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Coronavírus Brics

Pressionado, Biden quer virar o jogo da geopolítica da vacina

Americano aposta alto para superar China e Rússia, que surfaram sozinhos por um ano

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São Paulo

Durante esse primeiro ano e meio de pandemia de Covid-19, os Estados Unidos assistiram às rivais China e Rússia ganharem terreno mundo afora com uma eficiente mostra de "soft power".

Era a geopolítica da vacina, exemplificada pelos acordos comerciais das fabricantes chinesas, como os que garantiram o início da campanha de imunização no Brasil, e a agressiva promoção da Sputnik V no exterior.

Biden fala a militares americanos na base britânica na qual pousou nesta quarta, antes da reunião de cúpula do G7
Biden fala a militares americanos na base britânica na qual pousou nesta quarta, antes da reunião de cúpula do G7 - Kevin Lamarque/Reuters

A Índia, outro polo mundial de vacinas, ensaiou entrar no jogo, mas o pesadelo do descontrole da pandemia no país neste ano travou sua assertividade.

Mas é um jogador que voltará a campo, dados o tamanho de seu parque produtor de imunizantes e a certeza crescente da necessidade de vacinação anual contra a peste.

Faltava Washington. Até 20 de janeiro, sob a administração de Donald Trump, apesar de investimentos grandes em imunizantes, a vacinação doméstica era algo incerto nos EUA.

A chegada de Joe Biden ao poder acelerou grandemente o processo, provando o peso da vontade política no topo da cadeia de comando, já que as condições objetivas eram semelhantes para ambos os presidentes.

Agora, com uma parcela razoável de sua população vacinada, Biden começou a sentir a pressão por maior solidariedade internacional. Ela veio principalmente da OMS (Organização Mundial da Saúde), mas também de Pequim, Moscou e de países mais pobres.

O americano está numa posição privilegiada. Já tem em mãos 60 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford que comprou —o imunizante não tem nem autorização para uso nos EUA, que só aplicam as americanas da Pfizer, Moderna e Janssen.

Biden falou em distribuir tais vacinas, além de outros 20 milhões de doses, até o fim deste mês. Mas os dados ainda foram vistos como modestos, assim como seu plano inicial de usar a rede de aliados na Ásia para facilitar o acesso a imunizantes.

A serem verdadeiros os números adiantados pelo jornal Washington Post, Biden poderá agora fazer história.

Se distribuir 500 milhões de doses de vacinas para cem países, presumivelmente aqueles mais necessitados, o americano terá ultrapassado todo o esforço feito pelos regimes autoritários em Pequim e Moscou.

Claro, antes de tudo é preciso que isso seja verdade, que haja escala industrial da multibilionária Pfizer e que as condições sejam detalhadas. Mas o fato é que politicamente ele pode fazer isso: há dinheiro e seus próprios cidadãos estão atendidos. Barack Obama, de quem Biden foi vice de 2009 a 2017, ganhou um Nobel da Paz sem ter feito nada.

Um dos pontos centrais é o destino dos fármacos. A China colocou dois pés na América Latina, ao firmar o acordo de produção da Coronavac com o governo de São Paulo e ao ser a principal fornecedora da campanha de imunização chilena.

Parece improvável, especialmente devido à relativa posição melhor do Brasil como centro produtor de vacinas, que Biden vá olhar para cá.

Além disso, há um preconceito grande contra o governo negacionista do presidente Jair Bolsonaro, comprovado pelo relato de empresários americanos que trabalham no Brasil e tentam azeitar as relações entre os países, prejudicadas pelo alinhamento do titular do Planalto com Trump.

Já o caso russo é diverso. O grande campo de batalha da Sputnik V é a Europa, onde foi aceita em países menores como a Hungria, mas ainda está enfrentando barreiras regulatórias para ser aprovada de forma ampla —apesar da boa vontade da Alemanha e da França.

Ali não parece ser o foco do plano de Biden, que está correndo atrás do tempo perdido para remediar a relutância de olhar para fora de suas fronteiras.

A questão é que ele pode fazê-lo: de forma até controversa, a vida volta lentamente ao normal no país, que já vacinou 42% de sua população elegível com duas doses.

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