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Primeira instância da Justiça eleitoral peruana rejeita recursos de Keiko para anular votos, mas ela ainda pode recorrer

Filha do ex-ditador Alberto Fujimori insiste, sem apresentar provar, em que houve fraude no pleito; final da contagem mostrou vitória de Pedro Castillo por 44 mil votos
A candidata à Presidência no Peru Keiko Fujimori em Lima em 17 de junho de 2021 Foto: Sebastian Castaneda / Reuters
A candidata à Presidência no Peru Keiko Fujimori em Lima em 17 de junho de 2021 Foto: Sebastian Castaneda / Reuters

LIMA — Os 35 Júris Eleitorais Especiais (JEE) do Peru, que formam a primeira instância da Justiça eleitoral do país,  rejeitaram, na noite de sexta-feira, os recursos da candidata Keiko Fujimori, do partido Força Popular, para anular atas do segundo turno das eleições presidenciais, realizado em 6 de junho. A contagem oficial dos votos terminou na terça-feira, com uma vantagem de 44.058 votos para o candidato do partido Peru Livre, Pedro Castillo, um professor e sindicalistas da esquerda radical. Keiko, no entanto, insiste, sem apresentar provas, que houve fraude no processo.

Keiko havia pedido a anulação de mais de 800 atas eleitorais , correspondentes a cerca de 200 mil votos, em redutos de Castillo nos Andes e na Amazônia. No total, 943 recursos da candidata foram rejeitados pelos JEE, segundo o jornal La República, parte deles por terem sido apresentados depois do prazo legal. Agora, ela, que é filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), pode tentar recorrer à última instância da Justiça eleitoral, o Júri Nacional de Eleições (JNE).

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Ainda de acordo com o jornal, caso a candidata recorra ao JNE, a proclamação do resultado da eleição pode ser atrasada por mais uma semana, prolongando as tensões no país.

Em entrevista ao La República, o presidente do JEE da região de Huancavelica, Waldo Gonzáles, afirmou que em nenhum caso houve elementos que comprovassem alguma tentativa de fraude ou alteração dos resultados. Anteriormente, observadores internacionais já haviam atestado a lisura da eleição.

— As pessoas são credenciadas na porta de entrada, depois na mesa. As assinaturas desses membros da mesa, do início ao fim, coincidem. Se em alguns casos for diferente, são coisas mínimas — disse Gonzales. — Qual seria a fraude? Não há.

Além dos recursos à Justiça eleitoral, o Força Popular também promove ações na Justiça contra o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe), no qual a sigla tenta ter acesso aos registros de votação. A ex-ministra da Justiça Ana Neyra, no entanto, afirmou ao La República que os dados pessoais dos eleitores são protegidos pela Constituição.

Além dessa ação, afirma o jornal, o ex-juiz Javier Villa Stain, conhecido pela sua proximidade com Keiko, entrou com outra na Justiça, na sexta-feira, pedindo a anulação do segundo turno. Neyra considera que não há sustentação para esse pedido.

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Enquanto a confirmação do novo presidente do Peru se arrasta, as tensões no país permanecem. Os dois lados fizeram manifestações na tarde deste sábado em Lima, e mais de três mil policiais foram destacados para fazer a segurança.

— Já temos um vencedor — disse Castillo, em discurso durante a manifestação.

Na quinta-feira, militares aposentados enviaram uma carta ao Comando Conjunto das Forças Armadas (CCFFAA, na sigla em espanhol) alegando que há uma suposta "fraude eleitoral" no pleito.

No dia seguinte, o presidente interino, Francisco Sagasti, disse que a carta é uma ação "inaceitável" , e que o texto será enviado ao Ministério Público para ser investigado por "condutas prejudiciais à ordem constitucional".