Por Bárbara Muniz Vieira e Lívia Machado, G1 SP — São Paulo


Paciente intubado no Hospital das Clínicas, no dia 17 de março — Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Mais de 60% dos serviços municipais do estado de São Paulo estão com os estoques zerados de medicamentos do chamado "kit intubação", de acordo com levantamento feito pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP).

O estoque de bloqueador neuromuscular, remédio usado para relaxar a musculatura, a caixa torácica e ajudar o paciente a permanecer com ventilação mecânica, está zerado em 68% dos serviços municipais do estado que foram adaptados para atendimento Covid, como as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) e os hospitais de campanha.

Segundo o Conselho, em alguns desses equipamentos, os medicamentos são usados para garantir atendimento emergencial aos pacientes em estado grave até que eles consigam transferência para leitos de UTI em hospitais.

De acordo com os dados, o estoque de sedativos acabou em 61% dos serviços municipais. O levantamento foi feito na última terça-feira (13) e divulgado nesta quinta (15).

No casos dos bloqueadores neuromusculares, 78% dos estoques devem durar apenas até 7 dias nos serviços municipais, contados a partir da data do levantamento.

O Kit Intubação é uma combinação de medicamentos sedativos para controlar os movimentos e a dor do paciente do momento em que recebe e permanece com o tubo até quando acorda.

A falta desses remédios amplia a dor e o sofrimento dos pacientes, que podem até tentar arrancar o tubo com as próprias mãos. Para evitar isso, alguns hospitais amarram os pacientes ao leito. Médicos afirmam que a situação equivale a tortura.

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Abastecimento em até 24h

O governo de São Paulo está com dificuldade de adquirir os kits porque todos estão sendo negociados com o governo federal, que demora a repassar os kits aos estados.

Para evitar o agravamento da crise de desabastecimento desses medicamentos, o governo de São Paulo enviou nesta quarta-feira (13) o nono ofício ao Ministério da Saúde em 40 dias, em que pediu o envio em até 24 horas dos medicamentos para evitar colapso no atendimento de pacientes internados em UTIs do estado.

No ofício, a gestão estadual "reitera a gravidade do cenário de abastecimento dos medicamentos que compõem o kit intubação nos hospitais que possuem leitos destinados para Covid-19 no estado - que se encontram em pré-colapso."

Desde março, o Ministério da Saúde exige que as empresas fornecedoras dos "kits de intubação" vendam os medicamentos diretamente ao ministério, que deve fazer a redistribuição aos estados. Só que o resultado prático dessa medida foi dificultar a aquisição dos medicamentos pelos estados e municípios, e por isso os estoques não estão sendo repostos nos hospitais.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que aguarda para esta quinta-feira (15) a chegada de 2,3 milhões de medicamentos para intubação.

"Os insumos foram doados por um grupo de empresas formado pela Petrobras, Vale, Engie, Itaú Unibanco, Klabin e Raízen. Os medicamentos saíram da China nesta quarta-feira [14]. Assim que chegarem ao Brasil, serão distribuídos imediatamente aos estados com estoques críticos dos insumos."

A pasta informa ainda que a Secretaria da Saúde de São Paulo recebeu em março e abril 1.394.957 de medicamentos que compõem o kit intubação.

A gestão estadual afirma, porém, que o número de medicamentos enviados ao estado é insuficiente para atender a demanda.

Foto mostra paciente intubado em UTI montada para atender pacientes com Covid-19 em hospital de campanha em Santo André, no ABC paulista. — Foto: Miguel Schincariol / AFP

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