Política

Ciro Nogueira aceita convite para Casa Civil com a missão de aparar arestas para eleições de 2022

Presidente do PP terá o desafio de vencer as resistências no partido em relação a Bolsonaro e organizar a defesa do Planalto na CPI da Covid
Senador Ciro Nogueira (Progressista) sai sorridente após encontro com Bolsonaro. Nogueira aceitou o convite para integrar a Casa Civil Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
Senador Ciro Nogueira (Progressista) sai sorridente após encontro com Bolsonaro. Nogueira aceitou o convite para integrar a Casa Civil Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo

BRASÍLIA — O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais líderes do Centrão, confirmou nesta terça-feira que aceitou o convite para ser ministro da Casa Civil. O anúncio foi feito por Ciro durante uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. O presidente Bolsonaro ainda não comentou a novidade nas redes .

"Acabo de aceitar o honroso convite para assumir a chefia da Casa Civil, feito pelo presidente Jair Bolsonaro. Peço a proteção de Deus para cumprir esse desafio da melhor forma que eu puder, com empenho e dedicação em busca do equilíbrio e dos avanços de que nosso país necessita" escreveu Ciro Nogueira em publicação no Twitter.

O senador passou cerca de duas horas e meia no Planalto, e posou para fotos ao lado de Bolsonaro, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e dos ministros Luiz Eduardo Ramos (atual titular da Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Fábio Faria (Comunicações).

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Ao deixar o Planalto, Ciro fez nova publicação, dizendo estar feliz em "fazer parte desse grande time de ministros". Também disse esperar o apoio de Lira, a quem chamou de "querido amigo".

Em rápida conversa com a imprensa, o senador afirmou que sua posse irá ocorrer "o mais rápido possível" e confirmou que haverá a criação do Ministério do Emprego e Previdência.

A recriação do antigo Ministério do Trabalho, extinto por Bolsonaro ao tomar posse, faz parte do arranjo para nomear Ciro. Ramos, que está na Casa Civil, irá para a Secretaria-Geral, atualmente ocupada por Onx Lorenzoni. Onx, por sua vez, será deslocado para o ministério que será criado.

O convite a Ciro foi feito há uma semana, mas o senador estava viajando e a confirmação dependia de uma conversa presencial com Bolsonaro. O encontro entre os dois estava programado para segunda-feira, mas o senador, que estava de férias no México, enfrentou um atraso no voo.

Em entrevista a uma rádio da Paraíba, na segunda-feira, o presidente defendeu a presença do senador no governo e minimizou o fato de ele responder a investigações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro disse ainda que, se fosse levar em consideração esse critério, “perderia” quase metade do Congresso, em referência a outros parlamentares também na mira de processos ou inquéritos.

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— Eu sou réu no Supremo, sabia disso? No caso da (deputada) Maria do Rosário. Então, eu não deveria estar aqui (na Presidência). Culpada, a pessoa só é depois de transitado em julgado (o processo) — disse Bolsonaro.

Arestas

Ex-ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, dá lugar ao líder do Centrão, Ciro Nogueira Foto: Reprodução/Twitter
Ex-ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, dá lugar ao líder do Centrão, Ciro Nogueira Foto: Reprodução/Twitter

Expoente do Centrão, Nogueira já se manifestou contra o voto impresso — a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em análise na Câmara dos Deputados é uma bandeira do Palácio do Planalto. A posição de presidente do PP também expõe outra frente de divergência, já que parte da legenda tem a intenção de apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

Também no campo político, os rumos da articulação do governo, principalmente a linha de defesa na CPI da Covid estarão em debate. A coordenação geral hoje cabe à ministra Flávia Arruda, integrante do PL. Já a estratégia direcionada para a comissão está a cargo de Onyx Lorenzoni.

Há um mês, Ciro e outros dez presidentes de partidos assinaram o que chamaram de “manifesto coletivo” contra o voto impresso e em defesa da confiança nas urnas eletrônicas. Por sua vez, Bolsonaro faz reiteradamente diversos ataques ao sistema eleitoral brasileiro e, sem apresentar provas, sugere que há fraudes.

Aliados do senador dizem que ele já tem uma “rota de fuga” para o impasse em relação ao projeto. Nogueira deverá argumentar que assinou o documento na condição de dirigente da legenda, representando a maioria da sigla, e não emitindo uma opinião pessoal. Outro provável subterfúgio é alegar não ser contra o que bolsonaristas chamam de “voto auditável”, apenas defender mais tempo para a implementação.

Como dirigente do PP, Nogueira ainda terá que lidar com divergências internas sobre o apoio a Bolsonaro em 2022. Os parlamentares e lideranças mais próximos a Lula indicam que não serão influenciados pelo embarque do senador no governo e dizem que as ações do parlamentar são sempre “pragmáticas”.

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Há resistências ao nome de Bolsonaro em estados do Nordeste, como Bahia, Maranhão, Pernambuco e Paraíba, e do Sudeste, casos de Rio e São Paulo. Essas divisões, inclusive, são os principais obstáculos para que o presidente se filie ao PP. Na semana passada, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) admitiu que o convite para Ciro ocupar a Casa Civil aproxima o presidente da sigla.

Um integrante da cúpula do PP, por exemplo, avalia que, se Bolsonaro quiser o apoio dos colegas de partido, precisa melhorar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Da maneira que está, entraria na legenda com a certeza de que, nos estados, os deputados serão liberados para integrar o palanque de Lula se quiserem.

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A preocupação existe até mesmo entre os colegas de partido de Nogueira no Piauí, onde Lula é forte. A alternativa, segundo um parlamentar próximo do senador, será aproveitar a oportunidade para “canalizar recursos para a região” e fortalecer palanques.

Na Casa Civil, o senador deve assumir a estratégia da defesa do governo na CPI da Covid, cujos depoimentos serão retomados na semana que vem. A expectativa é que o parlamentar use o bom trânsito no Senado para contornar derrotas sofridas pelo Palácio do Planalto nos primeiros meses da comissão. Considerada ineficiente até mesmo por governistas, a articulação política da CPI é uma atribuição de Onyx Lorenzoni, que deverá assumir o novo ministério que vai reunir as áreas de emprego e Previdência.