Por RFI


23 milhões de crianças não receberam as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche em 2020 — Foto: Agência Saúde/Divulgação

A ONU alerta sobre o risco de uma "catástrofe absoluta" se o perigoso atraso na vacinação de crianças em decorrência da pandemia de Covid-19 não for resolvido e as restrições sanitárias forem suspensas muito rapidamente. Em 2020, em todo o mundo, 23 milhões de crianças não receberam as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche, que servem como medida de referência, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (15) pela OMS e Unicef

Esse número de crianças não vacinadas é mais alto desde 2009 e representa um aumento de 3,7 milhões de menores em relação a 2019. "Em 2021, temos o potencial para que aconteça uma catástrofe absoluta", afirmou a médica Kate O'Brien, diretora do Departamento de Vacinação da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Genebra.

A pandemia provocou um desvio de recursos e funcionários para a luta contra o coronavírus, e muitos serviços médicos tiveram que fechar ou reduzir seus horários. Por temor do vírus, as pessoas também evitaram sair de casa para ir a postos de vacinação, mesmo quando as medidas restritivas não proibiam deslocamentos.

A situação das crianças desprotegidas e uma suspensão muito rápida das restrições sanitárias contra a Covid-19 já demonstram efeitos nocivos para a saúde, por exemplo com surtos de sarampo no Paquistão, sublinhou O'Brien.

Esses dois fatores combinados são "a catástrofe absoluta contra a qual estamos soando o alarme agora, porque precisamos agir imediatamente para proteger essas crianças", insistiu a especialista.

Criança durante campanha de vacinação contra a poliomielite nos anos 1970 no Brasil — Foto: Acervo Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Sinal de alerta

O número de 23 milhões de crianças não imunizadas no ano passado com as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche não é o único sinal alarmante. Ainda mais grave para a OMS e o Unicef é que 17 milhões de crianças – a maioria delas vivendo em zonas de conflito, locais isolados ou bairros altamente desfavorecidos e privados de infraestrutura de saúde – certamente não tomaram qualquer tipo de vacina no ano passado.

Esses números "são um sinal de alarme claro, a pandemia de Covid-19 e os distúrbios que causou nos fizeram perder um terreno precioso que não podemos abrir mão", disse a diretora da Unicef, Henrietta Fore. "As consequências serão pagas em mortes e perda de qualidade de vida da maioria vulnerável", lamentou ela.

A taxa de vacinação para difteria, tétano e coqueluche estava estagnada em 86% por vários anos antes da pandemia e em 2020 caiu para 83%. No caso do sarampo, uma doença altamente contagiosa que necessita de um percentual de cobertura vacinal de 95% para ser controlada, apenas 71% das crianças receberam a segunda dose.

México em apuros

Nas Américas, há uma "tendência preocupante de longo prazo", apesar do declínio associado à pandemia ter sido modesto (2 pontos percentuais a menos do que em 2019). "A desinformação sobre vacinas, a instabilidade e outros fatores formam um panorama preocupante" na região onde "a taxa de vacinação continua caindo", afirmam a OMS e o Unicef.   

Apenas 82% das crianças estão totalmente imunizadas com a vacina contra difteria, tétano e coqueluche, em comparação com 91% em 2016.

O México é um dos países em que o número de crianças não cobertas pela primeira dose de vacinas contra essas três doenças aumentou mais rapidamente, passando de 348.000 em 2019 para 454.000 no ano passado.

Na Ásia, a taxa de cobertura caiu de 91% para 85% em 2020 na Índia, que teve 3,5 milhões de crianças parcialmente vacinadas ou não vacinadas. Paquistão, Indonésia e Filipinas também viram o número de crianças desprotegidas aumentar.

A ONU ressalta que é importante que a distribuição de imunizantes contra Covid-19 não seja feita em detrimento dos programas de vacinação infantil.

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