Política

VÍDEO: PF revida ataque e troca tiros com garimpeiros em terra Yanomami

Agentes investigavam o ataque armado ao grupo indígena desta segunda, quando uma embarcação passou atirando em direção aos policiais
Agentes federais trocaram tiros com garimpeiros na tarde desta terça Foto: Polícia Federal
Agentes federais trocaram tiros com garimpeiros na tarde desta terça Foto: Polícia Federal

RIO — Agentes da Polícia Federal trocaram tiros com garimpeiros na Terra Indígena Yanomami nesta terça-feira durante uma diligência para apurar o confronto ocorrido ontem entre invasores e indígenas , na comunidade de Palimiú, em Roraima. Segundo lideranças locais,  o ataque teria terminado com três garimpeiros mortos e outros cinco feridos a tiros e flechas, além de um indígena ferido de raspão.

Policiais federais chegaram na tarde de hoje para dar início à investigação sobre o confronto. Segundo a PF, não foram encontrados corpos de garimpeiros mortos no local, embora os indigenas mantenham a versão de que três invasores teriam sido mortos e seus corpos levados pelos outros garimpeiros.

Vídeo: Troca de tiros entre agentes da PF e garimpeiros

 

Quando os agentes se preparavam para retornar à Boa Vista, uma embarcação de garimpeiros passou no rio Uraricoera e disparou contra os agentes, que revidaram. De acordo com a PF, não há registro de feridos.

"Quando a equipe de policiais federais estava prestes a embarcar de volta a Boa Vista, uma embarcação de garimpeiros passou no rio Uraricoera efetuando disparos de arma de fogo. A equipe se abrigou e respondeu a injusta agressão, sem contudo haver registro de atingidos de nenhum dos lados", diz nota da PF enviada ao GLOBO.

Agentes de segurança em diligência na comunidade Yanomami de Palimiú, em Roraima Foto: Polícia Federal
Agentes de segurança em diligência na comunidade Yanomami de Palimiú, em Roraima Foto: Polícia Federal

A PF confirma também que apenas um indígena foi atingido de raspão, sem nenhuma gravidade. As informações corroboram as do presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye´kuanna, Júnior Hekurari Yanomami, que esteve ontem no local horas após o conflito.

— Estou muito preocupado, com muito medo. Quando chegamos lá por volta das 14h, várias embarcações com mais ou menos 20 garimpeiros vieram em nossa direção, todos armados e com capuzes no rosto. Eles vieram na direção da comunidade para atacar, mas passaram batido quando viram a Policia Federal — descreveu Hekurari.

Entenda: Ataque de garimpeiros aos yanomami em Roraima deixa ao menos cinco baleados, diz entidade

Hoje pela manhã, dois aviões Cesnna Caravan fretados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) levaram ao menos 15 agentes federais para investigar o caso. A ida do Exército na missão chegou a ser anunciada pela PF, mas acabou não acontecendo. Segundo o presidente do Conselho de Saúde Indígena, cerca de duas horas depois, quando acharam que as autoridades já haviam saído do local, os garimpeiros retornaram e efetuaram novos disparos na direção da comunidade.

— Nem os federais eles respeitaram. Temo pelas crianças, pois eles estão atirando para todo lado, com armamento pesado, metralhadora, submetralhadora e fuzil. Eu nunca presenciei esses atos — diz Junior Hekurari, que embarcou no mesmo voo com os agentes.

Ataque armado

A entidade indígena Hutukara Associação Yanomami informou nesta segunda-feira que garimpeiros fizeram um ataque armado na comunidade de Palimiú, em Roraima, onde fica o território Yanomami. Por volta das 11h30, sete embarcações atracaram na comunidade e deram início ao ataque contra os índios.

Mapa de localização da comunidade indígena yanomami Foto: Arte/O GLOBO
Mapa de localização da comunidade indígena yanomami Foto: Arte/O GLOBO

De acordo com Dario, filho do líder indígena Davi Kopenawa, presidente da Hutukara, houve tiroteio em conflito aberto "por cerca de meia hora".

— As embarcações dos garimpeiros saíram para a proximidade e ameaçaram voltar para vingança — diz Dario.

Em oficio enviado ao Exército, à Polícia Federal, à  Funai e ao Ministério Público de Roraima, a entidade Hutukara Associação Yanomamipede pediu aos órgãos que atuem "com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu".

Vídeo: Yanomami são atacados por garimpeiros nesta segunda

 

Histórico de violência

A Hutukara já havia enviado um ofício no último dia 30 de abril para os órgãos federais  sobre a ocorrência de tiroteios entre indígenas e garimpeiros no Palimiú, na subida do rio em direção à base de Korekorema, no rio Uraricoera. Cinco garimpeiros foram expulsos pelos índios após o tiroteio. Mas, conforme o GLOBO apurou, a entidade não obteve retorno.

No final de março, O GLOBO mostrou que o garimpo ignorou a pandemia e avançou 30% na Terra Indígena Yanomami em 2020 , com 500 hectares devastados de janeiro a dezembro. No total, o garimpo ilegal já destruiu o equivalente a 2,4 mil campos de futebol em todo o território. Pouco ou quase nada se fez para conter os invasores, que já beiram os 20 mil na região. Os dados constam do relatório “Cicatrizes na Floresta: a evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami”.

Vista aérea do tatuzão do Mutum, em dezembro de
2020, considerado o maior garimpo da Terra Indígena Yanomami Foto: ISA/HAY
Vista aérea do tatuzão do Mutum, em dezembro de 2020, considerado o maior garimpo da Terra Indígena Yanomami Foto: ISA/HAY

A TI Yanomami é um das sete terras indígenas com a presença de povos isolados à espera de um plano do governo para a retirada de invasores. O Supremo Tribunal Federal (STF) já deu prazo para que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal apresentem um plano de desintrusão, o que, segundo o ministro Luis Roberto Barroso, já foi apresentado. Completam a lista as terras Karipuna, Uru-EuWau-Wau, Kayapó, Araribóia, Munduruku e Trincheira Bacajá.