS ao longo de 2020. A estratégia do estado foi, em vez de abrir hospitais de campanha, aproveitar espaços como hospitais desativados. No entanto, o problema hoje é a escassez de equipes de atendimento.

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O infectologista Alexandre Zavascki, do Hospital de Clínicas e chefe de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, alerta que o aumento ainda não comporta as festas de carnaval e, por isso, deve ser ainda maior em alguns dias.

— Algumas UPAs tiveram que fechar por estar com lotação três vezes maior de pacientes graves, esperando por hospitais. Só não estamos chamando de colapso porque as pessoas ainda não estão morrendo em casa. Mas o carnaval aconteceu quando os casos já estavam subindo. A mortalidade, a partir da próxima semana, vai aumentar muito e, daqui a duas semanas, mais ainda. É inevitável um aumento muito importante de mortes — diz o infectologista.

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De acordo com os especialistas, há duas causas principais para o crescimento no número de casos no estado: o descaso com as medidas sanitárias por parte da população e a possível entrada da variante do Amazonas — no início de fevereiro, um morador de Gramado, que morreu por complicações da doença, foi detectado com a variante na cidade gaúcha, sem que tivesse estado com algum viajante.

— Há uma conjunção de fatores: a possível introdução de variante mais transmissível e potencialmente mais patogênica, e a variável comportamental das pessoas, que estavam tendo vida normal, muitas sem máscara, em aglomerações e festas, sem que haja fiscalização do poder público — diz Zavascki.

Ações

Na sexta-feira passada, a bandeira preta, indicando a fase mais crítica da pandemia, chegou a ser definida, mas o governador Eduardo Leite deixou que os municípios definissem as medidas de isolamento e, segundo Zavascki, pouco mudou. Ontem, o governo gaúcho decretou que todas as atividades não essenciais devem ser interrompidas às 20h, incluindo bares e restaurantes. Cirurgias eletivas foram canceladas e equipes devem ser realocadas.

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Hoje o governador sancionou projeto que permite ao estado comprar vacinas contra a Covid-19. Além de tratativas com a União Química, que fabrica a Sputnik V, Leite disse que negocia com a Pfizer, que teve sua vacina aprovada para uso definitivo na terça-feira pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).