Pesquisa do Datafolha aponta que 50% da população não quer que o Congresso abra um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro (sem partido), enquanto 46% se dizem favoráveis à medida em meio à deterioração da pandemia no país.
O instituto ouviu 2.023 pessoas em 15 e 16 de março, por telefone. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou menos.
A piora da crise sanitária, com seus efeitos econômicos, afetou diretamente a popularidade de Bolsonaro desde o começo deste ano.
Segundo o Datafolha, tanto a rejeição ao presidente no geral quanto no seu manejo da pandemia estão em níveis recordes: 44% e 54%, respectivamente.
Pesam contra ele a demora no processo de vacinação e na retomada de algum tipo de auxílio emergencial, além da escalada de casos e falta de leitos para tratar doentes com Covid-19 no país.
A piora se refletiu em oscilações registradas nos índices de quem quer o impedimento do presidente. Na rodada anterior da pesquisa, em 20 e 21 de janeiro, 42% queriam o impeachment e 53%, não. No caso do apoio à medida, a mudança ocorreu no limite da margem de erro.
As taxas agora são semelhantes àquelas registradas quando o Datafolha perguntou se o entrevistado gostaria que Bolsonaro renunciasse: 50% disseram não e 47%, sim. Aqui, houve menor variação ante a rodada anterior, quando os índices eram de 51% e 45%, de forma respectiva.
O impeachment vem sendo trombeteado por setores da oposição, mas por ora não há condições políticas objetivas para sua realização.
Bolsonaro apoiou os dois vencedores das eleições para a chefia do Congresso. Para qualquer pedido de impeachment ser analisado no Parlamento, é preciso que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o aceite.
Lira faz parte do centrão, grupo que tem ampliado seu espaço no governo com cargos e verbas, mas que não ficou satisfeito com a nova mudança de ministro da Saúde.
O presidente da Câmara inclusive havia apoiado o nome da médica Ludhmila Hajjar, que foi descartado pelo presidente em favor do também cardiologista Marcelo Queiroga, de coloração mais bolsonarista.
O general Eduardo Pazuello, à frente da gestão desaprovada por 39% dos brasileiros na pasta, voltará para o Exército.
Além disso, a receita aplicada nos dois impeachments desde a redemocratização inclui uma perda acentuada de apoio popular e político, crise econômica e gente na rua, além de fatos determinados.
Bolsonaro segue com 30% de apoio a seu governo, a pandemia coíbe aglomerações e a economia ainda respira, apesar de sinais preocupantes. Isso não tem impedido, de toda forma, que o tema seja discutido mesmo entre aliados do presidente.
O tese do impeachment tem maior apoio entre mulheres (58%), quem ganha entre 5 e 10 salários mínimos (57%), de 2 a 5 salários (56%) e nordestinos (56%).
A maior rejeição à ideia vem do bastião bolsonarista do Sul (59% contra o impeachment) e de evangélicos (59%).
Já a renúncia é defendida mais igualmente por nordestinos (53%) e mulheres (52%), encontrando apoio maior entre negros (55%) e igualmente entre pessoas mais ricas e instruídas (51% nos dois grupos).
Evangélicos (59%) e sulistas (57%) repetem a avaliação contrária ao pedido de renúncia.
Bolsonaro já deixou claro que só Deus o tira do poder e que seus adeptos podem contar com as forças armadas. Foi um recado dado hoje no Palácio do planalto. Em suma, ele nem renúncia nem crê que pode ser alvo se impeachment (ele tem pleno apoio do presidente da Câmara, que não permite iniciar a tramitação de seu impedimento). Mesmo em meio ao desastre de seu governo, creio que o momento pode ser de renúncia, mas não de impeachment pois este tiraria o foco do país e do congresso da pandemia.