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Covid-19: variantes Delta, Alfa, Gamma... entenda quais são as cepas mais contagiosas que circulam no Rio e como avançam na cidade

Três casos de nova variante indiana, muito mais contagiosa, já causa preocupação. Secretário de Saúde garante que vacinas aplicadas hoje no Rio são eficazes contra todas elas
Prefeitura garante que vacinas ofertadas hoje protegem contra todas as variantes conhecidas: Delta, Gamma e Alfa Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
Prefeitura garante que vacinas ofertadas hoje protegem contra todas as variantes conhecidas: Delta, Gamma e Alfa Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

RIO – A descoberta de três casos da nova variante indiana, Delta (B.1 617.2), na cidade do Rio traz luz, mais uma vez, à ameaça que essas mutações da Covid-19 podem acabar significando de fato no combate à pandemia. Hoje, há três delas em circulação no Rio. A predominante, que atualmente aparece em cerca de 80% das amostras colhidas pelos pesquisadores, já há alguns meses, é a P.1, também conhecida como Gamma, de origem conhecida em Manaus, no Amazonas. Há receio por parte da prefeitura de que, a exemplo do que aconteceu em outros países por onde apareceu, a Delta , que é muito mais contagiosa, roube esse posto. No entanto, pouco ainda se sabe sobre ela. Ainda é desconhecido, por exemplo, se ela é mais ou menos letal e se evolui mais ou menos para casos graves, conforme comentado nesta sexta-feira (16) pelo secretário de Saúde do município, Daniel Soranz, nesta sexta.

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— A Organização Mundial da Saúde colocou que a variante Delta é a que se tornou predominante no mundo, já está em mais de cem países. E em quase todos onde foram detectados os primeiros casos, ela subiu rapidamente o mapa de vigilância genômica e a predominância em relação às outras — afirmou. — Aqui no Rio, a gente ainda tem duas hipóteses, se ela vai conseguir se sobrepor à variante P.1 ( com origem detectada em Manaus ) e se essa variante de fato é menos letal e se causa menos casos graves. A gente já sabe que ela tem uma capacidade de transmitir muito mais veloz que as demais, e há a hipótese de que seja menos letal e cause menos casos graves. Com relação a essa hipótese, no entanto, existe o fato de que, nos países onde ela entrou, boa parte das pessoas já estava vacinada.

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Os casos da variante indiana foram detectados em amostras de dois homens, de 27 e 30 anos, moradores de Olaria — mas que trabalha em Vila Isabel — e da Ilha de Paquetá, e também numa idosa de 72 anos, com comorbidades, moradora de Campo Grande, que desenvolveu quadro de síndrome gripal leve, mas já está curada.

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Na última semana, segundo a prefeitura, em dados atualizados até esta sexta-feira (16), foram detectados, entre as amostras colhidas, 49 novos casos de diferentes variantes da Covid-19 na cidade, sendo 38 moradores locais. Desde a identificação do primeiro caso de novas variantes, o município contabiliza 773 variantes de atenção, sendo 637 em residentes: além dos três casos da Delta (B.1 617.2), são 622 casos da Gamma (P.1) e 12 da Alfa (B.1.1.7), variante do Reino Unido.

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Ainda segundo dados do município, dos cariocas infectados por essas cepas, 44 morreram, 18 permanecem internados e 575 já são considerados curados. Dos visitantes infectados pelas variantes, 24 vieram de Manaus, 7 de Rondônia e 105 de outros municípios.

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Ao todo, de 2020 até agora, foram colhidos 1.229 genomas para análise do avanço das cepas. Foram detectados apenas entre moradores da cidade, até o momento:

Gamma (P.1): 636 casos

A Gamma, também chamada de P.1, e conhecida por sua provável origem em Manaus, é a cepa que, desde o início do ano, predomina no Rio. Ela é mais contagiosa que as primeiras cepas da Covid-19 e se espalhou rapidamente pela cidade em 2021. Em junho, ela esteve presente em mais de 80% dos genomas analisados no Rio. Em janeiro, por exemplo, correspondia a cerca de 20%.

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Alfa (B.1.1.7): 12 casos

A Alfa, variante do Reino Unido, chegou a causar preocupação quando surgiu pela primeira vez no Rio, no fim do ano passado, mas, até agora, não sobressaiu sobre as demais. No entanto, segue sendo uma das mutações observadas pelo comitê de crise da prefeitura.

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Delta (B.1.617.2): 3 casos

A Deleta, variante indiana, é a mais nova e preocupante mutação a aparecer no Rio de Janeiro. Cientistas analisam que ela, que já chegou a mais de cem países, é muito mais contagiosa que todas as outras conhecidas até agora. No entanto, ainda não se sabe se ela é mais letal ou não. Os números mostram que menos pessoas evoluíram para quadros graves ou acabaram morrendo ao contrair a Delta, mas tais dados se confundem com o fato de que ela surgiu, a princípio, em países onde já havia grande parte da população vacinada.

Além delas, há também a circulação de cepas menos contagiosas, como a B.1.1.33, estabelecida na América do Sul (219 casos no total), a P.2, variante com origem no próprio Rio de Janeiro (150 casos no total), a B.1.1.28, também comum no Brasil e em outros países (52 casos), a B.1.1.119 (8 casos), a B.1 (8 casos), e 20 casos de cepas não identificadas.

Prefeitura garante que vacinas do Rio protegem contra todas as cepas

— O principal risco quando a gente fala de variantes é delas conseguirem ultrapassar a barreira da vacina. Então, a nossa preocupação é que surja alguma variante que as vacinas não tenham uma cobertura adequada, principalmente para internações e para óbitos. Mas a gente vem acompanhando o que acontece pelo mundo. A variante Delta, por exemplo, já circula em outros países, então, temos bastantes pesquisas que embasam nossas tomadas de decisão. Nós já sabemos que as vacinas que temos hoje aplicadas na cidade do Rio de Janeiro cobrem contra todas as variantes que estão circulando aqui no Brasil, então, isso dá um nível de proteção e segurança bastante alto para as autoridades — explicou o secretário, Daniel Soranz.

Sobre os três identificados com a nova variante Delta, a prefeitura afirma que monitora pelo menos 20 pessoas que podem ter entrado em contato com os infectados com a mutação do vírus. A investigação epidemiológica dos três casos, segundo o município, está em curso.

A Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal segue faz o acompanhamento epidemiológico da pandemia na cidade em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde e a Fiocruz, o monitoramento da entrada de diferentes cepas.

Vacinas de fabricantes diferentes pode ajudar, diz secretário

Segundo o secretário, em muitos países já é discutida a aplicação de vacinas de diferentes fabricantes para, não só promover maior eficácia na imunização, como também para combater as cepas. Ele, que chama o processo de “vacina heteróloga”, acrescentou que é preciso estar sempre atento aos estudos pelo mundo, também, para que o Brasil, referência em planos de imunização, possa sair na frente.

— Muito provavelmente a vacina heteróloga pode, sim, combater melhor as variantes, e é isso o que está sendo discutido na maioria dos países. É uma discussão que precisa acontecer. A gente tem um Programa Nacional de Imunização que sempre foi referência mundial, sempre saiu na frente, e realiza vacinações heterólogas, então, é muito importante que a gente reforce a capacidade técnica do PNI para que cada vez mais a gente possa estar à frente desse debate, e não tomar decisões de maneira não-oportuna e que possa gerar risco às pessoas. É uma pandemia, então, tomar decisões oportunas é fundamental para salvar vidas — disse. — A maior parte das evidências científicas colocam que as vacinas heterólogas trazem efeitos de proteção superiores, então, a gente precisa colocar isso na pauta de discussão.

Combinação entre Pfizer e AstraZeneca já é tida como segura, dizem especialistas

Especialistas ouvidos pelo GLOBO concordaram com a questão levantada pelo secretário Daniel Soranz sobre o cruzamento de vacinas. A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, inclusive, destacou que isso é algo previsto pelas próprias fabricantes após o início dos estudos da chamada fase 4, de observação de pessoas já vacinadas.

– Temos que falar de forma que fique clara para a população o que é fato: é previsto, baseado em estudos que já se iniciaram, chamados de fase 4, feitos em observação de pessoas já vacinadas, e que definem fatores de proteção, é previsto o intercâmbio de plataformas diferentes de vacina. Não há nada de anormal nisso – disse. – No Rio, isso já começou com as grávidas, por exemplo, com aplicação da AstraZeneca e da Pfizer. E há a possibilidade de que aconteça também com determinados grupos etários, como os mais idosos, com o complemento vacinal de outra plataforma.

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Em sua opinião, se há aumento de efetividade sem maiores efeitos colaterais, a estratégia é válida.

– Minha opinião é que isso é plausível biologicamente, sim, e também eticamente possível. O objetivo dessa associação de plataformas distintas de vacina é aumentar a proteção conferida. Se aumenta a proteção sem causar mais efeitos adversos, é a situação ideal – concluiu.

Para Gulnar Azevedo, professora de epidemiologia da Uerj e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a estratégia é comum e já foi utilizada em outras epidemias. Ela também destaca que há estudos científicos que mostram a segurança em combinar Pfizer e AstraZeneca.

– A combinação de vacinas diferentes já foi feita em algumas epidemias de outras doenças mas é importante analisar as especificidades das vacinas. Alguns estudos científicos têm mostrado ser seguro combinar vacinas diferentes, como por exemplo a da AstraZeneca e a Pfizer. Neste caso, pode ser uma estratégia viável para garantir a vacinação de toda a população quando há ainda o grande obstáculo da escassez de uma ou outra vacina – pontuou.