BRASÍLIA — A baixa cobertura vacinal no país na segunda onda da pandemia de Covid-19 é uma das principais preocupações de estados e municípios. Em audiência púbica no Senado nesta quinta-feira, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) apontaram a necessidade de aumento no orçamento para garantir o enfrentamento da pandemia, principalmente diante da previsão de um cenário de escassez de imunizantes para os próximos meses.
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— Eu acho que a gente tem um cenário difícil, dificílimo. Para os próximos dois meses a gente deve ter um cenário de escassez de vacinas, isso é preciso ser dito. A gente não sabe o que vai acontecer com a Índia, onde há um recrudescimento muito grande da doença, que é o maior exportador de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), a gente não sabe o que pode acontecer — disse Carlos Eduardo Lula, presidente do Conass.
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A média de quase 3 mil mortes e de 63 mil novos casos é considerada preocupante, mesmo com uma pequena redução na última semana, e o número de pessoas internadas com a doença é alto. Por outro lado, a avaliação é que o país tem capacidade de vacinar 3 milhões de pessoas por dia, mas o que falta é o insumo.
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— Com relação à temática vacina, o que falta é vacina. O cronograma apresentado sempre é reduzido pra baixo. Nunca temos a obediência desse cronograma como deve acontecer — afirmou o presidente do Conasems, Wilames Freire.
A questão orçamentária é considerada crucial neste momento. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou falta de planejamento do governo federal, que não reservou dinheiro para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 em 2021. Na audiência, representantes do tribunal explicaram que o processo ainda depende de uma decisão dos ministros. Técnicos do TCU defendem um orçamento separado para o combate à Covid.
— A falta de uma rubrica específica para Covid, assim como nós tínhamos no orçamento de guerra no ano passado, é algo que preocupa — disse o secretário de controle externo do TCU, Marcelo Chaves Aragão.
Desabastecimento do 'kit intubação'
Além disso, foi destacada a crise de fornecimento do “ kit t intubação” para pacientes internados com coronavírus. Segundo o Conasems, o aumento de 19 mil leitos de UTI para Covid neste ano impactou no consumo de medicamentos e na necessidade de mais profissionais. Foi detectado um número maior pacientes jovens, obesos e que precisam mais oxigênio e medicação. Também houve diminuição de internações de pacientes com mais de 80 anos e de profissionais de saúde, que já foram vacinados.
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O coordenador-geral de Controle de Sistemas e Serviços de Saúde do Ministério da Saúde, Josafá dos Santos, garantiu que o governo federal tem feito o possível para o enfrentamento da pandemia.
Segundo dados do ministério, das 27 unidades da federação, 19 ainda estão com taxa de ocupação de leitos acima de 80%. Os estados do Ceará, Santa Catarina e Espiírito Santo têm ocupação mais elevada. Uma redução na ocupação dos leitos foi percebida em parte pela abertura de nova unidades, assim como na diminuição da internação de casos graves.
— O ministério vem fazendo a parte ele, medindo todos os esforços para que não faltem leitos de UTI — afirmou o coordenador.
Distribuição de vacinas
Senadores também indagaram sobre o estoque de vacinas ainda não aplicadas nos municípios. Segundo os representantes dos secretários de saúde, existe uma “confusão” em relação ao assunto, porque a reserva é feita conforme orientação do Ministério da Saúde para aplicação da segunda dose.
O secretário de Saúde de Rondônia, Fernando Máximo, questionou a diferença no número de doses de vacinas enviadas ao estado. Segundo ele, enquanto outros estados da região Norte receberam cerca de 80% das doses do grupo prioritário, Rondônia recebeu apenas 65%. Haveria um déficit de 69 mil doses.
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirmou na audiência que “não vai faltar dinheiro” para o combate à pandemia. O Senado aprovou projeto que autoriza estados e municípios a usarem R$ 26 bilhões disponíveis nos fundos estadual e municipal de Saúde que sobraram do ano passado. A Câmara ainda irá analisar a proposta.
— São quase 26 bilhões, que podem ser gastos em 2021 pelos prefeitos e também pelos secretários estaduais de saúde — disse o senador.