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A crise que afoga o Peixe Urbano

Peixe Urbano

Rennan Setti e Mariana Barbosa

(A coluna Capital publicou, em 20 de fevereiro, reportagem mais atualizada sobre a crise do Peixe Urbano, disponível no link abaixo: 

ENTENDA: Afogado em dívidas, Peixe Urbano não tem dinheiro nem para demitir)

Seu site está fora do ar há uma semana, mas a crise por que passa o Peixe Urbano já dura pelo menos um ano e meio e foi potencializada pela pandemia. A empresa de cupons de desconto vem atrasando o pagamento a milhares de fornecedores e parceiros desde 2019. Hoje, nem sequer os funcionários recebem em dia — isto é, os que restaram depois que parte importante da equipe foi mandada embora nesse período. Diante das dificuldades, a empresa vem abordando empresários em busca de um comprador, segundo um empreendedor que foi sondado nos últimos meses. 

Quando a pandemia chegou, o negócio do Peixe Urbano já dava sinais de esgotamento há anos, como fica claro nas diversas mudanças de dono ao longo de uma década. A empresa foi surpreendida pelo coronavírus com um caixa excessivamente alavancado, resultado da expansão para outros países da América Latina a partir de 2017, quando se fundiu com o Groupon na região. Para piorar, seu modelo de ofertas — tradicionalmente concentradas em estabelecimentos físicos, como restaurantes — não se adaptou ao imperativo do delivery e do digital na quarentena. 

Essas adversidades vêm se traduzindo em caixa apertado e encolhimento da estrutura. Na Justiça, o Peixe Urbano é réu em uma série de processos de cobrança. No início de janeiro, por exemplo, a empresa Lsp 151 Serviços de Limpeza LTDA. entrou com processo de execução na Justiça de São Paulo porque o Peixe Urbano não havia conseguido honrar meros R$ 15 mil. 

Uma fonte a par das operações da empresa estimou que o Peixe Urbano deva a milhares de restaurantes em todo o país. Para contornar o problema, a empresa passou a operar em modelo de “split de pagamentos”, comum nos marketplaces. Por meio dele, os valores pagos pelos clientes vão diretamente para a conta do estabelecimento parceiro, sem o risco de ficarem retidos nas contas do Peixe Urbano.

Dívida até no co-working      

No começo do ano passado, as dificuldades obrigaram o Peixe Urbano a liquidar o escritório do Rio, sua cidade-natal. Antes mesmo da pandemia, a companhia migrou para um co-working na Barra da Tijuca, mas o espaço seria abandonado em poucos meses. Na Justiça do Rio, aliás, a Delta Business Coworking também entrou com processo de cobrança em abril… Hoje, os poucos funcionários que sobraram no Rio trabalham em esquema de home office. 

Desde então, o único escritório do Peixe Urbano é o de Florianópolis. Mesmo lá, porém, os problemas são evidentes. Nos últimos meses, start-ups da cidade vêm recebendo currículos de diversos funcionários que querem deixar a empresa de cupons. 

Em outro sinal de fragilidade, desde abril a diretoria financeira é ocupada interinamente por Marcos Guedes, sócio da KR Capital. A gestora paulista é especializada em ativos em “situações especiais” — isto é, com problemas financeiros. No inicio deste mês, Guedes assumiu também a presidência da Saraiva, rede de livrarias em recuperação judicial.

A inoperância do site por uma semana, primeiro noticiada pelo “Extra”, levantou suspeitas entre clientes de que a empresa teria falido. Às queixas, a conta da empresa no Twitter responde apenas que o site passa “por uma intermitência sistêmica, e neste momento nosso time de tecnologia está trabalhando para corrigir o erro.”

Aos funcionários, a companhia não informou sobre eventual plano de encerrar as atividades, e eles seguem trabalhando, apurou a coluna.

A coluna Capital procurou o Peixe Urbano por e-mail, mas não obteve resposta.

De pioneiro a batata quente  

Pioneiro das compras coletivas no Brasil, o Peixe Urbano foi fundado em 2009. À época, a companhia era celebrada como expoente de um mercado de tecnologia que engatinhava no Brasil, e seu principal sócio, Julio Vasconcellos, estampava capas de revistas de negócios.

Seu modelo copiava o do americano Groupon, e não foram poucos os concorrentes que logo tentaram replicar o sucesso do Peixe Urbano aqui no Brasil. Dois anos depois, o mercado era disputado por centenas de rivais, contribuindo para baixar ainda mais a qualidade do serviço. 

Foi quando o Peixe Urbano começou a mudar de mãos, abalado pelo esgotamento da mania das compras coletivas. Em 2014, o site foi comprado pelo gigante chinês das buscas Baidu, que venderia a empresa em apenas três anos para o fundo latino-americano Mountain Nazca. 

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