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Alvo de CPI, Arthur Weintraub diz: "Presidente é simples, eu fazia resumos"

Arthur e Abraham Weintraub fizeram live para falar sobre participação de Arthur nas ações de combate à pandemia de covid-19 - Reprodução/Youtube Arthur Weintraub
Arthur e Abraham Weintraub fizeram live para falar sobre participação de Arthur nas ações de combate à pandemia de covid-19 Imagem: Reprodução/Youtube Arthur Weintraub

Sara Baptista

Do UOL, em São Paulo

06/06/2021 18h05Atualizada em 07/06/2021 09h51

Bastante mencionado na CPI da Covid por alguns depoentes que o apontam como organizador de um gabinete paralelo que atuaria de modo extraoficial na orientação de Jair Bolsonaro (sem partido) nas ações de combate à pandemia de covid-19 no país, o ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub realizou hoje nova nova transmissão nas redes sociais para apresentar parte de sua defesa.

Falando então de bastidor. Teve o problema [a pandemia], a gente começou a buscar solução. Eu não sou médico. O diretor da OMS também não é médico. É uma questão de eu ter a possibilidade na época de ler as coisas e conseguir falar com as pessoas. E aí eu comecei a falar com os pesquisadores, por exemplo, Paulo Zanoto, virologista de Oxford. Quando eu comecei a conversar com o presidente isso chegou ao conhecimento das pessoas. O presidente é uma pessoa simples, eu não vou ficar passando paper científico para ele, eu tinha que fazer um resumo das coisas."
Arthur Weintraub

Durante a live, Arthur Weintraub voltou a ressaltar o próprio currículo e a argumentar que atuava como ponto de contato entre cientistas e o presidente, de quem disse ter se aproximado por sua condição de pesquisador. Também repetiu críticas feitas por presidente à OMS (Organização Mundial da Saúde).

Eu comecei a assessorar em março, abril, as informações eu fui passando pra ele. Aí ele começou a ter os contatos com os médicos, a dra Nise. Eu fazia o contato, o presidente me dizia assim: "Eu quero conversar", e eu já passava diretamente. Eu digo para vocês, eu cheguei a entregar folhas e no dia seguinte estava tudo grifado, ele lia."
Arthur Weintraub

"Em fevereiro de 2020 começou a discussão, chegou ao governo algumas informações, e era o que estava à disposição pública. Diante daquele quadro que tinha de emergência, não se tinha ainda a dimensão do problema. Ou era [grande] demais, de que de 2 a 4 milhões de brasileiros que iriam iam morrer, ou era de que seria uma gripe como a influenza. Era muito difícil ter a dimensão."

É como se eu tivesse cometido um crime por mostrar para o presidente o que está sendo pesquisado."
Arthur Weintraub

Eu não tive nenhuma participação com a parte de vacinas, naquele momento também não existia. Não tive nenhum contato em relação a isso com pesquisa. Depois chegou setembro eu saí do governo, não tive mais contato, não me perguntaram mais também. Foi uma fase que eu tive profissional. Foi uma fase profissional no governo. O presidente sempre me deu total abertura e liberdade para falar com ele tudo. Depositou a confiança em mim."
Arthur Weintraub

A transmissão aconteceu no perfil de seu irmão, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, também presente, que o defendia enfaticamente e, ecoando fala de Bolsonaro em suas últimas aparições públicas, criticou de forma indireta os protocolos de contenção da pandemia do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, defensor do isolamento social e crítico do uso de medicamentos sem uso comprovado para a covid-19, como a cloroquina.

Desculpa falar, ele é meu irmão, mas é um gênio. Fala japonês, italiano, um monte de idioma fluentemente. [...] Ele é uma pessoa humilde, mas, como cientista, não tinha em Brasília ninguém com o gabarito dele."
Abraham Weintraub

O ex-ministro voltou a mencionar que ambos foram infectados pelo novo coronavírus, segundo ele, por uma cepa "virulenta". "Tomamos os remédios todos. Tomamos sim! [...] Eu, como usuário dos medicamentos que eu usei, eu diria que, sim, ele gera um impacto muito positivo diante de um quadro de uma doença grave como esse. Eu fiz esse tratamento para a minha família, as pessoas que eu mais amo ao meu redor", afirmou. "A gente não é médico, mas eu posso dar o testemunho, assim como o novo testamento é um testemunho."

Abraham não especificou que remédio tomou e evitou termos como "cloroquina" e "tratamento precoce", historicamente defendidos por ele, mas evitados por aliados do presidente desde que o assunto se tornou alvo na CPI. "O principal é o seguinte, vocês veem com todo esse relato que o presidente estava preocupado em salvar vidas", reforçou.

Ele está sendo chamado (na CPI) porque, diante da crise, ele não ficou passivo, ele foi pesquisar, buscar soluções e apresentou para o presidente. E não centralizou isso."
Abraham Weintraub

Currículo

Pouco antes da transmissão, o ex-assessor da Presidência da República publicou em seu Twitter o link de seu currículo lattes, além de um certificado de seu pós-doutorado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O documento compartilhado hoje é um certificado pelo projeto intitulado "Epilepsia no Brasil: Direito Previdenciário e Descritivo Atuarial", que foi concluído em 2014. O pós-doutorado foi parte do programa de pós-graduação em neurologia/neurociência e foi supervisionado pela dra. Debora Amado Scerni.

Arthur Weintraub atuava dentro do Palácio do Planalto no núcleo que ficou conhecido como "ala ideológica" do governo. Em agosto de 2020, período em que o governo brasileiro acelerava a campanha em defesa do que passou a chamar de "tratamento precoce" (estímulo à cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada), ele foi designado "especialmente" por Bolsonaro para "acompanhar questões relativas ao tratamento precoce da covid-19".

No último dia 26, o colegiado da CPI da Covid aprovou sua convocação. De acordo com o senador Alessandro Vieira, os parlamentares pretendem cobrar de Weintraub esclarecimentos sobre a sua atuação "na estrutura extraoficial de assessoramento no combate à pandemia".

O "assessoramento extraoficial" se dá, na visão dos parlamentares de oposição ao governo, porque havia, dentro do Palácio do Planalto, membros do governo sem formação médica ou qualquer ligação com o Ministério da Saúde atuando em questões relativas ao enfrentamento à covid-19. "As orientações deste grupo foram contrárias ao consenso técnico global e causaram prováveis prejuízos à saúde pública", afirmou o congressista.