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Rio

Com recorde de pedidos de UTI, especialista avalia que medidas de restrição no Rio 'são receitas para um desastre'

Neste fim de semana o estado bateu o recorde por dois dias seguidos de solicitação para internar pacientes graves com Covid-19
Passageiros aglomerados e muitos sem máscara na Estação do Mato Alto Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Passageiros aglomerados e muitos sem máscara na Estação do Mato Alto Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — Enquanto se discute o rigor que deve ser aplicado às medidas de restrição para o combate efetivo ao coronavírus, o Estado do Rio bateu, no domingo, o recorde de pedidos de internação em UTIs da pandemia . Especialistas ouvidos pelo GLOBO alertam para um cenário preocupante para os próximos dias no Rio. O médico Mario Roberto Dal Poz, professor do Instituto de Medicina Social da Uerj, avalia que as medidas tomadas pela capital e pelo governo do estado para tentar frear o avanço da Covid-19 não foram suficientes, como o escalonamento dos horários de funcionamento dos setores da economia.

— Não faz sentido voltar a liberar ambulantes e quiosques na praia. Acabei de pedalar perto da praia e estava lotada. O BRT também vimos que hoje estava novamente lotado. As medidas hoje são receitas para um desastre. Uma hora se decide algo, e logo depois se muda — criticou.

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Para o especialista, o número de internações de caso grave tende a aumentar:

— Quanto mais doentes, mais graves teremos e uma maior rede de saúde precisamos. É uma bola de neve. E da maneira descoordenada que nós estamos, o que vemos são esforços independentes.

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Ao mesmo tempo, continuam sendo feitos esforços para a abertura de novos leitos. Segundo a prefeitura do Rio, no fim de semana, foram abertos mais 10 leitos de UTI no Centro de Emergência Regional (CER) da Barra da Tijuca.Ao todo, a Rede SUS do Estado tem 4.111 leitos, entre enfermarias e UTIs.

Recorde de pedidos por UTI

Desde a chegada da Covid-19 em território fluminense — inclusive no pico da doença no ano passado —, nunca se havia alcançado 176 solicitações de vagas para terapia intensiva. Dados da Secretaria estadual de Saúde mostram que o número mais alto até agora tinha sido 165 em 8 de maio do ano passado .

Ao se olhar a curva do gráfico de pedidos de internações, é possível perceber o surgimento de um terceiro pico. Os anteriores foram em maio e dezembro do ano passado.


Atualmente, a taxa de ocupação de leitos de UT I no estado é de 78,8%. Na cidade do Rio, é de 91%. Ao todo, na rede SUS do estado, 232 pessoas aguardam transferência para um leito de Covid-19, sendo 171 pacientes graves que precisam de terapia intensiva. Apesar do quadro crítico, a Secretaria estadual de Saúde, por nota, negou que o sistema esteja em colapso no Rio. Segundo a pasta, “o colapso ocorre quando a capacidade de atendimento da rede é extrapolada. E este não é o atual cenário da pandemia no estado”. Ainda de acordo com o governo estadual, mesmo com municípios chegando a 100% dos leitos de UTI ocupados, pacientes podem ser transferidos para outras cidades ou até estados: “Em fevereiro, a rede SUS do Rio de Janeiro recebeu 79 pacientes de Manaus e Rondônia”, observou outro trecho da nota.

Capital volta a ter fila por leitos

Na cidade do Rio, 73 pessoas aguardam em UPAs e emergências por uma vaga de internação. Desse total, segundo a Secretaria municipal de Saúde, 13 pacientes esperam por um leito de Covid-19 há mais de 24h. A SMS informou que, apesar da espera, “estão em leitos e recebendo todos os cuidados indicados, até que a transferência seja realizada”. Há dois critérios para se avaliar a gravidade da pressão da pandemia sobre a rede de saúde pública: um é se a demanda de doentes é maior do que o total de leitos, e o outro consiste, justamente, se há pessoas esperando por atendimento há mais de 24h.

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Apesar da situação preocupante, no fim de semana, as praias ficaram lotadas, com a liberação de ambulantes e do aluguel de barracas. Questionado sobre o descumprimento da regra de distanciamento social pela população, em entrevista ao “Bom Dia Rio” da TV Globo, o secretário municipal de Ordem Pública, Brenno Carnevalle, disse que as “medidas podem ser mais restritivas de acordo com o cenário que se vislumbre do ponto de vista sanitário”.

— Essa é uma decisão técnica, científica. Eu repito: é uma decisão que cabe principalmente à Secretaria de Saúde. Obviamente a Secretaria de Ordem Pública é ouvida nessas decisões. Nós fizemos apreensões de materiais irregulares, a partir das 17h. A gente volta a pedir a colaboração dessas pessoas no sentido de cumprirem as regras. Não havendo esse cumprimento, nós faremos um balanço deste fim de semana, não há problema algum em essa medida ser revista. O prefeito já deixou isso claro — afirmou, acrescentando que, depois da edição decreto com as novas regras sanitárias na última sexta-feira, a pasta, responsável pela fiscalização, já fez mais de duas mil ações. De acordo com a Seop, foram 2.303 iniciativas, de multas a estabelecimentos — 125 foram fechados e 57 multas plicadas — a infrações por falta de uso de máscara ou por aglomerações.