Blog do Camarotti

Por Gerson Camarotti e Guilherme Mazui


Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro ouvidos pelo blog avaliam que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tenta se vitimizar e encontrar uma saída honrosa perante a ala ideológica da base do governo ao tentar associar a pressão por sua demissão a um lobby em relação ao 5G.

Aliados do governo entendem que a publicação do chanceler em uma rede social neste domingo (28), na qual citou a senadora Kátia Abreu (PP-TO), na prática foi um reconhecimento de que sua situação ficou insustentável. A senadora pediu a saída do chanceler "marginal" e recebeu apoio de colegas.

Ernesto Araújo diz que senadora Kátia Abreu sugeriu gesto por 5G

Ernesto Araújo diz que senadora Kátia Abreu sugeriu gesto por 5G

O ministro, assim, busca uma forma de diminuir o desgaste de imagem diante de cobranças pela política externa inoperante, que atrapalhou o combate à pandemia e dificultou a chegada ao Brasil de vacinas e insumos.

Diante da perda de apoio no Congresso, que pede a demissão do chanceler, interlocutores de Bolsonaro afirmam que Araújo tenta criar uma narrativa que vincula sua provável saída a um lobby a favor da China na tecnologia 5G, cujo leilão de frequências pode ser realizado neste ano.

Aliados do governo viram no gesto um movimento desesperado do chanceler. Caso o contrário, Araújo não teria feito ataques a Kátia Abreu, presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado. A estratégia de Araújo foi comparada ao modelo adotado pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.

Em junho do ano passado, após a divulgação do vídeo da reunião ministerial na qual chamou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de "vagabundos", Weintraub participou de um ato de apoiadores de Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios. Na ocasião, usou o mesmo termo da reunião.

"Eu já falei a minha opinião, o que eu faria com vagabundo", disse, sem deixar claro a quem se referia.

Ernesto Araújo — Foto: Reprodução

À época, a atitude reforçou a pressão pela queda de Weintraub, que deixou o governo ainda em junho com discurso de vítima diante da ala ideológica do governo e dos apoiadores extremistas de Bolsonaro. Segundo aliados do presidente, Ernesto segue o mesmo roteiro.

"Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: “Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.” Não fiz gesto algum. Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria", publicou o chanceler em uma rede social.

Kátia Abreu divulgou uma nota para responder Araújo. Ela disse que se trata de "uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade".

"Se um chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira.Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal", disse a senadora.

Segundo Kátia, ela defendeu que licitações não "podem comportar vetos ou restrições políticas" e que, no caso do leilão do 5G, "devem prevalecer os critérios de preço e qualidade". A senadora ainda disse ter alertado sobre o prejuízo que um veto à China no 5G poderia ter nas exportações brasileiras, em especial ao agronegócio.

Aumenta a pressão pela demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo

Aumenta a pressão pela demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo

Kátia recebeu o apoio de parlamentares, entre os quais, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas, um dos principais partidos do Centrão, que atualmente está na base de Bolsonaro.

"No momento em que há um grande esforço para a pacificação e o entendimento, lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso", publicou Nogueira em uma rede social.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) cobrou a demissão do chanceler ao escrever em uma rede social que "Ernesto e democracia não andam juntos". "Não há opção. Democracia fica. Ernesto tem de sair", publicou a parlamentar.

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