Política CPI da Covid

CPI vai cobrar Ernesto Araújo sobre negociações com a China na pandemia

Senadores também querem verificar se ex-chanceler priorizou importação de insumos para tratamento precoce em detrimento de vacinas
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo Foto: Adriano Machado / Reuters / 29-04-19
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo Foto: Adriano Machado / Reuters / 29-04-19

BRASÍLIA — Em depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira, o ex-chanceler Ernesto Araújo deve ser questionado sobre a sua relação conflituosa com a China. O objetivo é verificar se as críticas de Ernesto ao país, principal parceiro comercial do Brasil, prejudicaram as tratativas para compra de vacinas e insumos contra o novo coronavírus. O ex-ministro de Relações Exteriores também deve ter que falar sobre como a tese da imunidade de rebanho era tratada no governo e se existia um aconselhamento paralelo ao presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

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Além disso, parlamentares da oposição pretendem indagar Ernesto sobre o esforço feito no âmbito internacional para garantir a compra de medicamentos sem comprovação científica que seriam utilizados no tratamento precoce da Covid-19. O intuito, neste caso, é verificar se o Ministério de Relações Exteriores priorizou outras negociações em detrimento da aquisição de vacinas.

— Queremos saber das tratativas que foram feitas e também das que (eles) deixaram de fazer em relação às vacinas e também em relação à importação de insumos para o tratamento precoce... A relação com a China, de que forma isso impactou — disse o relator Renan Calheiros (MDB-AL), ao GLOBO.

E acrescentou:

— Tem também a questão da imunização de rebanho, porque ele acompanhou muitas conversas e, em tese, defendia isso. Por isso, a prioridade dada ao tratamento precoce e não à vacinação — avaliou Renan.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) considera que o principal foco será saber de que forma Ernesto atuou para ajudar o Brasil a comprar mais vacinas no exterior.

—- Ele tem que falar quais foram as intervenções do MRE para comprar vacina para o Brasil. O Brasil tem boa relação com todos esses países que produzem vacina. Ele deve ter se esforçado, né? — questionou, em tom irônico.

Para senadores da oposição e da ala independente, que compõem o grupo 'G7', uma possível omissão do Ministério de Relações Exteriores para a compra de vacinas representaria mais um indício de que o governo federal não se empenhou para adquirir os imunizantes no auge da crise sanitária.

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Os oposicionistas planejavam ouvir Ernesto desde antes da instalação da CPI. Na minuta do plano de trabalho do colegiado, constava como um dos focos a atuação do Brasil em âmbito internacional para verificar quais foram as ocasiões em que o ministério atuou para conseguir vacinas e insumos para o país e se “questões ideológicas provocaram o insucesso da empreitada”.

Apesar de críticas abertas e veladas ao governo chinês em sua gestão, Ernesto afirmou, após deixar a pasta, que construiu uma política "não de afastamento em relação à China, mas de objetividade e cautela".