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GOVERNO EM CHAMAS

Com 'Covaxingate' no cangote, Bolsonaro se livra de outro fator de desgaste

O presidente Jair Bolsonaro com os ministros Ricardo Salles e Tereza Cristina em manifestação com ruralistas

Ricardo Salles pediu para sair. A queda, antes improvável, de um dos ministros preferidos de Jair Bolsonaro, defendido por ele na motociata em São Paulo e de novo nesta semana, coincide com o dia de maior apuro do presidente desde a instalação da CPI da Covid, aquele em que a história do "Covaxingate" atingiu o ponto de ebulição, com a revelação de um combo que inclui compra superfaturada, participação direta do próprio Bolsonaro e denúncia (ignorada) de pressão política por parte de um servidor do Ministério da Saúde e de um deputado bolsonarista.

Diante desta que pode ser a pedra de toque do relatório da CPI, Bolsonaro se livra de outra pedra em seu sapato, ainda que Salles só tenha executado a política de destruição ambiental que levou a cabo por decisão do próprio presidente. Se passou a boiada, foi porque assim quis Bolsonaro, e isso precisa ficar sempre bem claro.

Mas é crise demais para um governo já desgastado administrar. Com o pedido de demissão, Salles quer que seu caso saia da alçada do STF e vá para a primeira instância. Segue o mesmo caminho aberto pelas demissões de Abraham Weintraub da Educação e Eduardo Pazuello da Saúde. Com a queda desses ex-ministros de triste memória, os inquéritos contra eles também saíram do STF -- o de Weintraub pelas declarações xenofóbicas em relação à China, e o em relação a Pazuello o que apurava a responsabilidade pelo colapso de oxigênio em Manaus em janeiro.

A defesa de Salles deverá pedir que o inquérito contra ele baixe. A manifestação do sempre a postos procurador-geral da República, Augusto Aras, deverá ser favorável. Caberá a decisão ao ministro Alexandre de Moraes.

Tudo que pôde ser feito na seara da interferência política nas instituições para blindar Salles foi feito. Até ficar feio demais. Não um, mas dois delegados da Polícia Federal perderam cargos de chefia porque investigaram o agora ex-titular do MMA.

Esse tipo de corrosão do tecido republicano não será saneado com a saída de Salles. Nem a política de destruição do arcabouço de proteção e fiscalização ambiental levada diligentemente a cabo por ele sofrerá alterações. Basta ver que o auxiliar "promovido" a ministro, Joaquim Álvaro Pereira Leite, é o responsável pela Amazônia: premia-se, aqui, os recordes de destruição do bioma. Nada mais bolsonaresco.

A queda de Salles não vai evitar que Bolsonaro continue a passar calor com o Covaxingate. E não pode fazer com que a Justiça, a PF e o Ministério Público, além da imprensa e da sociedade, continuem atentos ao comando de "passar a boiada" no Meio Ambiente, uma vez que esta é a vontade do presidente, não de nenhum "zero dois".

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