Brasil Meio Ambiente

Em meio a aumento de queimadas, governo transfere divulgação dos dados para Ministério da Agricultura

Inpe perde protagonismo dessa tarefa, que foi distribuída para o Inmet
Região atingida por queimadas em Rondônia Foto: CARL DE SOUZA/AFP/23-8-2019
Região atingida por queimadas em Rondônia Foto: CARL DE SOUZA/AFP/23-8-2019

BRASÍLIA — No momento em que o país registra recorde de queimadas na Amazônia, o governo federal decidiu excluir o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) do protagonismo da divulgação de ocorrências de queimadas em todo o país. Trata-se de uma tarefa que o instituto realiza há décadas. Esse papel agora ficará por conta do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura (Mapa), área de influência do agronegócio. O Inpe é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC).

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De acordo com o Inpe, a Amazônia teve o maior número de focos de calor em junho nos últimos 14 anos, comparado a esse mesmo mês em períodos anteriores. Os satélites identificaram 2.308 focos de incêndio em junho deste ano, um aumento de 2,6% em relação a 2020.

Em nota nesta terça, o Inmet confirmou a mudança, ainda que tenha negado que o Inpe deixou de produzir essas informações. A divulgação desses dados, agora, ficará por conta do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), ligado ao ministério de Tereza Cristina.

"Não excluiu o Inpe de produzir informação. Quem vai divulgar a informação é o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), sistema de atuação conjunta de instituições federais de meteorologia, coordenado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet/Mapa), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTIC) e Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam/Ministério da Defesa), para o aprimoramento do monitoramento e elaboração de previsões de eventos meteorológicos extremos, pesquisa, desenvolvimento e inovação", informa nota do Inmet.

O diretor do Inmet, Miguel Ivan Oliveira, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, fez o anúncio da exclusão do Inpe em reunião nesta segunda-feira, com a presença da ministra, e disse que há atualmente problemas de "integração de dados" com o Inpe.

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Historicamente, o Inpe é responsável pela divulgação dos dados de queimadas e do desmatamento. Um portal público atualiza diariamente os dados sobre os focos de fogo em todo o país.

Desde o início do governo Bolsonaro, porém, o instituto vem sendo alvo do presidente da República, que em 2019 o acusou de estar " a serviço de alguma ONG ", diante da divulgação de dados que mostravam a escalada do desmatamento na Amazônia. O então presidente do Inpe, Ricardo Galvão, afirmou que Bolsonaro tomou uma atitude "pusilânime e covarde" ao questionar a credibilidade dos dados e a motivação do instituto. Galvão foi exonerado duas semanas após a declaração

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Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy critica a mudança anunciada pelo Inmet. Este instituto, avalia, não faria uso pleno das medições.

— O Brasil apresenta vulnerabilidades ambientais muito expressivas e relacionadas à florestas e biodiversidade. A iniciativa de cercear a informação direta e lançar a sua gestão para um órgão da pasta da agricultura é inapropriada, denotando incompetência ou má fé. É como se a Nasa outorgasse a divulgação de seu monitoramento para o Ministério da Agricultura.

Em nota, o Inmet, o Inpe e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), ligado ao Ministério da Defesa, negaram que deixarão de divulgar dados de incêndio. Esses órgãos afirmam que a atuação conjunta das instituições que integram o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM). Esses órgãos informam que foi lançado ontem o Painel de Monitoramento de Risco de Incêndio, criado ontem, será um complemento no serviço de monitoramento de queimadas.