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PAZUELLO DAY 2

Senadores fazem 'lição de casa' e complicam a vida de Pazuello

O ex-ministro da Saúde e general da ativa Eduardo Pazuello durante depoimento à CPI da Covid, no Senado Federal, na última quarta-feira (19)

O resumo da ópera da parte relevante do segundo dia de depoimento de Eduardo Pazuello é que a interrupção da oitiva na noite de quarta-feira serviu para que o G7, maioria da CPI da Covid, se reorganizasse, estudasse os assuntos que estava deixando sem contraposição e apontasse, finalmente, as mentiras, contradições, lacunas e sofismas do general.

Bizarro que tenham precisado de um depoimento em dois dias para fazer o que era sua obrigação: reunir documentos, frases, datas, decisões, vídeos e relatórios de órgãos de controle acerca daqueles temas que já eram conhecidos previamente, e que seriam o foco do depoimento do ex-ministro.

Não era surpresa para ninguém que cloroquina, vacina, o caos em Manaus e a desinformação transmitida pelo Ministério da Saúde seriam objeto da oitiva. Ainda assim, na quarta, Pazuello desfilou aquilo que decorou em media training sem ser interrompido pelo relator, Renan Calheiros, e pelos demais senadores.

A coisa ameaçava esquentar com o senador Eduardo Braga quando a sessão foi suspensa. A interrupção fez com que os mais proeminentes senadores do G7 se reunissem e acertassem os ponteiros. As assessorias foram mobilizadas para levantar dados que deveriam ter levantado em tempo real -- afinal, se os tuiteiros conseguem, como assessores bem pagos não?

Não é necessário contratar agências de fact-checking: eu alertei em uma coluna no GLOBO antes do início da fase de depoimentos que uma CPI acontece, mesmo, na cozinha, e para isso era necessário que senadores requisitassem epidemiologistas, especialistas em SUS, técnicos do TCU, auditores fiscais e outros especialistas para perscrutar depoimentos, analisar documentos e apontar caminhos de prova.

Isso será tão mais necessário a partir de agora, uma vez que os depoimentos que mobilizam a atenção da opinião pública tendem a rarear. A CPI terá de começar a produzir resultados, e os senadores sabem bem disso.

Quanto a Pazuello, ficou evidente que falseou a verdade em relação à responsabilidade federal na tragédia de Manaus, na decisãod e não comprar vacina da Pfizer, no atraso do fechamento de contrato com o Butantan para o fornecimento da Coronavac por ordem de Jair Bolsonaro, no tal "tratcov", o aplicativo criminoso que receitava cloroquina para grávidas, e na insistência em negar uma ação intensiva em defesa do tal tratamento precoce com o kit covid.

Mais: se a intenção do ex-ministro era proteger Bolsonaro, saiu pela culatra. Ele acabou deixando claro que a medida provisória que poderia facilitar a compra da vacina da Pfizer empacou no Palácio do Planalto, e revelou que o presidente participou de uma reunião que decidiu pela não intervenção federal em Manaus, pedida por parlamentares do Amazonas. Como ninguém há de acreditar que Bolsonaro seria apenas ouvinte numa reunião deste tipo, uma vez que adora dizer quem tem a "caneta Bic", a conclusão óbvia é que foi o presidente que decidiu que não era o caso de proceder a essa intervenção.

Os senadores da oposição acreditam que "viraram o jogo" em relação ao primeiro dia de depoimento, no qual a base aliada tentou vender a narrativa de que Pazuello tinha ido bem. Prova da preocupação da tropa de choque com os complicadores trazidos pela inquirição do general foi a tentativa de Flávio Bolsonaro e Marcos Rogério empastelarem os questionamentos dos senadores mais proeminentes da comissão, que encantuaram o ex-ministro.

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