Por Marcela Mattos, Beatriz Borges e Paloma Rodrigues, G1 e TV Globo — Brasília


'Em nenhum momento a Secom negociou valores, condições', diz Wajngarten sobre Pfizer

'Em nenhum momento a Secom negociou valores, condições', diz Wajngarten sobre Pfizer

O ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten afirmou nesta quarta-feira (12), em depoimento à CPI da Covid, que uma carta enviada pela Pfizer ao governo federal com oferta de doses de vacina para o Brasil ficou sem resposta por dois meses.

Em janeiro de 2021, a Pfizer divulgou uma nota na qual disse que ofereceu ao governo brasileiro a possibilidade de comprar um lote de 70 milhões de doses de sua vacina contra a Covid-19 em 15 de agosto, com entrega prevista a partir de dezembro de 2020.

Wajngarten foi convocado para explicar a declaração dada à revista "Veja" na qual disse que a "incompetência" do Ministério da Saúde causou atraso na compra de vacinas contra a Covid-19.

"A carta foi enviada em 12 de setembro. O dono do veículo de comunicação me avisa em 9 de novembro que a carta não havia sido respondida. Nesse momento, eu mando um e-mail ao presidente da Pfizer, que consta nessa carta. Eu respondi essa carta no dia em que eu recebi, 15 minutos depois, Senador", disse.

"Eu respondi para Nova York. O presidente da Pfizer do Brasil, o sr. Carlos Murillo, que virá aqui amanhã, me liga: 'Fabio, muito obrigado pelo seu retorno', no dia 9 de novembro, e foi o primeiro contato com ele", afirmou Wajngarten à CPI.

Wajngarten disse ainda que não estava entre os destinatários originais da carta, mas que buscou contato com a empresa ao saber da oferta.

O documento (veja abaixo) foi endereçado ao presidente Jair Bolsonaro, ao vice-presidente, Hamilton Mourão, ao então Ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, ao então Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao Ministro do Estado da Economia, Paulo Guedes e ao embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Forster.

Primeira página da carta enviada pela Pfizer ao governo brasileiro — Foto: Reprodução

Questionado pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), se durante dois meses nenhuma das autoridades respondeu à Pfizer, Wajngarten respondeu que "pelo teor dessa carta", o senador estava correto.

Durante a sessão, Randolfe Rodrigues leu trechos da carta enviada pela Pfizer. O documento oferecia vacina ao país e dizia que o imunizante seria uma “opção muito promissora” para ajudar o governo a mitigar a pandemia.

“Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses da nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira. Porém, celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses”, dizia o texto.

Capacidade técnica

O ex-secretário de Comunicação da Presidência da República disse que se reuniu pela primeira vez com representantes da Pfizer no dia 17 de novembro de 2020.

"Eu, o meu assistente, o Sr. Carlos Murillo e a Diretora de Comunicação da Pfizer, nesse dia, 17 de novembro", disse.

Wajngarten disse também que se reuniu três vezes para tratar de assuntos relacionados à compra de vacinas.

"Então, esses foram os três temas únicos que foram tratados. Na primeira reunião, um agradecimento. Na segunda reunião, caixa. Na terceira reunião, um pouco mais de quantidade de vacinas, no menor prazo possível. Foram os três tópicos conversados, sempre com inúmeras testemunhas, inúmeros presentes".

O ex-secretário também afirmou que durante as negociações não foi feita a oferta de 70 milhões de doses, mas sim de "irrisórias" 500 mil doses.

"Estou dizendo que nunca partiu de mim, em nenhuma reunião com a Pfizer, o volume de 70 milhões. Oxalá a gente tivesse 70 milhões, infelizmente nunca foi disponibilizado 70 milhões. Eu adoraria que a gente tivesse 70 milhões. Nas propostas da Pfizer, no começo da conversa, ela falava em irrisórias 500 mil vacinas", afirmou.

Questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre sua capacidade técnica de fazer negociações a respeito da compra de vacinas, Wajngarten afirmou que não participou da "negociação propriamente dita", mas que tentou "encurtar pontas".

"Não negociei. O meu intuito foi de ajudar, criar atalhos e encurtar o caminho para que a população brasileira tivesse a melhor vacina", disse.

"Eu quis encurtar e aproximar pontas, diante da negativa de uma carta que não foi respondida, e a Comunicação sofria com isso através dos inúmeros questionamentos que a gente recebia"., afirmou.

O ex-secretário disse ainda que tinha competência técnica para "ajudar" em razão de sua formação jurídica e "histórico de negociação de contratos internacionais".

"Primeiro porque minha formação é jurídica; segundo, porque tenho histórico de negociação de contratos internacionais", afirmou.

Bolsonaro foi informado

Wajngarten relatou que logo ao ser contatado pelo presidente da Pfizer, Carlos Murillo, no dia 9 de novembro, ele subiu ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro para tratar da ligação.

“O presidente foi informado no primeiro momento e no primeiro contato que eu tive com o CEO da Pfizer”, afirmou.

Segundo ele, a ligação aconteceu na hora do almoço. “Nesse exato momento em que o presidente da Pfizer me ligou, eu subi para o gabinete do presidente, pedi autorização e depois do almoço, por volta das 14h30, eu falei: ‘Presidente, estou com o presidente da Pfizer na linha’”.

Bolsonaro, naquele momento, despachava com o ministro da Economia, Paulo Guedes. De acordo com o relato de Wajngarten, Guedes reagiu à ligação: “É esse o caminho, o caminho são as vacinas”, teria dito o ministro, conforme o relato do ex-chefe da Secom.

“Guedes conversa rapidamente com o presidente da Pfizer e o presidente [Bolsonaro] escreve no papel: ‘Anvisa’. Uma vez aprovado pela Anvisa, nós vamos comprar todas as vacinas”, contou à CPI.

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