Política
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Por Cristiane Agostine e Carolina Freitas, Valor — São Bernardo do Campo


Em seu primeiro pronunciamento depois da decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular suas condenações nos processos relativos à Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez fortes críticas ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-juiz Sergio Moro, atacou a política econômica do atual governo e adotou um discurso de campanha, embora não tenha confirmado se se será novamente candidato nas eleições de 2022.

Em discurso e entrevista coletiva nesta quarta-feira, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), Lula evitou até mesmo cravar que o candidato da esquerda será do PT. Para o líder petista, não é o momento de fazer essas definições.

“Em 2022, o partido vai pensar no momento das convenções; discutir se vai ter candidato, se vai de frente ampla.” Para ele, uma "frente ampla" não significa a junção apenas de partidos e lideranças de esquerda, mas sim de forças de centro e conservadoras.

"Você pode construir um programa que envolva setores conservadores, por exemplo a questão da vacina, do salário emergencial. Se você colocar na frente a discussão eleitoral, você trunca qualquer evolução. Mas se você colocar os problemas do povo brasileiro na conversa com os setores conservadores, você pode produzir efeitos extraordinários", afirmou o petista.

 — Foto: Andre Penner/AP
— Foto: Andre Penner/AP

Economia

Ao falar sobre economia, o ex-presidente criticou o apetite por privatizações e disse que a situação econômica do Brasil hoje é tão complicada que o capital privado não quer investir aqui.

"Vocês nunca ouviram da minha boca falar em privatização. Quem acha que só a iniciativa privada é boa?", questionou Lula. "O que vai fazer nossa dívida diminuir é o investimento público. Quando venderem [as empresas públicas] e gastarem todo dinheiro em custeio, o país vai ficar mais pobre. Se o Estado não investe, por que o empresário vai investir?"

O ex-presidente citou como exemplo que a indústria automobilística "é a metade do que era em 2008". "Se não tem emprego, não tem demanda", disse.

Lula relembrou os tempos da descoberta do pré-sal, disse que o Brasil produz combustível com a qualidade da União Europeia e que não faz sentido seguir o preço internacional do petróleo. "Teve golpe contra Dilma [a ex-presidente Dilma Rousseff] porque queriam que o petróleo não ficasse nas mãos dos brasileiros, mas dos americanos."

O ex-presidente cobrou ainda a retomada do auxílio-emergencial, para desempregados, informais e pobres durante a pandemia. "O Estado só pode deixar o auxílio emergencial quando tiver emprego, renda. Tem que ter salário emergencial para as pessoas não morrerem de fome", disse.

Lula criticou Bolsonaro por não dialogar com setores da sociedade, como os sindicalistas e empresários. "Me parece que Bolsonaro só fala com o 'louro' da Havan", afirmou em referência ao empresário Luciano Hang. "No meu mandato, fiz 74 conferências para ouvir a sociedade; Bolsonaro não ouve ninguém."

"O povo não precisa de armas, precisa de salário, livro, educação; é possível governar diferente. O Brasil não é dele [Bolsonaro] nem dos milicianos", disse o petista. "O país chegou a 6ª economia do mundo, era altamente respeitado; o país tinha um projeto de nação. O que tem hoje?", acrescentou.

Lula disse que é necessário conversar com empresários e investidores para entender como eles chegaram à conclusão de que o presidente Jair Bolsonaro era a melhor alternativa para a economia do Brasil. O petista fez um apelo para que esses setores e a classe média não tenham "medo" dele. Para Lula, Bolsonaro “só se preocupa em vender armas e em defender milicianos”.

"Não tenham medo de mim; eu sou radical porque quero ir à raiz do problema, quero construir um mundo justo."

Pandemia

Lula começou os ataques a Bolsonaro pela condução do combate à pandemia, dizendo que muitas mortes no Brasil poderiam ter sido evitadas se o governo tivesse uma atitude diferente diante da doença. "Teve momento em que teve vacina e o Brasil não aceitou porque o presidente inventou cloroquina, que a covid era uma gripezinha", disse Lula. "Este país está totalmente desordenado e desagregado porque não tem governo. Esse país não cuida da educação, da periferia; ou seja, do que eles cuidam?"

Lula elogiou o trabalho dos governadores, uma "luta titânica contra um governo incompetente", para conseguir liberar vacinas para a população e que planeja, na próxima semana, se vacinar. O ex-presidente tem 75 anos e por isso está entre os grupos prioritários para imunização. Lula disse que vai fazer propaganda para a população para que siga recomendações científicas de prevenção ao coronavírus. "Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde; tome vacina. Vacina é uma das coisas que pode livrar você da covid; mas é preciso continuar o isolamento e utilizando máscara."

O petista citou o recorde de quase 2 mil mortes por dia batido ontem pelo Brasil e disse que as mortes estão sendo naturalizadas. "Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se o governo tivesse feito o elementar. A arte de governar não é fácil, é a arte de tomar decisão. Se o presidente respeitasse o povo, teria criado um comitê de crise em março de 2020."

Para Lula, Bolsonaro "não sabe o que é ser presidente" por que "nunca foi nada". "O poder da força do fanatismo e das ‘fake news’ fez com que o povo elegesse Trump e Bolsonaro", disse o ex-presidente. Ele exaltou ainda o papel das igrejas para orientar as pessoas no combate ao coronavírus, ao invés de "fazer culto cheio de gente sem máscara".

 — Foto: Silvia Zamboni/Valor
— Foto: Silvia Zamboni/Valor

“Deus de barro”

Lula disse ter razões para estar profundamente magoado, mas afirmou que não está. O ex-presidente disse que é “vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história”.

“Se tem um cidadão que tem razão para estar magoado pelas chibatadas, sou eu. Não estou”, disse. “Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas, sou eu, mas não tenho”, repetiu o petista.

"Sou agradecido ao ministro Fachin porque ele cumpriu algo que reivindicávamos desde 2016", disse, em São Bernardo do Campo (SP), na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. "Eles tinham uma obsessão de tentar me criminalizar; queriam criar um partido político." Durante o discurso, Lula disse ainda que "não há espaço para ficar remoendo raiva ou ódio" e que está "muito de bem com a vida" porque "a Lava-Jato desapareceu" da vida dele.

O ex-presidente disse que vai seguir brigando na Justiça para que Sergio Moro seja considerado suspeito nos casos da Lava-Jato que julgou. "Moro deve estar sofrendo hoje muito mais do que eu sofri. Dallagnol [Deltan Dallagnol, ex-chefe da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba] deve estar sofrendo mais do que eu."

Lula chamou Moro de "Deus de barro", que "não dura muito tempo". "Eu sei que não tinha cometido erro; [eles] nunca apresentaram provas sobre o triplex", disse o ex-presidente. O petista exaltou a importância do Ministério Público. "O procurador precisa ser muito sério e honesto; não pode divulgar o nome das pessoas antes de ter prova."

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