Saúde

'Precisamos vacinar a população’, diz Queiroga sobre o fim da obrigatoriedade de máscara para vacinados

Mais cedo, Bolsonaro declarou que ministério desobrigaria o uso também para quem já se contaminou. Medida vai na contramão do que é defendido por especialistas
Miinistro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante segundo depoimento à CPI da Covid Foto: Jefferson Rudy / Jefferson Rudy/Agência Senado
Miinistro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante segundo depoimento à CPI da Covid Foto: Jefferson Rudy / Jefferson Rudy/Agência Senado

BRASÍLIA — O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, negou nesta quinta-feira que desobrigará o uso de máscara facial neste momento para pessoas que já se vacinaram contra a Covid-19. No entanto, a medida é estudada pelo ministério. Ainda não há data para que seja adotada, mas a expectativa dele é que seja em breve.

— Queremos que seja o mais rápido possível, mas precisamos vacinar a população — afirmou o cardiologista.

Parecer à vista: Bolsonaro diz que Ministério da Saúde vai desobrigar uso de máscaras para vacinados e para os que já se contaminaram

Sem detalhar, o cardiologista disse que o presidente Jair Bolsonaro pediu um estudo sobre o relaxamento do uso de máscaras no país, a exemplo do que tem ocorrido em outros países. Contudo, negou que houvesse pressão do governo para adoção da medida.

— O presidente não me pressiona, não. Eu sou o ministro dele. Nós trabalhamos em absoluta sintonia — disse Queiroga à CNN.

O que diz a ciência: Especialistas criticam medida proposta por Bolsonaro de desobrigar vacinados e quem já se infectou de usar máscara

Nações que conseguiram controlar a pandemia por meio de vacinas têm flexibilizado as restrições . Os Estados Unidos, por exemplo, retiraram a obrigatoriedade do uso de máscara em locais públicos, exceto hospitais e transportes públicos, em 13 maio. No entanto, o país já se encontrava em ritmo avançado de vacinação e com imunizantes de maior eficácia em relação aos usados no Brasil. À época, 46% da população norte-americana havia recebido pelo menos a primeira dose.

O Brasil, no entanto, tem patinado na imunização e viu o ritmo de aplicação de doses desacelerar durante o mês passado em comparação a abril. Reduções sucessivas nas previsões para a distribuição de doses também impactam negativamente no combate à doença. Só para junho o goveno já diminuiu a previsão de doses cinco vezes . Agora, são esperadas 37,9 milhões de doses para o mês ante as 56,5 milhões anunciadas em março.

Em meio a alertas de terceira onda e à detecção das variantes delta e beta, o Brasil registrou 2.344 mortes e 89.802 novos casos de Covid-19 nas últimas 24 horas. Ao todo, 482 mil vidas já foram ceifadas pela doença no país, que acumula 17,2 milhões de infectados. Os dados, atualizados nesta quinta, são do consórcio de imprensa do qual o GLOBO faz parte.

Mais cedo, Bolsonaro declarou que o ministério desobrigaria o uso não só para vacinados, mas também para quem já se contaminou. O presidente, crítico ao lockdown e ao uso de máscaras, não explicou quando o parecer seria publicado nem deu detalhes.

— Por coincidência, olha a matéria para a imprensa, acabei de conversar com um tal de Queiroga. Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar esse símbolo, que obviamente tem sua utilidade, para quem está infectado — declarou Bolsonaro.

A medida contraria protocolos sanitários defendidos por cientistas para o combate à Covid-19. O uso de máscara facial pode impedir a infecção pelo novo coronavírus ou, pelo menos, fazer com que a carga viral seja mais baixa. Pesquisas mostram que as vacinas protegem, sobretudo, contra mortes e casos graves de Covid-19, mas não eliminam a possiblidade de transmissão.

Especialistas também argumentam que o contato entre pessoas imunizadas e que não receberam a vacina pode criar um ambiente propício para o surgimento de cepas que escapem à proteção vacinal. Essa é uma das hipóteses para o surgimento da variante gamma, descoberta em Manaus. Pesquisadores da USP e de Oxford mostra que 31% dos casos em janeiro foram reinfecções por essa mutação, mais transmissível que o coronavírus original.