Por Rafael Cardoso, G1 MA — São Luís


Navio onde estão 24 tripulantes que são acompanhados por conta da Covid-19 — Foto: Reprodução/TV Mirante

Alvo de preocupação das autoridades de saúde, o navio MV Shandong da Zhi trouxe consigo os seis primeiros casos confirmados da cepa indiana B.1.617, do novo coronavírus, ao Brasil.

A embarcação está em alto mar, a cerca de cerca de 35 km de São Luís, com 23 tripulantes: 14 deles com Covid-19 e nove seguem sem sintomas da doença. Além deles, um tripulante indiano foi internado em um hospital privado de São Luís, com a variante indiana, e o quadro de saúde é estável.

De bandeira de Hong Kong, Shandong da Zhi foi fretado pela Vale para o transporte de minério de ferro. É um navio cargueiro construído em 2012. Seu comprimento total é de 360 ​​metros e sua largura é de 65 metros.

Rota do navio Shandong da Zhi, da África do Sul até São Luís/MA — Foto: Arte/TV Mirante

Inicialmente, a embarcação saiu do Terminal Marítimo Teluk Rubiah, na Malásia, no dia 27 de março deste ano. Depois, o navio passou pela Cidade do Cabo, na África do Sul, onde embarcaram os 24 tripulantes.

O destino da viagem era o Porto da Madeira, em São Luís. No entanto, um tripulante de nacionalidade indiana, de 54 anos, começou a sentir os sintomas da Covid-19 no dia 4 de maio e teve febre. A confirmação da Secretaria de Estado da Saúde (SES) ocorreu no sábado (15) e, por causa disso, a embarcação foi proibida de atracar na capital maranhense e ficou em alto mar.

Navio Shandong da Zhi saiu da Malásia com destino a São Luís — Foto: Arte/G1

De helicóptero, o paciente indiano foi levado a um hospital privado de São Luís. Dois dias depois, outros dois tripulantes sentiram sintomas da Covid-19 e também foram encaminhados para o mesmo hospital. Ambos tiveram alta hospitalar na terça (18) e retornaram à embarcação.

Confirmação da cepa indiana

Após a coleta de amostras, o Instituto Evandro Chagas foi responsável pela análise das variantes presentes nos tripulantes. Nesta quinta (20), o secretário de saúde do Maranhão, Carlos Lula, confirmou que seis tripulantes (incluindo o internado) estão com a variante indiana do coronavírus (chamada de B.1.617), que é mais transmissível e ainda não tinha sido registrada no país.

Secretário Carlos Lula confirma durante entrevista coletiva primeiro caso de variante indiana no Maranhão — Foto: Adriano Soares/ Tv Mirante

Ainda segundo Carlos Lula, 100 pessoas que tiveram contato com os tripulantes infectados serão testadas, acompanhadas e isoladas.

"A variante já estava presente em 51 países e aqui na América do Sul só estava presente na Argentina. O Brasil acaba sendo o segundo país da América do Sul com confirmação da cepa", disse o secretário.

Preocupação mundial

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a variante B.1.617 está sendo classificada como um tipo "digno de preocupação global".

A OMS disse que essa linhagem foi identificada primeiramente na Índia em dezembro, embora uma versão anterior tenha sido detectada em outubro de 2020 (assista ao vídeo abaixo).

Identificada variante indiana do coronavírus em tripulantes de navio no Maranhão

Identificada variante indiana do coronavírus em tripulantes de navio no Maranhão

No último dia 14, o governo federal proibiu a entrada de estrangeiros em voos com origem na Índia, conforme edição extra do Diário Oficial da União. A decisão atende recomendação feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) devido aos sucessivos recordes de casos e mortes no país.

A variante indiana

A variante indiana B.1.617 possui três versões, com pequenas diferenças (B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3), descobertas entre outubro e dezembro de 2020. As três versões apresentam mutações importantes nos genes que codificam a espícula, a proteína que fica na superfície do vírus e é responsável por conectar-se aos receptores das células humanas e dar início à infecção.

Entre as alterações, uma se destaca: E484Q tem algumas similaridades com a E484K, alteração encontrada nas outras três variantes de preocupação global. São elas: a B.1.1.7 (Reino Unido), a B.1.351 (África do Sul) e a P.1 (Brasil, inicialmente detectada em Manaus).

Até o momento, cientistas ainda não conseguiram estabelecer sobre a variante indiana:

  • A sua real velocidade de transmissão e se ela é mais transmissível
  • Se a variante está relacionada a quadros de Covid-19 mais graves, que exigem internação e intubação
  • O quanto as mudanças genéticas interferem na eficácia das vacinas já disponíveis

Indícios de maior transmissibilidade

Uma análise da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicada em 9 de maio, diz que a piora da pandemia na Índia tem uma série de fatores, "incluindo a proporção de casos provocados por variantes com maior transmissibilidade".

Mas o relatório também aponta outros ingredientes fundamentais para a crise sanitária no país, "como aglomerações relacionadas a eventos religiosos e políticos e a redução da aderência às medidas preventivas de saúde pública e sociais", como o uso de máscaras e o distanciamento físico.

No Reino Unido, que tem um dos melhores sistemas de vigilância genômica do mundo e lida com uma das variantes de preocupação global (a B.1.1.7), o número de casos causados pela B.1.617 quase triplicou em uma semana.

Em um mês, a participação relativa da cepa indiana no total de casos que foram sequenciados geneticamente no Reino Unido subiu de 1% para 9%. Em algumas regiões, como Bolton, Blackburn, Bedford e Sefton, a B.1.617 já representa a maioria dos casos analisados e já se tornou dominante.

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