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RUMO A 2022

O que significa a aproximação entre Ciro e João Santana

Ciro Gomes e João Santana

A bola foi cantada pelo ex-marqueteiro de Lula e Dilma Rousseff na primeira grande entrevista que concedeu depois de sair da prisão, ao Roda Viva, em outubro do ano passado: uma grande chapa para 2022 teria Ciro Gomes na cabeça e Lula como vice.

Causou grande alarde, ainda mais vindo de alguém que fez uma delação premiada que causou grande prejuízo ao PT, apontando pagamentos das campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2010 e 2014 no exterior, na forma de caixa dois, pela Odebrecht, o papel de Antonio Palocci e Guido Mantega como emissários desses pagamentos e outros fatos bastante graves.

A declaração, calculada e dada já no fim da entrevista por Santana, foi lida como um aceno ao pedetista e uma tentativa de voltar ao jogo político depois da prisão. Pois agora, seis meses depois, o pré-candidato e seu partido anunciam a contratação do jornalista para cuidar da comunicação do PDT.

Trata-se de um arranjo bastante comum na política: um ou dois anos antes das campanhas, marqueteiros são contratados pelos partidos, como um "test drive" para saber se conseguem acertar a mão na comunicação dos pré-candidatos.

Foi assim com Duda Mendonça antes de 2002, com o próprio Santana em 2006, com Renato Pereira e Aécio Neves em 2013 (acabou não dando "match") e tantos outros casos.

Mas o que a aproximação de Ciro e João Santana aponta para o ano que vem? Em primeiro lugar, parece haver uma mudança do cenário descrito pelo marqueteiro no Roda Viva, uma vez que Ciro tem investido mais fortemenete na estratégia de dissociação do PT.

Há que se reconhecer, no entanto, a leitura muito precisa que Santana continua fazendo do cenário político: ele previu, lá atrás, que Lula estaria elegível em 2022. Resta saber se continua avaliando que só a união da esquerda, que ele traduziu na chapa difícil de colocar em pé, seria capaz de derrotar Jair Bolsonaro.

Em entrevistas recentes, Ciro tem dado mostras de que vai apostar em se cacifar como o antipetista na esquerda, na tentativa, inclusive, de angariar apoios em partidos de centro e centro-direita, e talvez votos entre os bolsonaristas arrependidos e os ex-petistas idem.

A chegada de Santana ao barco cirista deve afastar, ao menos num primeiro momento, uma aliada recente do pedetista, a ex-ministra e ex-presidenciável Marina Silva. Entre os candidatos de 2018 foi ela a primeira a fazer um movimento de que está disposta a abrir mão de uma nova candidatura (seria a quarta) em nome de uma aliança mais ampla, e que esta aliança deveria se dar em torno do cearense.

Acontece que Santana foi o responsável pela campanha de desconstrução da imagem de Marina na pesada camapanha de Dilma em 2014, em que a ex-ministra (e ex-petista) era apresentada como alguém que iria liquidar com o Bolsa Família e sumir com a comida do prato dos brasileiros.

Para vencer o já muitas vezes declarado ranço de Marina por João Santana e seu estilo de fazer campanha será necessário muito mais que a lábia do mago baiano da publicidade, que, diga-se, continua boa mesmo depois da queda na Lava Jato e da prisão que amargou.

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