Por Lívia Machado e Marina Pinhoni, G1 SP — São Paulo


O prefeito Ricardo Nunes (PSDB) em inauguração de leitos de hospital nesta terça-feira (22). — Foto: Reprodução/Youtube

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse nesta terça-feira (22) que a gestão municipal usou todo o estoque de segunda dose para atender a demanda de imunização na capital no final de semana. Além disso, afirmou que o estado sabia do risco de a capital paralisar a imunização caso não recebesse um novo lote de vacinas. A vacinação contra Covid no município foi suspensa nesta terça.

"Nós sempre tivemos a política de não usar a segunda dose, mas tendo em vista o volume de pessoas que foram vacinar, e por conta do atraso na entrega de vacinas, a Prefeitura de São Paulo optou por usar a segunda dose para poder evitar mais transtornos. Aguardando que a vacina chegasse para que a gente continuasse. Mas não aconteceu, então nós reestruturamos", afirmou Nunes.

Ainda de acordo com o prefeito, teriam sido usadas 16 mil doses da vacina da AstraZeneca que estavam reservadas para a segunda dose, e que o governo estadual se comprometeu a enviar o dobro para que o município não enfrente problemas.

"Nós avisamos no sábado ao secretário Jean que chegamos a 59 mil doses e que, portanto, necessitaríamos de vacina no final de semana para dar prosseguimento à vacinação na segunda. O secretário Jean disse que iria então providenciar o envio de vacinas para nós no final de semana e na segunda-feira", completou o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido.

Mais cedo, o secretário estadual da Saúde alegou que o governo tinha sido notificado tardiamente pela prefeitura e que, por isso, não conseguiu remanejar a distribuição de doses.

"Todo o operacional de cada município é de responsabilidade de suas Secretarias Municipais da Saúde. Ontem, fomos avisados por volta das 18h que haveria essa paralisação. Já estava no nosso radar, no nosso calendário, fazer a distribuição hoje. É óbvio que se nós tivéssemos essa informação antecipada, teria sido possível nós remanejarmos essa distribuição de forma e caráter especial para o município ainda ontem", disse o secretário em entrevista ao Bom Dia SP.

O G1 entrou novamente em contato com o governo estadual, mas, até a última atualização desta reportagem, não havia obtido resposta.

Aviso tardio impediu governo de SP de remanejar doses e evitar paralisação na capital.

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Na Zona Norte de São Paulo, onde esteve para liberar dez novos leitos de Covid no Hospital São Luiz Gonzaga, Nunes disse acreditar que o secretário estadual tenha se equivocado.

"Todo problema se dá porque o dr. Jean disse que a prefeitura avisou ontem às 18h. Eu tenho certeza absoluta que foi um equívoco. Ele sabe que não é isso. Tenho certeza que ele vai se retratar. Temos que considerar toda a pressão que as pessoas estão passando", rebateu Nunes.

Segundo Gorinchteyn, o governo não teve tempo suficiente para remanejar doses e evitar a interrupção.

"A partir do momento que tem essa previsão antecipada, a 'pré-visão', existe a condição de nós termos até antecipado, ao invés de estarmos distribuindo hoje, teríamos antecipado em 24 horas, impedindo essa obstrução, essa interrupção no seguimento da vacinação do município de São Paulo", defendeu.

A suspensão foi anunciada pelo secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, nesta segunda-feira (21), depois de mais de 60% dos postos de vacinação da capital ficarem sem doses.

Calendário

A expectativa da gestão municipal é a de receber até o final desta terça (22) 186 mil doses da CoronaVac para retomar o cronograma de vacinação da primeira dose e 30 mil doses da AstraZeneca para aplicar segunda dose.

Ainda de acordo com o secretário municipal, com a chegada de novos lotes, a cidade deve retomar a vacinação nesta quarta (23), mas somente para pessoas com 49 anos. A previsão era a de imunizar o grupo de 48 e 49 anos.

"O estado imediatamente nos mandando as vacinas, vamos reabastecer durante o dia todo o nosso sistema, toda as nossas unidades, para podermos imediatamente retomarmos a partir de amanhã a vacinação com as pessoas de 49 anos e também com as pessoas que precisam tomar a segunda dose nessa semana, que são as pessoas que tomaram a AstraZeneca", disse Aparecido.

Escalonamento atualizado (de 49 a 45 anos)

  • Quarta-feira (23/06): público de 49 anos;
  • Quinta-feira (24/06): público de 48 anos;
  • Sexta-feira (25/06): público de 47 a 45 anos;
  • Sábado (26/06): público de 47 a 45 anos.

Aparecido informou também que a vacinação das faixas etárias seguintes pode ser afetada, e que novas datas para os próximos grupos devem ser divulgadas de acordo com o recebimento de remessas do governo estadual.

Falta de vacina

A falta de vacinas para aplicação de primeiras doses também ocorreu em outras quatro capitais: Campo Grande, Florianópolis, João Pessoa e Aracaju.

Capital interrompe vacinação contra a covid-19 em parte das unidades básicas

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Na segunda, o governo estadual disse que o problema era consequência do atraso nas entregas por parte do Ministério da Saúde .

"Nós propomos um cronograma baseado nos anúncios oficiais do ministério. Nós só descobrimos que o ministério não consegue honrar com o compromisso no dia seguinte ao dia marcado da entrega. O ministério não avisa antecipadamente qualquer entrega que vai deixar de efetuar", disse Eduardo Ribeiro, secretário-executivo da Saúde.

Já o Ministério da Saúde disse que envia as doses com base na população-alvo da campanha e que recomenda aos gestores locais que sigam à risca o plano nacional de operacionalização da vacinação contra a Covid-19.

O ministério afirmou ainda que a responsabilidade pela distribuição de doses aos municípios é da gestão estadual.

Cronograma estadual

Vacinação contra Covid-19 na UBS Flor da Montanha em Guarulhos, na Grande São Paulo, no dia 6 de maio de 2021. — Foto: João Nogueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

O representante da secretaria estadual disse que o cronograma paulista é "conservador" e que contabiliza apenas as entregas já oficializadas pelo Ministério da Saúde.

Ao contrário do que anunciou o secretário da capital, Eduardo Ribeiro disse que o estado de São Paulo não vai ter que interromper a vacinação.

"Nosso cronograma é conservador, conta exclusivamente com as doses que o ministério publica no portal oficial. Esta é a base da nossa vacinação. Nós estamos equacionando estas falhas do ministério de tal forma que nós não teremos que interromper a vacinação", completou.

O secretário-executivo da Saúde do estado também afirmou que a promessa de vacinar todos os cidadãos com mais de 18 anos até 15 de setembro, feita pelo governador João Doria, deve ser cumprida, e que novas doses serão entregues aos municípios nesta terça.

"Vamos avançar a vacinação com vistas a cumprir cronograma que o governo implementou de até 15 de setembro todos os cidadãos elegíveis pra vacinação acima de 18 anos possam ter recebido a sua primeira dose", disse.

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