Saúde Vacina

Primeiro lote da vacina da Pfizer poderá ser distribuído apenas para capitais e grandes centros

Mudança nos critérios se deve à falta de capacidade na maior parte das cidades de armazenar o imunizante, que demanda baixas temperaturas
Testes indicam que vacina da Pfizer é capaz de neutralizar novas variantes do coronavírus Foto: Charles Platiau / Reuters
Testes indicam que vacina da Pfizer é capaz de neutralizar novas variantes do coronavírus Foto: Charles Platiau / Reuters

BRASÍLIA — Previsto para chegar ao Brasil na semana que vem, o primeiro lote da vacina da Pfizer contra a Covid-19, com 1 milhão de doses, poderá ser distribuído somente para capitais e outros centros urbanos de grande porte. A ideia é debatida internamente no Ministério da Saúde e também tem o apoio de secretários estaduais e municipais da área.

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A pasta e os gestores entendem que, ao menos para essas primeiras doses, seria melhor adotar novas regras de distribuição, que considerassem a estrutura disponível em cada local. Isso porque a vacina da Pfizer demanda uma temperatura de -60°C para ser transportada e armazenada em segurança.

Nem todas as capitais devem receber o imunizante. O Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) está consultando os gestores locais para saber quais cidades poderão armazenar corretamente a vacina.

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— Somente as que têm condições e logística para esta vacina (devem receber doses do primeiro lote) — diz Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conasems.

Ele afirma que as consultas estão sendo feitas para levar uma proposta fechada ao Ministério da Saúde nesta terça-feira.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que reúne os gestores estaduais, também concorda que sejam criadas regras diferenciadas para o primeiro lote da vacina da Pfizer, tendo em vista as condições difíceis de armazenamento do imunizante.

— A vacina deve ir para onde houver mais facilidade de logística nesse momento — destaca Jurandi Frutuoso, representante do Conass.

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Duas fontes do Ministério da Saúde relataram ao GLOBO, sem se identificarem, que a ideia é de fato contemplar as capitais e os grandes centros urbanos que tenham a estrutura para receber as doses. As novas regras, porém, ainda serão pactuadas com as entidades que representam os gestores locais de saúde.

A regra geral do Programa Nacional de Imunização (PNI) tem sido a distribuição igualitária para estados, que repassam aos seus municípios. Até agora, somente as vacinas da AstraZeneca/Fiocruz e da Sinovac/Instituto Butantan estão sendo usadas no país.

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O governo federal anunciou na semana passada que a Pfizer iria antecipar a remessa de doses ao Brasil. A previsão é que 1 milhão chegue ainda em abril. Depois há entregas previstas para maio e junho, totalizando 15,5 milhões.

— Uma boa notícia é justamente a antecipação de doses da vacina Pfizer, fruto de uma ação direta do presidente da República, Jair Bolsonaro, com o executivo principal da Pfizer, que resulta em 15,5 milhões de doses já nos meses de abril, maio e junho — anunciou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em pronunciamento no Palácio do Planalto, na semana passada.

Negociações frustradas, desde o ano passado, com a Pfizer são apontadas como motivo de atraso na obtenção de doses por parte do Brasil. O governo ignorou ofertas da farmacêutica alegando cláusulas draconianas, como a que isenta a fabricante de efeitos adversos do produto.

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Bolsonaro e outros integrantes do governo chegaram a criticar publicamente as condições do contrato. Mas, diante de pressões para acelerar a vacinação no país, o Executivo acabou por assinar, somente em março deste ano, os termos antes criticados para fechar a compra, de 100 milhões de doses.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que os critérios para distribuição das vacinas da Pfizer ainda estão sendo estudados.