Por Lucas Salomão, G1 — Brasília


Em acordo costurado nesta quarta-feira (1º), o PT se comprometeu a apoiar os candidatos do PSB aos governos de Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco em troca da neutralidade dos socialistas na eleição presidencial.

Ao decidir pelo apoio aos candidatos aos governos desses estados, o PT conseguiu que, em troca, o PSB não apoie nenhum candidato na disputa pelo Palácio do Planalto – posição que o próprio presidente do PSB, Carlos Siqueira, rejeitava há duas semanas.

Nos últimos meses, a campanha do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, vinha tentando atrair o apoio do PSB para formalizar uma chapa entre os dois partidos, na qual o PSB indicaria o candidato a vice.

Nas palavras de um dirigente do PSB que participou das negociações, o PT buscou o apoio do PSB porque sabia que, com um pacto de não agressão entre as duas siglas, a campanha de Ciro seria "desidratada" e o candidato do PDT ficaria isolado na corrida ao Palácio do Planalto.

Ao optar pela neutralidade, o PSB deixa de colaborar com tempo de TV e com recursos do fundo partidário para a campanha de Ciro Gomes.

De acordo com levantamento do Banco BTG Pactual, por dia, o PSB tem direito a 3 minutos e 50 segundos de propaganda na TV durante a campanha presidencial. Já o PDT de Ciro Gomes tem direito a 2 minutos e 20 segundos.

Ciro Gomes durante encontro da CNI com pré-candidatos a presidente — Foto: André Carvalho/CNI

Candidatura de Lula

Parte do acordo foi anunciada com a divulgação de uma resolução da Comissão Executiva Nacional do PT na tarde desta quarta.

De acordo com o partido, ao decidir pelo apoio às candidaturas estaduais do PSB em Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco, além do apoio à candidatura do PCdoB no Maranhão, o PT quer criar as condições para "ampliar nacionalmente o apoio à candidatura" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pré-candidato do PT à Presidência, Lula está preso desde abril, depois de ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). Ele se diz inocente.

Embora Lula esteja preso e possa ser impedido pela Justiça de disputar a eleição, a cúpula do PT mantém a estratégia de oficializar a candidatura do ex-presidente e de afirmar que não há “plano B” para o partido nas eleições de outubro.

"O Partido dos Trabalhadores, por meio de resolução do Diretório Nacional de dezembro de 2017, decidiu conferir prioridade absoluta à candidatura do companheiro Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República", diz o PT na resolução.

"Nessa perspectiva, o PT decide incorporar-se às campanhas em que esses aliados históricos disputam governos estaduais, criando as condições para ampliar nacionalmente o apoio à candidatura Lula", complementa o partido.

Com o apoio às candidaturas do PSB nos quatro estados, o PT deverá retirar a pré-candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo de Pernambuco. Ela contesta a informação (veja no vídeo abaixo). Com isso, o PT apoiaria o governador Paulo Câmara, candidato do PSB à reeleição.

O principal empecilho para que o apoio fosse selado está justamente na disputa pelo governo de Pernambuco, onde há resistência de Paulo Câmara à união nacional entre PDT e PSB.

A posição de neutralidade do PSB deverá ser confirmada em convenção nacional marcada para o próximo domingo (5).

Resolução do PT

Leia a íntegra da resolução divulgada pela direção do PT:

RESOLUÇÃO SOBRE TÁTICA ELEITORAL

O Partido dos Trabalhadores, por meio de resolução do Diretório Nacional de dezembro de 2017, decidiu conferir prioridade absoluta à candidatura do companheiro Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.

A primazia do projeto nacional nas eleições de 2018 foi reiterada em sucessivas resoluções do Diretório Nacional e da Comissão Executiva Nacional, orientando e vinculando a este projeto as alianças nos estados.

Com o objetivo de fortalecer a unidade do campo popular em torno da candidatura Lula, e na perspectiva de construir as condições políticas para que uma aliança progressista governe o país a partir de janeiro de 2019, a direção do PT desenvolveu intenso diálogo com outros partidos, prioritariamente PSB e PCdoB, com os quais temos vínculos históricos.

PSB e PCdoB estão entre os cinco partidos que assinaram conosco, por meio das fundações partidárias, o manifesto programático Unidade para Reconstruir o Brasil. Nestas eleições, já estamos juntos na Bahia, Acre, Ceará e Maranhão, e trabalhando para constituir alianças no maior número possível de estados.

O PT entende que a unidade do campo popular é necessária para superarmos a profunda crise do país, reverter a agenda do golpe e retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão, onde o povo e os trabalhadores voltem a ser o centro das ações de governo.

Nessa perspectiva, o PT decide incorporar-se às campanhas em que esses aliados históricos disputam governos estaduais, criando as condições para ampliar nacionalmente o apoio à candidatura Lula.

Diante disso, a Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, com base no Artigo 159 do Estatuto do PT e cumprindo as resoluções do Diretório Nacional sobre a candidatura do companheiro Lula à Presidência da República, resolve, como diretriz estabelecida por esta instância:

1) Apoiar, nos estados do Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco, os candidatos a governador do PSB, assim como já apoiamos a candidatura do PCdoB no Maranhão;

2) Formalizar este apoio por meio da integração do PT às respectivas coligações majoritárias;

3) Formalizar o convite ao PROS para integrar a coligação nacional em torno da candidatura Lula.

Brasília, 1º de agosto de 2018

Comissão Executiva Nacional do PT

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