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CBF emite nota, mas vai se posicionar sobre criação de liga de clubes após decisão sobre saída de Caboclo

Presidente afastado ainda será julgado
O presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo Foto: JORGE ADORNO / REUTERS
O presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo Foto: JORGE ADORNO / REUTERS

A CBF acusou o recebimento, nesta terça-feira, do que chamou de "carta com solicitações coletivas" dos clubes, entre elas, a criação de uma liga formada pelas equipes para organizar o Campeonato Brasileiro das Série A e B.

Em nota, a entidade informou que o tema será objeto de análise interna por parte da CBF. Mas segundo apurou a reportagem do GLOBO, qualquer decisão só será tomada após o julgamento do presidente Rogério Caboclo pela Comissão de Ética da entidade. Caboclo foi acusado de assédio sexual por uma funcionária.

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A ideia é que, definido o futuro do atual mandatário, substituído interinamente pelo vice-presidente Antônio Carlos Nunes, os dirigentes se debrucem no pleito dos clubes e a CBF tome uma postura definitiva, seja a favor ou contra o movimento.

"A CBF informa que nesta terça-feira, 15, o Presidente Antônio Carlos Nunes, Vice-Presidentes, Secretário Geral e Diretores da entidade estiveram reunidos com os representantes dos clubes disputantes da Série A do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, os clubes apresentaram uma carta com solicitações coletivas, que serão objeto de análise interna por parte da CBF", afirma a nota.

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A intenção dos clubes é aumentar sua autonomia nos rumos do futebol brasileiro, o que culminaria na criação da liga. Mas para isso ela demanda a permissão da própria entidade, que de acordo com seu estatuto, pode proibir ou não o estabelecimento de ligas. "

Caboclo está afastasdo até o dia 6 de julho, quando terminam os 30 dias determinados pela Comissão de Ética da CBF. Apenas a posição da comissão, entretanto, não é suficiente para punir o dirigente. A decisão deles, caso optem por alguma punição a Caboclo, precisa ser referendada por três quartos da Assembleia Geral da CBF. E as sanções são diversas, do banimento até simples advertência. A pior hipótese para Caboclo será a de ter alguma punição severa e, além disso, o caso ser encaminhado para o Ministério Público e a Justiça, possibilidade prevista no Código de Ética da CBF.

Documento entregue à CBF Foto: Reprodução
Documento entregue à CBF Foto: Reprodução
Documento entregue à CBF Foto: Reprodução
Documento entregue à CBF Foto: Reprodução

O encontro entre dirigentes dos clubes brasileiros a representantes da CBF terminou com otimismo para a criação imediata de uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro a partir de 2022. Os membros das equipes presentes no encontro apresentaram o documento com a assinatura de 19 dos 20 clubes da Série A para tomar as rédeas do torneio.

Como o produto hoje pertence à CBF, foi debatido inclusive a possibilidade de trocar o nome da competição, cujos direitos estão ligados à entidade máxima do futebol brasileiro.

A criação da liga é um movimento que amadureceu nas últimas semanas, e englobaria não apenas os 20 clubes da Série A, mas também os 20 da Série B, que foram convidados.

O modelo seria semelhante ao que é feito na Espanha, com as duas principais divisões organizads pela "La Liga" e as demais pela federação nacional.

A CBF vai emitir nota oficial depois de ser representada no encontro pelo presidente interino Coronel Nunes e pelo secreetário-geral, Walter Feldman.

Segundo os dirigentes que participaram do encontro, o documento foi entregue sem qualquer ruptura ou questionamento, até porque não há hoje essa possibilidade.

"Eles estão tontos", disse um dirigente.

Os clubes entendem que a realização da liga depende apenas deles. Cria-se e começa-se a jogar. A CBF não teria qualquer ingerência para negociar comercialmente o produto.

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Na reunião, os clubes também pleitearam maior participação nas tomadas de decisão da CBF. E querem participação igualitária em relação às federações nas eleições da entidade.

O movimento tomou corpo em meio ao processo de afastamento do presidente da entidade, Rogério Caboclo, acusado de assédio sexual por uma funcionária. Mas o amadurecimento da ideia já vinha acontecendo em debates nos bastidores. A principal motivação são as dificuldades financeiras oriundas da pandemia, que prejudicou as receitas de todos.

A posição dos clubes

Entre os dirigentes presentes na CBF estava o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, acompanhado do vice-geral e jurídico Rodrigo Dunshee. O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, também acompanha a comitiva, assim como Maurício Galiotte, do Palmeiras, e Guilherme Bellintani, do Bahia.

Documento assinado pelos clubes Foto: Reprodução / Reprodução
Documento assinado pelos clubes Foto: Reprodução / Reprodução

Pela manhã, o presidente do São Paulo, Júlio Casares, publicou um vídeo no Instagram em que defende a união dos clubes por “interesses comuns”.

“Estamos reunidos nesta manhã com os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro para discutir o futuro do futebol brasileiro e a crise da CBF. Mas principalmente estamos discutindo o início de uma organização importante para o futebol brasileiro. Precisamos repensar o futebol, mas com muita união, pensando no produto do futebol, pensando no crescimento do produto e de todos os clubes. Temos de discutir princípios mercadológicos, princípios éticos e de governança”, afirmou.

"Há muito o que fazer, e isso começa já. Por novo calendário, mais planejamento, investimentos e receitas. Por democracia, com equilíbrio, união e trabalho. Sem conflitos, sem ressentimentos. Nós, clubes de futebol, queremos chegar mais próximo do que cada brasileiro espera de nós", disse Guilherme Bellintani, do Bahia.

O dirigente também falou após o encontro na CBF.

- Viabilizar a partir de já. Entendo que o 15 de junho de 2021 é o ponto de partida de uma nova partida no futebol brasileiro. As premissas estão estabelecidas. União dos clubes, entendimento comum do que é preciso fazer. Os clubes mostraram a maturidade que têm. O debate varou a noite de ontem, continuou hoje de manhã. Foi um primeiro passo importante. Não temos nenhum interesse em entrar em conflito com a CBF. Vamos continuar discutindo, queremos ter mais participação na política da CBF, como a igualdade no peso dos votos e o fim do filtro político para candidaturas - disse Bellintani ao Ge.

Na saída da reunião, o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, afirmou que não é desejo dos clubes entrar em atrito com a CBF.

- Não é um movimento de ruptura, mas é o momento de organizar. Os clubes têm condições para isso. A CBF nos ouviu. Nós queremos organizar o Campeonato Brasileiro ' afirmou.

O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, comemorou a iniciativa e destacou exemplos que existem de outros países:

- Os clubes entenderam que precisavam assumir cada vez mais o protagonismo no futebol brasileiro, participando mais ativamente do processo de escolha do presidente e do vice da CBF, com votos igualitários entre federações e times da Série A e Série B. Além disso, a criação de uma liga tem o objetivo de maximizar receitas, ofertar um produto de maior qualidade e maiores vantagens comerciais. Se os alemães, espanhóis e italianos fazem isso, nós brasileiros também podemos fazer. Essa mudança também é positiva para a CBF, que terá um processo eleitoral mais democrático e participativo, com melhorias na Série A.

Também presente no encontro, Walter Dal Zotto, presidente do Juventude, comemorou:

- A formação da Liga é um momento histórico para o futebol brasileiro. Pela primeira vez vemos essa grande evolução, com os presidentes de todos os clubes demonstrando unidade em prol da criação de novo calendário, investimentos e receitas.