Publicidade

PANDEMIA

Ao exigir adesão a medida contra máscaras, Bolsonaro se vinga de Queiroga por fala na CPI

Bolsonaro e Queiroga no Palácio do Planalto, em setembro de 2020

Jair Bolsonaro mal conseguia disfarçar o regozijo sádico ao dizer que Marcelo Queiroga vai assinar uma medida normativa qualquer desobrigando pessoas que já se vacinaram -- e até as que já se contaminaram, pelo que se pode depreender da fala delinquente do presidente -- de usar máscaras.

Trata-se de uma coisa só: vingança de Bolsonaro contra o ministro da Saúde pelas suas declarações da véspera na CPI da Covid, quando em vários momentos se diferenciou das falas e das condutas do presidente e disse que não pode ser seu "censor".

Bolsonaro quer adesão total de Queiroga à sua política negacionista no trato da pandemia, ou dará a ele o destino imposto a Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

O presidente não gostou de ver o seu ministro da Saúde contrariar sua defesa do  tratamento precoce, sabidamente ineficaz, defender o uso de máscaras e de distanciamento social como as mais eficazes medidas "não farmacológicas" para enfrentar a pandemia e dizer que ela só será debelada quando a maior parte da população estiver vacinada.

O ministro também não mostrou entusiasmo pela realização da Copa América no Brasil e disse em muitas ocasiões que, após 70 dias, sua gestão estaria fazendo mudanças de rumo na pasta, e não promovendo a continuidade da gestão de Eduardo Pazuello.

Bolsonaro claramente não gostou, se enfureceu. E agora expõe publicamente o ministro à decisão de mostrar se é totalmente fiel ao chefe.

Acontece que o que está em jogo aqui é o juramento ético feito pelo médico Queiroga. Ele vai rasgar esse compromisso com a vida e subscrever uma medida que claramente vai contra tudo que a ciência e a medicina preconizam no enfrentamento da pandemia?

Pessoas já vacinadas e que tiveram covid-19 podem se reinfectar e podem ainda transmitir o vírus. Só é seguro prescindir de máscaras em locais públicos depois que um grande percentual da população já estiver vacinada, como têm feito vários países que já avançaram na imunização.

O Brasil ainda não tem 15% da população apta a se vacinar com duas doses. Os melhores prognósticos são de que apenas depois de outubro esse percentual seja próximo ao preconizado pela Ciência, ou seja, de pelo menos 70% da população.

Marcelo Queiroga está diante de uma escolha definitiva: vai ficar com Bolsonaro ou com a medicina?

Leia também