Política

Ataque de garimpeiros aos yanomami em Roraima deixa ao menos cinco baleados, diz entidade

Conflito aconteceu na comunidade Palimiú após chegada de sete embarcações a comunidade; Hutukara Associação Yanomami enviou oficio de urgência aos órgãos federais
Vista aérea do tatuzão do Mutum, em dezembro de
2020, considerado o maior garimpo da Terra Indígena Yanomami Foto: ISA/HAY
Vista aérea do tatuzão do Mutum, em dezembro de 2020, considerado o maior garimpo da Terra Indígena Yanomami Foto: ISA/HAY

RIO - Um ataque armado de garimpeiros contra indígenas deixou ao menos cinco pessoas feridas na comunidade de Palimiú, em Roraima, onde fica o território Yanomami. A informação é da Hutukara Associação Yanomami.  De acordo com a entidade, o confronto se deu quando, por volta das 11h30 desta segunda-feira, sete embarcações de garimpeiros atracaram na comunidade e deram início ao ataque contra os índios. Quatro garimpeiros e um indígena, de raspão, teriam sido baleados.  O GLOBO confirmou o ataque com o vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa Yanomami.

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De acordo com Dario, filho do líder indígena Davi Kopenawa, presidente da Hutukara, houve tiroteio em conflito aberto "por cerca de meia hora".

— As embarcações dos garimpeiros saíram para a proximidade e ameaçaram voltar para vingança — diz Dario.

Vídeo: Yanomami são atacados por garimpeiros em Roraima

 

Em oficio enviado ao Exército, à Polícia Federal, à  Funai e ao Ministério Público de Roraima, a entidade pede aos órgãos que atuem "com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu".

Mapa de localização da comunidade indígena yanomami Foto: Arte/O GLOBO
Mapa de localização da comunidade indígena yanomami Foto: Arte/O GLOBO

A Hutukara já havia enviado um ofício no último dia 30 de abril para os órgãos federais  sobre a ocorrência de tiroteios entre indígenas e garimpeiros no Palimiú, na subida do rio em direção à base de Korekorema, no rio Uraricoera. Cinco garimpeiros foram expulsos pelos índios após o tiroteio. Mas, conforme o GLOBO apurou, a entidade não obteve retorno.

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O GLOBO apurou que foi solicitada a retirada da equipe de saúde da Terra Indígena "para resguardar a integridade física dos servidores".

"Dada a gravidade dos fatos e o perigo iminente de novos conflitos, não será possível que a Funai diligencie até a comunidade para colher maiores informações sem que haja escolta das forças de segurança pública", diz comunicado assinado pela coordenadora da Frente de Proteção Etnoambietal Yanomami da Funai, Elayne Rodrigues Maciel.

Encontro de lideranças Yanomami e Ye'kwana, onde os indígenas se manifestaram contra o garimpo em suas terras. Foto: Divulgação
Encontro de lideranças Yanomami e Ye'kwana, onde os indígenas se manifestaram contra o garimpo em suas terras. Foto: Divulgação

Procurada, a Funai afirmou em nota que acompanha o caso junto às forças policiais e aguarda mais informações.

No final de março, O GLOBO mostrou que o garimpo ignorou a pandemia e avançou 30% na Terra Indígena Yanomami em 2020 , com 500 hectares devastados de janeiro a dezembro. No total, o garimpo ilegal já destruiu o equivalente a 2,4 mil campos de futebol em todo o território. Pouco ou quase nada se fez para conter os invasores, que já beiram os 20 mil na região. Os dados constam do relatório “Cicatrizes na Floresta: a evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami”.

A TI Yanomami é um das sete terras indígenas com a presença de povos isolados à espera de um plano do governo para a retirada de invasores. O Supremo Tribunal Federal (STF) já deu prazo para que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal apresentem um plano de desintrusão, o que, segundo o ministro Luis Roberto Barroso, já foi apresentado. Completam a lista as terras Karipuna, Uru-EuWau-Wau, Kayapó, Araribóia, Munduruku e Trincheira Bacajá.