Política

Aécio deixa a comissão do voto impresso após PSDB se posicionar contra a proposta

Após pressão do partido, deputado anuncia renúncia; ele defende a adoção do voto auditável já nas eleições de 2022
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo

BRASÍLIA — Os partidos contrários à adoção do voto impresso no país seguem fazendo alterações na comissão especial que trata do assunto na Câmara. Após pressão de seu partido, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) anunciou nesta quinta que deixa esse colegiado. O presidenciável derrotado nas eleições presidenciais de 2014, que recorreu à Justiça Eleitoral questionando, com o PSDB, a vitória da petista Dilma Rousseff, defende a adoção do voto auditável já nas eleições de 2022, em pelo menos 3% das urnas eletrônicas. O partido acionou o TSE movido por supostas acusações de irregularidades na campanha do PT, que não se comprovaram. A decisão de Aécio, somada a outras defecções na comissão, pode ser uma pá de cal nas pretensões do Palácio do Planalto em aprovar a proposta.

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O deputado, em nota, demonstrou sua indignação com a posição do presidente de seu partido, Bruno Araújo, que anunciou ser contrário ao voto impresso. Aécio afirmou que essa era uma bandeira do partido.

— Surpreendeu-me que o partido tenha, agora, pela voz do nosso presidente, sem debate mais profundo na legenda, passado a defender posição oposta àquela defendida pelo partido até pouco tempo atrás — afirmou Aécio Neves, que negou que tenha sofrido pressão do seu partido sobre sua posição na comissão:

— Resolvi pedir minha substituição por discordar do novo posicionamento tomado pelo PSDB e por compreender que essa vaga pertence ao partido e não individualmente ao parlamentar.

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Várias alterações feitas por partidos na composição da comissão nas últimas semanas mudaram a tendência de votação, que era favorável ao voto impresso. Após anúncio coletivo de onze presidentes de partidos, entre os quais Araújo, o cenário mudou. Deputados a favor dessa emenda à Constituição foram trocados e, agora, essa movimentação atingiu Aécio.

A votação do relatório de Filipe Barros (PSL-PR), favorável ao voto impresso, foi adiada duas vezes. A razão é a falta de consenso e a derrota anunciada. O presidente da comissão, Paulo Martins (PSC-PR), é favorável à proposta, mas reconhece não ter maioria mais no colegiado.

Aécio Neves disse ainda que o debate sobre o aprimoramento das urnas eletrônicas está "extremado", de um lado o governo federal e de outro os que não aceitam qualquer mudança no atual sistema de votação. Também na nota, o parlamentar cutucou lideranças de seu partido, que, poucos anos atrás, defendiam o voto impresso.

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"Em 2015, o PSDB comunicou formalmente à população, pela voz de alguns de seus principais líderes, o resultado de estudo conduzido por renomados especialistas na matéria que as urnas eletrônicas eram inauditáveis e se posicionou, pela unanimidade de seus deputados e senadores presentes, pela derrubada do veto da ex-presidente Dilma e, portanto, pela introdução do voto auditável de papel acoplado à urna eletrônica", afirmou.

Defensor histórico do voto impresso, o PDT também fez mudanças na comissão. O partido excluiu Pompeo de Mattos (PDT-RS) do colegiado e o substituiu pelo líder, Wolney Queiroz (PE), que é contrário. Mattos vinha se posicionando a favor do voto impresso nas reuniões, mas deixava claro que suas razões são diferentes das intenções do governo. A inspiração dessa sua posição é Leonel Brizola, que defendeu esse sistema após ter sido eleito governador do Rio, em 1982.

O PL, de Valdemar Costa Neto, contrário ao voto impresso, também trocou nomes na comissão. Magda Mofatto (GO) deixou a comissão e foi substituída por Marcio Alvino (SP), que era suplente. Mofatto era a favor do voto impresso, deu declarações a favor e até ensaiou um recuo. Mas não foi suficiente. Perdeu a vaga.