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Morre a atriz Camilla Amado aos 82 anos

Último trabalho da artista na TV foi na novela da Globo 'Éramos Seis'
Camilla Amado interpretou a Tia Candoca na novela 'Éramos seis' Foto: Cesar Alves / Globo/Cesar Alves
Camilla Amado interpretou a Tia Candoca na novela 'Éramos seis' Foto: Cesar Alves / Globo/Cesar Alves

Morreu neste domingo, em decorrência de um câncer, aos 82 anos de idade, a atriz Camilla Amado. A informação foi confirmada por sua assessoria de imprensa.

Camilla nasceu no Rio de Janeiro e começou a atuar no fim da década de 195. Na TV, estreou em 1969, na novela "Um Gosto Amargo de Festa", da TV Tupi. Seu último trabalho em novelas foi em "Éramos Seis", em agosto de 2019. Ela atuou ainda em produções como "Tapas & Beijos", "A Casa das Sete Mulheres", "Sítio do Picapau Amarelo" e "Cordel Encantado".

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Ligada ao teatro experimental, ela trabalhou com grandes dramaturgos do gênero. Algumas de suas atuações marcantes foram em trabalhos como "A Vida Impressa em Dólar", de Clifford Odetts, com direção de Paulo Afonso Grisolli de 1962, "A Exceção e a Regra", de Bertolt Brecht, dirigida por Antônio Pedro em 1967, e "O Segredo do Velho Mudo", de Nelson Xavier, com direção de Cecil Thiré em 1972.

No cinema, pela participação em "O casamento", adaptação da obra de Nelson Rodrigues por Arnaldo Jabor, em 1976, ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante do Festival de Gramado e o Prêmio Especial do Júri. Seu último filme foi "De perto ela não é normal", de Suzana Pires, em 2020.

Em 2013, a atriz protagonizou um momento marcante na entrega do prêmio da Associação dos Produtores de Teatro do Rio (APTR), quando deu um beijo na boca da colega Fernanda Montenegro em protesto contra a indicação do deputado Marco Feliciano (PSC)  à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Atrizes deram beijo em protesto contra do deputado Marco Feliciano Foto: Cristina Granato / Infoglobo
Atrizes deram beijo em protesto contra do deputado Marco Feliciano Foto: Cristina Granato / Infoglobo

No ano passado, ela retomou uma parceria profissional, iniciada há 40 anos, com o ator Marco Nanini e gravou em forma de videoarte a peça “ As cadeiras ”, clássico do teatro do absurdo de Eugène Ionesco (1909-1994). Na cena adaptada para os tempos de pandemia da Covid-19, a dupla ficou separada bolhas de plástico, promovendo uma reflexão sobre a incomunicabilidade humana.

Formadora de talentos

Suzana Pires destacou o lado professora de Camilla Amado, que dava aulas de teatro em sua casa, na Gávea. Segundo a atriz e dramaturga, ela amava entrar em cena, "mas formar uma pessoa artisticamente era mágico". Pires lembrou que conheceu Amado quando ainda tinha 17 anos e estava decidindo o que ia fazer. Ela então lhe pediu para decorar um monólogo.

— Fiz um texto do Caio Fernando Abreu. Ela disse: "É, você tem talento, mas não vou te dar aula. Você vai arrumar minha biblioteca". E aí comecei a ler dramaturgia. Eram prateleiras e prateleiras, desde tragédia grega até física quântica. Eu vivia na casa dela, foi lá que decidi fazer vestibular de filosofia, foi lá que ela disse que eu também era autora — conta Suzana Pires — Camilla via o que você era capaz antes mesmo de você conceber isso. Foi na Camilla que me formei gente.

A atriz Andrea Beltrão lamentou a morte de Camilla, a quem se referiu como "Mestra", uma "mulher maiúscula, livre, de sabedoria infinita".

— Quando tivermos liberdade outra vez, os teatros se abrirão, e ela estará lá, no tablado, lugar que ela tanto amava e que conhecia profundamente, em todos os seus mistérios — disse Beltrão.

O produtor Eduardo Barata, presidente da Associação Produtores de Teatro (APTR), destacou o "amor" que marcava a atuação da atriz  "no palco, na amizade, na defesa pelo país e na proteção dos mais vulneráveis".

— Um talento para além das estrelas, um mergulho teatral e na alma das artes. Camilla é Teatro, com T MAIÚSCULO. À frente da sobrevivência, muito além, estava a arte, a palavra, a dramaturgia, a encenação, os colegas, o público e o palco — afirmou Barata.

Camilla deixa dois filhos, Rafaela e Rodrigo, frutos do casamento com o jornalista Carlos Eduardo Martins, que morreu em 1968. Ela também foi casada com o ator Stepan Nercessian por 14 anos.

— Crescemos juntos em muitas coisas. Foi uma namorada, mas, ao mesmo tempo, mestra. Vivemos juntos intensamente. Era uma artista extraordinária, não se acomodava em situação alguma — diz o ator.

Stepan também frisou o lado educador da ex-companheira.

— Quando chegavam para mim dizendo "meu filho quer fazer teatro", eu falava: "Manda falar com a Camilla. Se passar por ela, é artista mesmo". E mesmo quem não seguia carreira, ampliava as possibilidades de vida. Além da didática do teatro, ela trabalhava o crescimento humano. Ela sempre dizia: "A gente não deve se apequenar".