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Covid-19: Queiroga afirma que 'se todos' entrarem na Justiça vai faltar vacina

Em audiência no Senado, ministro cita João Pessoa (PB) como exemplo; estados só receberão mais doses da CoronaVac em dez dias
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS

BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou nesta segunda-feira a judicialização para entrega de doses da vacina CoronaVac  e avisou que se todos  procurarem a Justiça não haverá "doses pra todo mundo". Ele citou  como exemplo a capital da Paraíba, João Pessoa, que conseguiu uma liminar e recebeu o imunizante. Queiroga admitiu  que há "dificuldades" no fornecimento de vacinas para aplicação da segunda dose da CoronaVac, em vários estados, mas advertiu sobre a judicialização.

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— Se todos judicializarem não têm doses para todo mundo   —  afirmou Queiroga, em sessão da comissão do Senado que discute medidas de combate à Covid-19.

O ministro  informou que doses da CoronaVac não serão entregues nesta semana, a previsão é que sejam distribuídas aos estados daqui a dez dias devido ao atraso da entrega o IFA ( Ingrediente Farmacêutico Ativo) ao Butantan pela China. Sem dar detalhes, Queiroga  informou que o ministério vai emitir uma nota técnica sobre o assunto. Ele  lembrou que há cerca de um mês a pasta liberou a aplicação da segunda dose, e, agora,“há uma certa preocupação”.

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— Tem nos causado certa preocupação a CoronaVac, a segunda dose. Há pedidos de governadores, de prefeitos, porque, se os senhores lembram, cerca de um mês atrás foram liberadas as segundas doses para que se aplicassem, e agora, em face do retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose — declarou.

Queiroga  também citou a divulgação, no sábado,  da atualização do cronograma de vacinação no país. O número de doses esperadas para o mês de maio caiu de 46,9 milhões para 32,4 milhões . Ele  justificou que foi retirado do cronograma 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, que ainda não tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa), e também houve  demora para entrega do IFA para produção de vacinas no Brasil.

— O fato é que temos trabalhado fortemente pra conseguir mais doses – garantiu, informando também está em andamento uma negociação  para compra de vacina de um outro fabricante chinês:  — Quando tiver informações iremos divulgar.

A chegada de 1 milhão de doses da Pfizer está prevista para quinta-feira, dia 29. O imunizante será enviado aos estados em duas etapas, com 500 mil doses cada uma.

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Ainda na audiência, o ministro  fez um “apelo” aos estados para que respeitem o Programa Nacional de Imunizações (PNI), conforme pactuado entre os três entes da federação.

—  Os senhores sabem que, na bipartite, às vezes se muda a orientação para incluir um grupo ou outro e isso termina por alterar a harmonia do programa e atrapalha o PNI — afirmou.

O secretário de vigilância em saúde, Arnaldo Medeiros, disse que a pasta está monitorando “rigorosamente os estados que estão com deficit da segunda dose”. Segundo ele, o governo vai enviar as doses pendentes em breve. No entanto, ele não informou quais os locais.

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— Hoje o quantitativo de D2 ( segunda dose) que nós estamos devendo aos estados como um todo é um quantitativo relativamente pequeno que serão supridos em uma pauta muito em breve — afirmou Medeiros.

Citando questionamentos sobre a diferença no número de doses distribuídas e aplicadas, o ministro disse aos senadores que o ministério deve mudar a forma de divulgação. De acordo com o “vacinômetro” do ministério, hoje essa diferença é de 20 milhões de doses. Queiroga explicou que há uma demora de até dez dias para que os imunizantes cheguem nos municípios. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro usam essa diferença para criticar o desempenho de governadores e prefeitos.

— Tudo o que não precisamos nesse momento é polêmica — disse o ministro

O coronavírus já matou nos primeiros quatro meses de 2021 mais do que todo o ano de 2020.  Aos senadores, o ministro  ressaltou que a variante P1, descoberta em Manaus (AM), "parece ser mais contagiosa" e estar associada a uma "maior letalidade". Os números, apontou o ministro, mostram a "gravidade" da doença. Apesar da redução do número de contaminado e de óbitos, o patamar ainda é alto.

'Kit  intubação'

Sobre problemas com fornecimento de medicamentos do chamado kit intubação, o ministro destacou que já abriu pregão "nacional e internacional" para a aquisição dos remédios. Integrantes do ministério diseram que, nas próximas duas semanas, deve chegar 1,5 milhão de unidades de medicamentos que fazem parte do chamado "kit-intubação" usado em pacientes graves de Covid.

Na audiência, Queiroga ainda  reforçou que a pasta prepara um protocolo com orientações sobre as substâncias que estão sendo usadas pelos médicos no país. A elaboração dos protocolos será feita pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec).

Advertência

Na sessão, ao falar sobre a importância de medidas como o distanciamento social e o uso de máscara,  Queiroga  citou o fato de o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) praticar atividade física ao ar livre sem a máscara.

—  Estou vendo aqui o nosso querido senador Izalci Lucas praticar atividades físicas e ele está sem máscara – disse o ministro na transmissão, afirmando  que embora a OMS (Organização Mundial da Saúde)  pareça  flexibilizar a prática de atividade de física ao ar livre sem máscara, “ é sempre bom lembrar que é importante  que todos nós passemos uma mensagem para a sociedade que a utilização é algo prioritário".

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— Não é nenhuma critica ao senador, evidentemente – acrescentou o ministro.

Depois, Izalci  entrou para fazer perguntas sobre a distribuição de vacinas e  estava no parque já com a máscara.

— Há muita dúvida. Eu estou num parque que não tem ninguém, só estou eu andando de bicicleta sem mais ninguém. O uso nessa situação é necessário?  A gente não sabe porque não há uma campanha — cobrou o senador.

Nesta situação o ministro disse que há “controvérsia” sobre a “real utilidade” da proteção. Ele informou que o ministério vai editar um protocolo, por exemplo, sobre como se portar em transporte público.