Por Filipe Brasil*, G1 Rio


VÍDEO: Número de mortes ultrapassa o de nascimentos no RJ; entenda

VÍDEO: Número de mortes ultrapassa o de nascimentos no RJ; entenda

Dados do Portal de Transparência do Registro Civil mostram que, por seis meses seguidos, o Município do Rio registrou mais mortes do que nascimentos.

No início da pandemia, em 2020, a capital fluminense contou mais mortos em abril e maio. De junho a setembro, os nascimentos voltaram a ultrapassar os óbitos, mas desde outubro há mais falecimentos do que recém-nascidos.

Somando os 14 meses de março de 2020, quando houve a primeira morte de Covid no RJ, até esta terça (13), o Rio tinha 76.541 nascimentos e 85.166 óbitos.

O cálculo foi feito comparando-se, mês a mês, o volume de atestados de óbitos e o de certidões de recém-nascidos. Veja os números detalhados:

O infectologista Bruno Scarpellini, professor e pesquisador na MedPUC Rio de Janeiro, aponta o aumento dos óbitos por Covid e a tendência de diminuição da natalidade no país como circunstâncias que explicam esse cenário.

“Um primeiro fato é que a taxa de natalidade já vem caindo no país há bastante tempo. Essa tendência de diminuição do número de nascimentos vem sendo observada e pode ter relação com questões econômicas", explicou.

"E é uma tendência que se intensifica, porque as pessoas podem ter evitado ter filhos na pandemia. Pensando nas inseguranças, por gravidez ser grupo de risco, questões financeiras, dúvidas sobre o ambiente hospitalar e a infraestrutura médica", emendou.

"Junto a isso, o que vemos todos os dias, esse aumento alarmante no número de mortes por Covid. Então a balança fica desestabilizada, e os números tendem a demonstrar isso”, afirmou Scarpellini.

O especialista fala ainda sobre as possíveis consequências disso para a população e para economia.

"O maior impacto é na pirâmide etária da população. E isso pode ter consequências no sistema previdenciário. Com muitos idosos e poucas pessoas na idade economicamente ativa, a contribuição tende a cair e gerar sérios problemas para o orçamento", diz o epidemiologista.

A base de dados onde foi realizado o levantamento é abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados pelos Cartórios de Registro Civil do país.

A Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) cruza os números com os dados históricos do estudo Estatísticas do Registro Civil, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O economista Sérgio Besserman pontua, porém, que pode haver defasagem nos números.

"Pela tragédia da pandemia, temos mais óbitos do que nascimentos. Mas isso é um tipo de informação, é um registro civil. O atestado de óbito é imediatamente necessário — para fazer as despedidas, enterro, inventário. O registro da certidão de nascimento pode esperar. Se eu tivesse tido um filho sete meses atrás, ele estaria sem registro até hoje", explicou Besserman, no episódio desta segunda (12) do podcast O Assunto.

Situação no Estado do Rio

Após alta em fevereiro, o Estado do Rio voltou a registrar uma diminuição na diferença entre nascimentos e óbitos em março deste ano. O percentual chegou a 7% - foram 16.538 recém-nascidos e 15.455 mortes, diferença de apenas 1.083 atos.

Em três momentos da pandemia, o estado registrou mais óbitos do que nascimentos:

  • em maio, foram 16% óbitos a mais do que nascimentos - 20.238 mortes e 17.495 nascimentos;
  • em dezembro, foram os mesmos 16% - 17.700 mortes e 14.822 nascimentos;
  • em janeiro deste ano, houve uma variação de 1% a mais de óbitos - 15.673 óbitos x 15.555 nascimentos.

A diferença entre os dois atos já vinha caindo ao longo do tempo, mas acelerou rapidamente com a pandemia do novo coronavírus.

Em 2003, no início da série história a diferença era de mais de 95%. A porcentagem caiu para 63% na década de 2010 e abriu 2020 com diferença por volta dos 46%.

Com o início da pandemia, no Rio de Janeiro, a média caiu para 35% em março, invertendo as estatísticas rapidamente para um maior número de óbitos do que nascimentos em maio. No segundo semestre de 2020, houve uma leve recuperação pela queda no número de óbitos no estado.

“O advento da pandemia fez crescer expressivamente o número de óbitos e também gerar uma preocupação entre os casais na intenção de terem filhos e de aumentar a família. Esses dois movimentos registraram marcas importantes no que diz respeito aos dados de Registro Civil no nosso Estado, que impactam historicamente e futuramente no desenvolvimento do país. O que reforça ainda mais a importância da plataforma do Portal da Transparência para a sociedade e de se terem os dados sempre que possível, atualizados”, afirma o presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado do Rio de Janeiro (Arpen/RJ), Humberto Costa.

Números do país

No Brasil, a alta no número de mortes no mês de março provocou também a aproximação recorde entre os números de nascimentos e óbitos. Na ocasião, foi atingido o menor patamar da série histórica do Registro Civil, iniciada em 2003.

Com 227.877 nascimentos e 179.938 óbitos, a diferença entre eles ficou em apenas 47.939 atos, o que equivale a 27%, e uma redução histórica de 72% desde o início da pandemia em março de 2020.

*Estagiário, sob a supervisão de João Ricardo Gonçalves

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