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CPI da Covid Congresso Nacional

Depoimento superficial de Teich mostra limitações da CPI da Covid

Ex-ministro colocou um tijolo no edifício do caso contra Bolsonaro, mas não mais do que isso

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São Paulo

Nelson Teich avisou desde o começo de seu depoimento à CPI da Covid: seria superficial, já que os temas relativos ao Ministério da Saúde são complexos.

O presidente da CPI, Omar Aziz, mostra o assento a Nelson Teich antes de seu depoimento
O presidente da CPI, Omar Aziz, mostra o assento a Nelson Teich antes de seu depoimento - Jefferson Rudy/Agência Senado/via AFP

Noves fora a impressão de que ele passou os 29 dias no cargo ignorando sua complexidade, o ex-ministro cumpriu a tabela prevista em sua fala, que serviu para explicitar os limites da comissão.

Para quem nunca "deu lide" exceto quando foi nomeado e quando pediu demissão, para usar o jargão jornalístico alusivo a uma notícia importante, Teich entregou logo o que se esperava dele e disse que deixou o ministério porque não concordava com a prioridade dada à cloroquina por Jair Bolsonaro.

Nada que não se soubesse, mas com todas as letras vira um tijolo no edifício que a relatoria de Renan Calheiros pretende erigir caracterizando a responsabilidade de resto óbvia do presidente no manejo da pandemia.

Não é pouco, evidentemente, mas com alcance muito frágil além da retórica: não houve, disse o ex-ministro, nenhuma orientação formal sobre a coloroquina. Até as emas da Alvorada foram expostas à propaganda do remédio pelo presidente, como se sabe, mas o dado perde algo de sua contundência.

Afinal de contas, se o relato de Teich tem importância histórica, ele era suplantado pelas vociferações autoincriminatórias do próprio Bolsonaro ao longo do dia.

Das usuais ameaças a estados à suspeita de uma guerra biológica promovida pela China, passando por uma moeda de nióbio, a quarta (5) teve de tudo do outro lado da praça dos Três Poderes.

Nesse sentido, a carta apresentada no seu depoimento de terça (4) pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) tem mais eficácia. E coloca em evidência mais uma anomalia que sugere crime de responsabilidade de Bolsonaro na crise.

Se o tom vago e a falta de informações em tom de inquisição acadêmica de Teich soam bem para ponderações de um médico, elas parecem desastrosas na figura de um ministro da Saúde em plena pandemia.

Alguém pode argumentar que foi exatamente isso que Bolsonaro quis ao colocar o simpatizante light, se é que tal coisa existe, no cargo após a queda de Mandetta. E isso em si, assim com os inúmeros "eu não sabia" sobre a promoção da cloroquina, é prova de ingerência política na Saúde.

No mais, a superficialidade anunciada desnudou os limites técnicos da CPI, de lado a lado.

A exasperação de Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em tentar arrancar alguma afirmação mais dura de Teich e a de Eduardo Girão (Podemos-CE) em fazê-lo validar tratamentos ineficazes mostra que a comissão tem um longo caminho para qualificar seus questionamentos.

Em favor dos senadores que querem incriminar Bolsonaro, CPIs encerram curvas de aprendizado. Todo o capítulo acerca de vacinas promete deixar a retórica em favor das minutas e comunicados ignorados pelo Planalto, por exemplo.

Até chegar a vez do general Eduardo Pazuello, no dia 19, dados poderão ser reunidos e contradições, compiladas. E sempre pode haver algum escorregão ou surpresa à la Duda Mendonça entregando o caixa dois de Lula em 2005.

Para os governistas, até aqui não funcionou a tentativa de trazer gastos estaduais na crise para o palco da CPI, por mais que haja casos em apuração.

Tentar inocentar a cloroquina e afins também não parece promissor: a assertividade de Luiz Carlos Heinze (PP-RS) lendo dados sobre tratamento precoce com a autoridade de um parente no WhatsApp, beira o folclórico.

O holofote todo está sobre Bolsonaro. Salvo uma novidade gritante, talvez com uma mãozinha da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República, as alternativas são escassas.

O que Renan fará com o prédio que está construindo de forma paciente é objeto de evidente especulação. Mas, tijolo a tijolo, ele está subindo.

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