Por Deslange Paiva e Vivian Reis, G1 SP — São Paulo


VÍDEO: Veja apresentação que deu a prata para Rebeca Andrade nos jogos olímpicos

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A ginasta Rebeca Andrade, de 22 anos, que fez história nesta quinta-feira (29) ao levar uma medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, iniciou a carreira no projeto social Iniciação Esportiva, da Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Lá, ela ganhou o apelido de "Daianinha de Guarulhos", em referência a Daiane dos Santos, vencedora de nove medalhas de ouro em campeonatos mundiais no solo entre 2003 e 2006. Ela chegou a conhecer Daiane na ocasião (veja vídeo abaixo).

VÍDEO: Rebeca começou a treinar em Guarulhos aos 6 anos de idade

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Rebeca, que é atleta do Flamengo, conquistou vaga em três finais, incluindo a do solo, em que se apresenta ao som do funk "Baile de favela". Nesta manhã, ela se tornou a primeira brasileira medalhista olímpica na categoria, na final do individual geral.

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Rebeca com a medalha de prata — Foto: Reprodução/Globo

Rebeca Andrade conquista prata nas Olimpíadas de Tóquio nesta quinta (29); medalha olímpica é da ginástica brasileira — Foto: Reuters/Dylan Martinez

"Essa menina, quando ela estava em Guarulhos, com 7 anos, a primeira vez que a gente viu a Rebeca a gente falou 'vai ser ela', sabe? Chegar aqui depois de 3 rompimentos do ligamento cruzado, ser a segunda melhor ginasta do mundo... Essa prata vale ouro pra gente", disse Daiane dos Santos à TV Globo.

VÍDEO: Compare as apresentações de Rebeca em 2021 e de Daiane em 2004

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Ela ainda disputa a decisão do salto no próximo domingo (1º), e a do solo, na segunda (2).

Começo em Guarulhos

Rebeca começou a treinar aos 4 anos no Ginásio Bonifácio Cardoso. "A Rebeca desde pequena sempre foi muito travessa, tudo que ela fazia era pulando, ela levava muito jeito para a coisa, mas eu não tinha muita noção de como funciona as coisas, onde tinha ginásio", conta a mãe da ginasta, Rosa Rodrigues, de 51 anos.

Como 'Baile de Favela' foi parar nas Olimpíadas de Tóquio com Rebeca Andrade

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Segundo Rosa, o acaso interveio, e a tia de Rebeca, que era funcionária pública, teve que cobrir a licença de uma outra pessoa que trabalhava no ginásio da cidade. Na semana em que a tia começou a trabalhar por lá, estavam abertas as inscrições para testes de novos atletas. Ela levou Rebeca, que na época tinha 4 anos, para se inscrever. Foi nesse dia de teste que ela levou o apelido de 'Daianinha'.

O passo seguinte foi dado por Mônica Barroso dos Anjos, técnica da equipe de ginástica de Guarulhos e árbitra internacional. Foi ela quem descobriu Rebeca na Iniciação Esportiva. Mônica treinou a jovem por um ano e meio. Em seguida, a encaminhou para o grupo de alto rendimento, onde Rebeca disputou competições representando Guarulhos, como o estadual, o brasileiro e até um interclubes em Cuba, em 2009.

Rebeca Andrade em Cuba em uma competição por Guarulhos — Foto: Arquivo pessoal

"Me lembro que peguei na mãozinha dela e perguntei: 'Quer fazer o teste?'. Pedi para que ela pulasse no tablado e na hora eu brinquei: 'Uau! essa é a futura Daiane dos Santos!'. Depois pedi para ir para a barra, abrir espacate, dar estrelinha. Eu, que trabalho há muito tempo na área, já via que ela levava jeito, era veloz, explosiva, tinha o biotipo com muito músculo, bem definida."

Rebeca treinou por cinco anos, entre 2005 e 2010, no ginásio de Guarulhos com o projeto do município que atende crianças e jovens com idade entre 7 e 17 anos. Além da ginástica artística, há diversas modalidades, como futsal, voleibol, basquete, futebol, handebol e natação, entre outras. Atualmente, cerca de 5 mil jovens são atendidos pelo projeto.

Rosa Rodrigues, que além de Rebeca tem outros sete filhos, conta que a família enfrentou dificuldades para que a jovem continuasse treinando. "No começo, eu trabalhava como empregada doméstica, então estava tudo certo. Mas teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar por falta de condições financeiras. Mas quando retornou, não parou mais. Ia de ônibus e, quando não tinha dinheiro, ia a pé, mesmo com a distância do local do treino — cerca de 2 horas a pé."

Quando a jovem parou de frequentar os testes por falta de dinheiro, os treinadores de Rebeca criaram um esquema de rodízio para levá-la até o local. Na época, a Prefeitura de Guarulhos disponibilizou uma espécie de bilhete único para que os atletas frequentassem os treinos, porém, quando o valor disponível no cartão acabava, demorava muito tempo para cair a recarga novamente.

Aos 9 anos, Rebeca recebeu um convite da atual treinadora para acompanhá-la em Curitiba. Em 2012, a jovem foi para o Rio de Janeiro para competir pelo Flamengo. Atualmente, ela é atleta do time.

Apoio da família

Rosa conta que foi nesse período que o irmão de Rebeca, Emerson Rodrigues, hoje com 30 anos, comprou uma bicicleta para levar e buscar a atleta nos treinos. "No começo, ele levava ela a pé, mas teve a ideia de comprar a bicicleta em uma fábrica de reciclagem. Ela tinha entre 6 e 7 anos, e ele, cerca de 15."

Segundo ela, nos dias de treinos Emerson realizava apenas uma refeição por dia porque ele ficava esperando até o fim dos treinos e depois disso ia para a escola. "Ela almoçava no ginásio por ser atleta, depois disso os dois iam para a escola, ele não conseguia chegar a tempo de comer no local, só a noite, depois que chegava em casa".

Rosa conta que muitas pessoas ajudaram a família a pagar a condução para que a jovem não deixasse de treinar em Guarulhos. Havia até um motorista de ônibus que dava carona para Rebeca e Emerson sempre que encontrava os dois no caminho.

Olimpíadas de Tóquio

Depois de duas cirurgias nos joelhos apenas neste ciclo olímpico, Rebeca se equiparou às melhores do mundo novamente. Ela se classificou para a final do individual geral na segunda posição, com 57,399 pontos, atrás da americana Simone Biles por 0,332 de diferença. Foi também a terceira colocada no salto e a quarta no solo. Biles não irá participar das competições desta quinta-feira (29).

“A expectativa é grande, só tenho alegria por ela estar lá, chegando na final. Para a gente isso já é motivo de orgulho. Agora, com mais chances de pódio e ouro, a expectativa é enorme, estamos ansiosos. Mas estou muito feliz, muito orgulhosa pela minha filha. O que mais me deixa alegre é como ela tá madura e firme”, disse Rosa antes do resultado desta manhã.

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