Bolsonaro pressiona para mudar foco de CPI da Covid

A abertura de uma CPI para investigar a conduta do Executivo na pandemia, determinada pelo ministro do STF Luiz Roberto Barroso, acendeu um sinal amarelo no Palácio do Planalto. A estratégia adotada pelo presidente Jair Bolsonaro é de pressionar senadores a ampliar o escopo para investigar também governadores e prefeitos. Sem isso, diz o presidente, a CPI “só vai ouvir gente nossa” e produzir “um relatório sacana”. A pressão (e os termos) estão numa conversa por telefone com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), que a gravou e divulgou no YouTube. Bolsonaro pediu também que Kajuru cobrasse andamento para os pedidos de impeachment contra ministros do Supremo, como forma de contra-atacar a Corte. (Globo)

E a pressão parece surtir efeito. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), protocolou um pedido à Mesa Diretora do Senado para que a comissão investigue também as condutas de prefeitos e governadores, o que não consta do pedido original. (Poder360)

Bem que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), resistiu, mas, diante da ordem de Barroso, anunciou para terça-feira a leitura em plenário da CPI. É o primeiro passo para sua instalação, mas não garante que ela funcione. Para isso, os partidos políticos precisam indicar seus representantes na comissão, algo geralmente usado para atrasar os trabalhos. Mas a pressão é grande. O presidente do STF, ministro Luiz Fux, marcou para quarta-feira a sessão virtual em que o Plenário vai decidir se mantém ou não a ordem de Barroso. (G1)

Bela Megale: “Sob forte pressão de Bolsonaro, a maioria do STF indica que manterá a decisão de Barroso sobre a instalação da CPI da Pandemia. Magistrados avaliam que a conversa por telefone entre o presidente e o senador Kajuru deixou mais evidente o medo de Bolsonaro da investigação que será aberta para analisar omissões do governo federal no combate à Covid-19.” (Globo)

Independentemente do escopo, há uma avaliação nos bastidores de que a comissão aumenta o poder de barganha do Senado, especialmente de Pacheco, diante do Executivo. Normalmente, os olhos do Planalto estão voltados para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em cuja gaveta hibernam os pedidos de impeachment. Agora, dependendo das investigações, os senadores terão de ser agradados também. (Folha)

Malu Gaspar: “Depois de fracassar na primeira tentativa de impedir a CPI da Covid-19, convencendo senadores a retirar assinaturas do requerimento por sua criação, o governo Bolsonaro agora tenta interferir na escolha dos integrantes, garantindo que a maioria seja a seu favor. Nesse xadrez, o bloco formado pelo PSDB e pelo Podemos é hoje o fiel da balança.” (Globo)

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Para ler com calma. Existe uma instituição do Estado brasileiro que operou no extremo oposto ao negacionismo do Planalto da pandemia de Covid-19: o Exército. Aplicou amplamente testes de contágio, implementou regras de distanciamento e impôs o uso de equipamentos de proteção. O resultado foi que a taxa de letalidade pela doença na Arma foi de 0,17%, contra 2,6% da população em geral. E esse foi um dos motivos para o comandante Edson Pujol ser trocado. (Piauí)

Divergir do governo virou um risco para funcionários públicos, mesmo concursados, protegidos pela estabilidade. Levantamento mostrou pelo menos 650 casos de profissionais perseguidos ou vítimas assédio moral por motivos ideológicos nos últimos dois anos. (Globo)

Um dos maiores temores na eleição para o comando da Câmara era que, entronizado um aliado de Jair Bolsonaro, a pauta de costumes ultraconservadora avançasse na casa. Aconteceu o contrário. Diante da pandemia de Covid-19 e da queda de braço do Orçamento, Arthur Lira (PP-AL) adiou sine die a maioria dos temas caros a esse grupo, em especial à bancada evangélica. Apenas o projeto que regulamente a ensino doméstico dá sinais de prosseguimento. (Globo)

O Facebook escolhe por critérios de impacto a sua imagem os casos de manipulação política que combate. A acusação é feita Sophie Zhang, ex-funcionária do setor de combate a estes abusos. Ela mostrou a repórteres do jornal The Guardian pelo menos 30 casos de páginas com desinformação, quase sempre em favor de governantes, cujos acessos eram turbinados por likes e comentários de contas falsas. Este engajamento falso, devidamente identificado pelo próprio Facebook, faz com que as postagens sejam distribuídas para muito mais gente — ampliando acesso. Mas por ocorrerem em países considerados menos capazes de prejudicar a imagem da companhia — casos de Afeganistão, Iraque, Mongólia, México e um bom naco da América Latina — eram deixados de lado. A gigante do Vale não contesta qualquer um dos casos listados pelo jornal britânico, mas nega a conclusão de que o critério de dano à imagem da companhia é o que pesa na hora de interferir. (Guardian)

O ex-banqueiro Guillermo Lasso, candidato da direita, venceu ontem o segundo turno das eleições presidenciais no Equador, derrotando o economista Andrés Arauz, aliado do ex-presidente Rafael Correa. Coordenada pelo consultor Jaime Durán Barba, que ajudou a eleger na Argentina o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), a campanha de Lasso, muito centradas nas redes sociais, concentrou-se basicamente em ataques a Correa, que está exilado, e Arauz. O novo presidente terá de buscar uma coalizão no Congresso, já que sua aliança de partidos elegeu pouco mais 22% dos parlamentares. (Globo)

Manifestantes entraram em confronto com a polícia em Minneapolis, após um negro de 20 anos ser morto por policiais brancos ao tentar fugir de uma abordagem. O incidente aconteceu a poucos quilômetros de onde, em maio do ano passado, o também negro George Floyd foi asfixiado até a morte pelo policial também branco Derek Chauvin, cujo julgamento está em andamento. (G1)

Viver

Muitas das pessoas que receberam a CoronaVac no Brasil apontavam como vantagem o intervalo relativamente curto entre as duas doses, três semanas, antecipando a imunização. Mas pode ser o contrário. Estudo feito pelo próprio Instituto Butantan, que fabrica a vacina no Brasil, indica que a eficácia do imunizante cresce conforme o intervalo entre as doses. A eficácia geral, por exemplo, salta de 50,7% para 62.3%. (UOL)

Já a China, onde a CoronaVac foi desenvolvida, estuda misturar vacinas para aumentar a eficácia. O diretor dos Centros de Controle de Doenças da China, Gao Fu, admitiu que os imunizantes produzidos no país não têm eficácia alta. A ideia não é nova ou estapafúrdia. Pesquisadores britânicos estudam combinar as vacinas da Pfizer/BioNTech, que usa a nova tecnologia de RNA mensageiro, com a de Oxford/AstraZeneca, feita com o tradicional sistema de vírus inerte. (G1)

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admite dificuldades para cumprir o cronograma de vacinas no segundo semestre, atribuindo o problema à carência mundial de imunizantes. Queiroga acredita que, conforme os EUA completem seu próprio programa de vacinação, mais doses se tornem disponíveis. Sobre as posturas negacionistas do presidente Jair Bolsonaro, o ministro nega atritos, mas diz que uma de suas funções é “persuadir o chefe”. (Folha)

E neste domingo o Brasil registrou a segunda maior média móvel de morte em sete dias desde o início da pandemia: 3.109, com alta de 17% em relação ao período anterior. Foram 1.824 óbitos em 24 horas, elevando o total a 353.293, segundo dados apurados pelo consórcio de veículos de comunicação junto aos estados. (Globo)

Painel: “Gestores de ao menos 1.604 cidades do Brasil disseram que há possibilidade de faltar luvas para os profissionais de saúde nos próximos dez dias caso a curva de internação por Covid-19 continue alta. O número pode ser maior porque menos da metade dos municípios do país, 2.411, responderam à pesquisa do conselho de secretarias. Em São Paulo, estado mais rico brasileiro, 160 das 302 cidades ouvidas até a terça afirmam ter problemas para adquirir o item —a capital é uma delas.” (Folha)

E virou piada a “campanha de conscientização” feita pelo governo do Estado do Rio. Ao custo de R$ 13 milhões, a campanha tem como um dos carros chefes um cartaz em que um médico aparece usando uma máscara... de cabeça para baixo. O governo reconheceu a gafe e recolheu os cartazes. (UOL)

Mas os problemas não param por aí. Segundo o repórter Ruben Berta, há suspeita de direcionamento na escolha da agência Propeg, responsável pela campanha. Ela foi a única a responder no prazo de apenas dois dias dado pelo governo, o que indicaria conhecimento prévios das regras da licitação. Ah, e nas peças originais, os modelos sequer usavam máscaras. (Blog do Berta)

O Papa Francisco provocou esgares nos conservadores ao dizer ontem, durante a missa do Domingo de Misericórdia, que os primeiros cristãos não tinham o conceito de propriedade privada, e que partilhar os bens não era “comunismo, mas puro cristianismo”. (G1)

Em defesa do Papa, há que se dizer que ele não está inovando, de acordo com o Evangelho segundo Mateus 19:16-24.

Mas Francisco está pregando no deserto quando o assunto é o dinheiro das próprias igrejas. Pelo menos no Brasil. Líderes religiosos, em particular das seitas neopentecostais, reclamam que o pagamento de dízimos caiu até 40% com as restrições impostas pela pandemia. Estima-se que o dinheiro em espécie que o rebanho entrega em templos anualmente chegue a R$ 15 bilhões. (Estadão)

Por essas e outras, grupos religiosos fizeram uma manifestação ontem em Brasília exigindo a reabertura dos templos no auge da pandemia. (Poder360)

O Flamengo venceu ontem a Supercopa, primeiro torneio oficial de 2021. No tempo regulamentar, o time carioca empatou em 2 a 2 com o Palmeiras, vencendo nos pênaltis por 6 a 5. (Globo Esporte)

Cultura

Nomadland (trailer no Youtube) da chinesa radicada nos EUA Chloé Zhao, que já havia brilhado no Globo de Ouro, segue como favorito ao Oscar. O longa levou quatro das mais importantes categorias do Bafta, prêmio da academia de cinema britânica: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia e Melhor Atriz para Frances McDormand. E, no sábado, Zhao se tornou a segunda mulher a vencer o prêmio de Melhor Direção dado pelo Sindicato dos Diretores da América. A entrega do Oscar acontece no dia 25 de abril, com transmissão ao vivo de Los Angeles, Londres e Paris. Nomadland estreia nos cinemas brasileiros no dia 15 e já está disponível na plataforma de streaming Hulu. (G1)

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Para ler com calma. Em abril de 2011 o país parou com a notícia de que Caetano Veloso havia estacionado o carro no Leblon. Para alguns, foi a morte do jornalismo. Para outros, era a futilidade do culto às celebridades levada ao paroxismo. Uma década depois a culpada pela nota conta sua história, e sua leitura mostra que o jornalismo vai muito bem, obrigado. (Piauí)

Cotidiano Digital

Vitória para a Amazon, perda para o sindicato. Após quase dois meses de votação, os trabalhadores em um centro de distribuição da Amazon no estado do Alabama, nos EUA, votaram por larga maioria contra a sindicalização. A votação ganhou atenção do país, não só por ser a maior da história da Amazon, mas pelo impacto que teria: a sindicalização poderia se estender pela empresa e como segunda maior empregadora dos EUA, a qualidade e o salários da Amazon têm um efeito de cadeia em outros empregos. Entre as reclamações do sindicato estavam salários baixos e más condições de trabalho — os funcionários são avaliados por meio de métricas de produtividade automáticas, que se não conseguirem manter um ritmo acelerado, são repreendidos ou até mesmo demitidos. A Amazon fez campanha contra o esforço sindical, enviando aos trabalhadores mensagens pedindo que votassem contra e ainda veiculou anúncios no Facebook que alertavam que teriam que pagar taxas sindicais. O sindicato disse que irá recorrer do resultado.

Pois é… A Amazon tem um extenso histórico de processos trabalhistas. Recentemente foi processada por não cumprir pausas para almoço e descanso de funcionários. Durante a pandemia, ainda ameaçou e demitiu diversos trabalhadores que protestaram contra a empresa.

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