• Época NEGÓCIOS
Atualizado em
Prédio do Google em Irvine, Estados Unidos  (Foto: Mike Blake/Reuters)

 (Foto: Mike Blake/Reuters)

Tanto o iPhone quanto os aparelhos com sistema operacional Android enviam continuamente dados de seus usuários, incluindo localização, número de telefone e detalhes da rede local, para a Apple e o Google, respectivamente. Mas até agora não se sabia o quanto essas empresas coletavam de informações. 

Uma pesquisa realizada por Douglas Leith, do Trinity College da Irlanda, trouxe luz ao tema. Ao fazer uma comparação entre os dois sistemas, ele constatou que, embora ambos reúnam dados o tempo todo - mesmo quando estão inativos, recém-saídos da caixa ou depois que os clientes optam por sair deles -, o do Google coleta cerca de 20 vezes mais informações do que o concorrente.

Segundo o portal Ars Technica, o pesquisador informou que o iPhone e o Android transmitem dados de telemetria para suas naves-mãe inclusive se o usuário não se logou ou configurou explicitamente as configurações de privacidade para cancelar tal coleta. Ambos os sistemas operacionais também enviam dados para a Apple e o Google quando a pessoa realiza atividades simples, como inserir um cartão SIM ou navegar na tela de configurações do aparelho. Mesmo quando ocioso, cada dispositivo se conecta ao servidor back-end em média a cada 4,5 minutos.

E não são apenas os sistemas operacionais que enviam dados para as empresas. Aplicativos ou serviços pré-instalados também estabelecem conexões de rede, até se não estão abertos ou sendo utilizados. Pela pesquisa, enquanto o iOS enviava dados automaticamente para a Apple do Siri, Safari e iCloud, o Android coletava dados do Chrome, YouTube, Google Docs, Safetyhub, Google Messenger, o relógio do dispositivo e a barra de pesquisa do Google.

O Android se destaca, disse Leith, na quantidade de dados que coleta. Na inicialização, um dispositivo com esse sistema envia ao Google cerca de 1 MB de dados. Já o iOS, envia à Apple cerca de 42 KB. Quando ocioso, o Android transfere o mesmo volume a cada 12 horas, e, o concorrente, cerca de 52 KB no mesmo período. Só nos Estados Unidos, o Android reúne coletivamente cerca de 1,3 TB de dados a cada 12 horas, enquanto o iOS cerca de 5,8 GB.

Google discorda

O Ars Technica relatou que o Google contestou as descobertas, dizendo que elas se baseiam em métodos falhos para medir os dados coletados por cada sistema operacional. A empresa também afirmou que a coleta de dados é uma função central de qualquer dispositivo conectado à Internet.

"Identificamos falhas na metodologia do pesquisador para medir o volume de dados e discordamos das afirmações do jornal de que um dispositivo Android compartilha 20 vezes mais dados do que um iPhone. De acordo com nossa pesquisa, essas descobertas estão erradas por uma ordem de magnitude, e compartilhamos nossas preocupações metodológicas com o pesquisador antes da publicação", declarou a companhia. 

E acrescentou: "Esta pesquisa descreve amplamente como os smartphones funcionam. Os carros modernos enviam regularmente dados básicos sobre os componentes do veículo, seu status de segurança e horários de serviço para os fabricantes de automóveis, e os telefones celulares funcionam de maneiras muito semelhantes. Este relatório detalha essas comunicações, o que ajuda a garantir que o software iOS ou Android esteja atualizado, os serviços funcionem conforme o esperado e que o telefone esteja seguro e funcionando com eficiência".

Um porta-voz do Google, que não permitiu a sua identificação, afirmou ainda ao Ars que é impreciso dizer que um usuário pode optar por sair de toda a coleta de dados de telemetria pelo sistema operacional da gigante da tecnologia. A caixa de seleção Android Usage and Diagnostics não cobre os dados de telemetria que a empresa considera essenciais para o dispositivo funcionar normalmente. As informações de telemetria coletadas pelo serviço de configuração de dispositivos, por exemplo, são necessárias para atualizar e corrigir o sistema operacional.

O representante também questionou os métodos que o pesquisador utilizou para medir a quantidade de dados coletados pelo IOS. A configuração experimental que ele usou não capturou determinados tipos de informações, como tráfego UDP / QUIC, que normalmente é transmitido por smartphones.

Também sob a condição de anonimato, um funcionário da Apple disse que a empresa fornece transparência e controle para as informações pessoais que recolhe e proteções de privacidade que a impedem de rastrear a localização do usuário -- e também que informa aos usuários sobre a coleta de dados relacionados à localização.

Leith realizou suas medições com um Google Pixel 2 rodando Android 10 e um iPhone 8 rodando iOS 13.6.1. O iPhone foi desbloqueado usando o exploit Checm8. O Pixel tinha o Google Play Services habilitado.

Ao todo, o estudo mediu a quantidade de dados que os dispositivos coletaram na seguintes situações: na primeira inicialização após uma redefinição de fábrica, quando um SIM foi inserido ou removido, no período em que o aparelho estava ocioso, na vizualização da tela de configurações, na habilitação ou desabilitação da localização e no login na app store pré-instalada.

O pesquisador pontuou que a coleta de informações por ambos os sistemas operacionais é preocupante porque está prontamente ligada ao nome do usuário, endereço de e-mail, dados do cartão de pagamento e, possivelmente, a outros dispositivos que ele possui. Além disso, as conexões constantes com servidores back-end revelam necessariamente o endereço IP do dispositivo e, por extensão, a localização geográfica geral do usuário.

“Atualmente, existem poucas opções realistas, se houver alguma, para evitar esse compartilhamento de dados”, afirmou.

Quer conferir os conteúdos exclusivos de Época NEGÓCIOS? Tenha acesso à versão digital.

Quer receber as notícias de Época NEGÓCIOS pelo WhatsApp? Clique neste link, cadastre o número na lista de contatos e nos mande uma mensagem. Para cancelar, basta pedir. Ou, se preferir, receba pelo Telegram. É só clicar neste link.