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Após adiamento, Nasa lança sonda que irá ‘tocar’ o Sol

Foguete com a Solar Parker decolou de Cabo Canaveral na madrugada deste domingo

O poderoso foguete Delta IV foi lançado da base de Cabo Canaveral, na Flórida
Foto: Mike Brown / REUTERS
O poderoso foguete Delta IV foi lançado da base de Cabo Canaveral, na Flórida Foto: Mike Brown / REUTERS

CABO CANAVERAL, Flórida — Após o adiamento no sábado, por conta de um problema técnico, a agência espacial americana lançou com sucesso a Sonda Solar Parker, primeira nave espacial construída para “tocar o Sol”. Às 4h31min deste domingo (pelo horário de Brasília), o poderoso foguete Delta IV deixou a base de Cabo Canaveral, na Flórida. Menos de uma hora depois, o operador de lançamento informou que a sonda se separou do foguete para dar início à sua odisseia espacial.

— No momento, a sonda está bem — confirmou o operador.

Entenda:

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Do tamanho de um carro e custo de US$ 1,5 bilhão, a Sonda Solar Parker tentará alcançar a corona, a “atmosfera” de nossa estrela, para tentar resolver um mistério que há tempos intriga os cientistas: por que sua temperatura é muito maior do que a da própria superfície do Sol? Enquanto a temperatura na superfície do Sol gira em torno de 5,5 mil graus Celsius, na corona ela sobe para entre mais de 1 milhão até 10 milhões de graus Celsius, dependendo de quão longe se está da estrela.

— A energia do Sol está sempre fluindo pelo nosso mundo — lembrou Nicola Fox, cientista de projeto da missão junto ao Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, EUA. — Mesmo que o vento solar seja invisível, podemos vê-lo circulando pelos polos como a aurora, que são belas, mas revelam a enorme quantidade de energia e de partículas que caem como cascata em nossa atmosfera. Ainda não temos um bom entendimento dos mecanismos que empurram o vento em nossa direção, e é isso que estamos indo descobrir.

Para se aproximar da nossa estrela, a sonda foi equipada com um escudo super-resistente. Fabricado com compostos de carbono e com aproximadamente 11,5 centímetros de espessura, o escudo será capaz de resistir a temperaturas de cerca de 1,4 mil graus Celsius enquanto mantém os instrumentos da sonda funcionais em temperatura ambiente, em torno de 29 graus Celsius. Ele não precisa resistir aos milhões de graus da corona porque ela é muito tênue, isto é, tem relativamente poucas partículas, o que reduz a efetiva troca de calor com o escudo da nave.

Objeto mais rápido já construído

Segundo o planejamento da missão, ela deve chegar a 6,2 milhões de quilômetros da superfície do Sol, já dentro da corona, que alcança cerca de 8 milhões de quilômetros. Nos sete anos previstos de operação, a Sonda Solar Parker deve cruzar a corona 24 vezes, a velocidades de cerca de 720 mil km/h nas maiores aproximações, tornando-se também o objeto mais rápido já construído pela Humanidade. A essa velocidade, uma viagem entre Tóquio e Nova York levaria apenas um minuto.

Mas o caminho até o Sol não será fácil. Ao contrário do que se imaginaria, chegar tão perto de nossa estrela exige muita energia, ainda mais que para alcançar os confins do Sistema Solar, como fez a New Horizons, outra sonda da Nasa, em sua viagem rumo a Plutão e além. A Terra orbita o Sol a uma velocidade de cerca de 100 mil km/h numa trajetória “lateral” em relação a ele, o que significa, pela “lei da inércia”, que a nave vai partir de nosso planeta seguindo basicamente a mesma trajetória com a mesma velocidade.

O caminho da Parker Solar Probe até o Sol também vai ser difícil. Ao contrário do que se imaginaria, chegar tão perto de nossa estrela exige muita energia, ainda mais que para alcançar os confins do Sistema Solar, como fez a New Horizons, outra sonda da Nasa, em sua viagem rumo a Plutão e além. A Terra orbita o Sol a uma velocidade de cerca de 100 mil km/h numa trajetória “lateral” em relação a ele, o que significa, pela “lei da inércia”, que a nave vai partir de nosso planeta seguindo basicamente a mesma trajetória com a mesma velocidade.

Assim, a Parker Solar Probe precisa “perder” esta energia para “cair” em direção ao Sol. Como não há foguetes tão poderosos em operação atualmente, a sonda fará isso ao longo de sete anos após seu lançamento realizando sete sobrevoos por Vênus para “emprestar” energia orbital ao planeta e gradualmente diminuir sua distância do Sol nos seus chamados periélios, o ponto de maior aproximação de nossa estrela na sua órbita.

— A energia de lançamento necessária para alcançar o Sol é 55 vezes a necessária para chegar a Marte, e o dobro para alcançar Plutão — resume Yanping Guo, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins e responsável pelo desenho da trajetória da missão.

Previsão das tempestades solares

A sonda foi batizada em homenagem a Eugene Parker, de 81 anos, professor emérito da Universidade de Chicago que previu a existência do vento solar, o constante fluxo de partículas em alta velocidade emitido por nossa estrela. É a primeira vez que a Nasa batiza uma espaçonave com o nome de um cientista ainda vivo.

Um vídeo publicado pela agência espacial mostra a reação de Parker ao ver o foguete decolando.

— A Sonda Solar Parker nos ajudará a fazer um trabalho melhor na previsão de quando ocorrerá uma perturbação dos ventos solares que poderá afetar a Terra — comentou Justin Kasper, pesquisador da Universidade de Michigan também envolvido no projeto.

Desde os anos 1960 que os cientistas sonham em construir uma máquina deste tipo, mas somente agora existem tecnologias para a construção do escudo. As ferramentas da sonda deverão medir as partículas de alta energia, as flutuações magnéticas e capturar imagens para melhor compreensão da corona. Além do calor extremo, é nesta região que acontecem as erupções solares, explosões que liberam plasma e radiação eletromagnética com potencial para provocar danos na Terra ao interromper a rede elétrica.

— O Sol está cheio de mistérios — comentou Fox. — Estamos prontos. Sabemos as perguntas para as quais queremos respostas.