Política

Bolsonaro demite ministro da Defesa e inicia reforma ministerial

Em nota, Fernando Azevedo e Silva disse que 'sai na certeza da missão cumprida'; ele não explicou o motivo de sua saída
Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo Foto: Marcos Corrêa/PR
Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo Foto: Marcos Corrêa/PR

BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi demitido do cargo nesta segunda-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, dando início a uma reforma ministerial no governo. Em nota, Azevedo e Silva disse que sai "na certeza da missão cumprida", sem explicar o motivo da demissão. Ele também destacou que preservou as Forças Armadas como instituição de Estado em sua gestão. O Palácio do Planalto ainda não se manifestou oficialmente.

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"Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado", afirmou no texto.

"O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira. Saio na certeza da missão cumprida", acrescentou.

Segundo a colunista Malu Gaspar, Azevedo disse a interlocutores próximos que saiu do ministério da Defesa, porque não queria repetir o que viveu em maio passado . Maio de 2020 foi o mês em que bolsonaristas realizaram diversas manifestações pedindo intervenção militar e atacando o Supremo Tribunal Federal.

A demissão do ministro da Defesa ocorreu no início da tarde, no Palácio do Planalto, em uma conversa que durou cerca de cinco minutos.

A decisão teve como estopim uma entrevista concedida ontem pelo general Paulo Sérgio, chefe do Departamento-Geral de Pessoal do Exército, ao jornal Correio Braziliense. À publicação, o militar disse que o Exército já se preparava para a terceira onda da pandemia da covid-19.

Segundo interlocutores do Planalto, Bolsonaro, que tenta conter o desgaste no pior momento da crise sanitária, não gostou da declaração e pediu uma punição para o general Paulo Sérgio cargo. O comandante do Exército, Edson Leal Pujol, resistiu e teve o apoio de Azevedo.

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Não foi a primeira vez que o ministro da Defesa atuou para blindar Pujol, que enfatiza frequentemente não concordar com a contaminação política da Força. Como adiantou a colunista Bela Megale, militares aguardam a saída de Pujol do comando do Exército, que se reuniu com os chefes da Marinha e da Aeronáutica após a saída de Azevedo e Silva para tratar do assunto.

A aliados, o ministro da Defesa disse que já vinha notando uma insatisfação de Bolsonaro com sua atuação há algum tempo, principalmente por ele evitar acenos políticos. Além disso, Azevedo e Silva relatou que as questões do presidente da República com Pujol "rondavam" a sua atuação e que Bolsonaro se incomodava por ele ter um perfil diferente do antecessor, Eduardo Villas Bôas.

A saída do ministro da Defesa foi vista como inesperada por integrantes do governo e movimentou desde cedo o Palácio do Planalto. Na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro já avaliava como recompor o seu primeiro escalão.

O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, está cotado para assumir a Defesa.  No lugar dele, assumiria o ministro Luiz Eduardo Ramos, que está na Secretaria de Governo. Com isso, a pasta responsável pela articulação com o Congresso seria entregue a um político. O nome mais cotado até agora é o do líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

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Azevedo e Silva deixa o cargo no mesmo dia em que o chanceler Ernesto Araújo decidiu pedir demissão . A informação foi repassada pelo próprio ministro a seus subordinados. Mais cedo, Araújo disse a Bolsonaro que não quer ser um problema ao governo, após uma série de embates com o Congresso. A expectativa é que a saída do ministro seja oficializada ainda nesta segunda-feira.

O advogado-geral da União, José Levi, também deixará o governo Jair Bolsonaro. O presidente demitiu o ministro , porque ele não assinou a ação que o Executivo ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir governadores de adotarem medidas restritivas de circulação durante o agravamento da pandemia da Covid-19. O pedido, apresentado há dez dias, levou a assinatura apenas de Bolsonaro.