Política Jair Bolsonaro

Flávio Bolsonaro compra mansão de R$ 6 milhões em bairro de luxo de Brasília

Imóvel tem 2.400 m² e foi comprado em janeiro, de acordo com registro em cartório
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) 17/12/2020 Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) 17/12/2020 Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, comprou no início do ano uma mansão no valor de R$ 6 milhões no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Flávio é investigado pela suposta existência de um esquema de desvios de recursos dos salários de seus assessores quando era deputado estadual da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e, na investigação, é suspeito de realizar a lavagem de dinheiro por meio da venda e compra de imóveis.

Vídeo: Conheça o imóvel comprado por Flávio abaixo

A compra da casa foi revelada nesta segunda-feira pelo site "O Antagonista". O GLOBO também teve acesso ao registro do negócio em cartório, cujo valor da compra foi de R$ 5,97 milhões. O documento informa que o imóvel tem 2.400 m², fica localizado em uma área batizada de "Setor de Mansões Dom Bosco" e teve a aquisição registrada no dia 29 de janeiro. Constam como compradores Flávio e sua esposa, Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, com quem é casado sob comunhão parcial de bens. A vendedora é a RVA Construções e Incorporações.

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A certidão do imóvel registra que, do total do imóvel, houve a contratação de um financiamento junto ao Banco de Brasília (BRB) para o pagamento de R$ 3,1 milhões. Serão 360 prestações mensais, com taxas de juros entre 3,65% e 4,85%. Flávio ganha salário de R$ 33 mil mensais como senador.

O valor do imóvel é quase quatro vezes o patrimônio declarado por ele nas eleições de 2018. Naquele ano, ele de informou possuir bens no valor total de R$ 1,7 milhão, incluindo dois imóveis e participações em uma loja de chocolates — recentemente, Flávio vendeu a participação na loja. Nesta terça-feira, o senador foi às redes sociais para explicar que usou recursos da venda de imóvel e de loja de chocolates no Rio para comprar a casa em Brasília.

. Foto: Editoria de Arte
. Foto: Editoria de Arte

Na semana passada, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou as quebras do sigilo bancário e fiscal da investigação da rachadinha, acolhendo um recurso da defesa do senador. Com isso, as principais provas da denúncia apresentada no fim do ano contra Flávio pelo Ministério Público do Rio de Janeiro devem ser descartadas.

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A denúncia apontava que 12 funcionários fantasmas lotados no gabinete de Flávio na Alerj teriam desviado R$ 6,1 milhões dos cofres públicos.

Em nota, a assessoria do senador afirma que  a casa adquirida  por Flávio Bolsonaro em Brasília está registrada em escritura pública e foi comprada "com recursos próprios, em especial oriundos da venda seu imóvel no Rio de Janeiro" e que  "mais da metade do valor da operação ocorreu por intermédio de financiamento imobiliário".

Questionado sobre as taxas de juros, o BRB afirmou que não comenta casos específicos em respeito ao sigilo bancário, mas que oferece financiamento imobiliário com taxas a partir de 3,4% ao ano mais IPCA, com a possibilidade de financiar até 80% do valor total do imóvel.

Histórico de transações

A compra e venda de imóveis pelo senador está no centro da investigação sobre o suposto esquema de rachadinha em seu gabinete. Na denúncia apresentada em outubro do ano passado, o Ministério Público do Rio apontou que ao menos R$ 892,6 mil em espécie oriundos do esquema teriam sido usados para negócios imobiliários do parlamentar.

Entrada do condomínio onde o senador comprou a casa, no Lago Sul, em Brasília Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Entrada do condomínio onde o senador comprou a casa, no Lago Sul, em Brasília Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

Um dos casos envolve dois apartamentos comprados em Copacabana, Zona Sul do Rio, em 2012. Na ocasião, o casal Flávio e Fernanda Bolsonaro declarou em cartório ter pago R$ 310 mil nos imóveis, mas o procurador dos proprietários, Glenn Dillard, depositou no mesmo dia da venda outros R$ 638,4 mil em dinheiro vivo na própria conta.

Flávio admitiu ainda, em depoimento aos promotores, que pagou R$ 86,7 mil com dinheiro em espécie, para duas construtoras durante a aquisição de 12 salas comerciais na Barra da Tijuca, em 2008. Flávio comprou também outro apartamento em 2014, no mesmo bairro, e pagou R$ 30 mil em espécie por móveis que estavam dentro da unidade. Ao MP, Flávio afirmou que “tinha uma coisinha guardada em casa” e preferiu “fazer desse jeito” — sem transação bancária.

Outro caso envolve um apartamento em Laranjeiras, comprado em 2011. O imóvel teve a primeira parcela paga uma semana após Fabrício Queiroz ter depositado R$ 25 mil em espécie na conta de Fernanda Bolsonaro, responsável pela quitação. Ainda na aquisição desse imóvel, o policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio admitiu ter pago uma prestação de R$ 16,5 mil para quitar a compra feita pelo parlamentar. A transação foi apontada como a justificativa do senador para os 48 depósitos de R$ 2 mil cada considerados suspeitos pelo Coaf feitos cinco anos após a compra do imóvel, em 2017.

Na eleição de 2018, Flávio Bolsonaro declarou R$ 1,741 milhão em bens, entre eles um apartamento na Barra da Tijuca, no valor de R$ 917 mil, e salas comerciais no mesmo bairro no valor de R$ 150 mil. (Colaborou Marlen Couto)