Saúde Coronavírus

Boletim da Fiocruz aponta interrupção de queda nos casos de SRAG no Brasil

Coordenador do Infogripe afirma que país "baixou a guarda" e não chegou a "patamar seguro" de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, na maioria das vezes causada pela Covid-19
Fila para vacinação contra Covid-19 no posto do Museu da República no Catete, Rio de Janeiro. Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Fila para vacinação contra Covid-19 no posto do Museu da República no Catete, Rio de Janeiro. Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — A nova edição do boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base em dados da semana de 25 a 31 de julho, indica interrupção da queda e possível alta nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave no Brasil pela primeira vez desde maio. Como atualmente os casos de SRAG são, em sua grande maioria, provocados pela Covid-19, os dados são considerados pelos pesquisadores como um alerta importante.

Segundo o indicador de tendência de curto prazo de casos da síndrome, que avalia as três semanas epidemiológicas anteriores, foi observado um sinal "moderado de crescimento" a nível nacional. Esse indicador é mais sensível para captar rapidamente mudanças, mas pode ser influenciado por pequenas flutuações.

Menos doses: SP vai questionar na Justiça mudança no critério de distribuição de vacinas do Ministério da Saúde

Já na tendência de longo prazo, que considera as seis semanas anteriores, ainda é observado sinal de queda no país. A avaliação de longo prazo é considerada um sinal "mais forte" das tendências, mas que demora mais para captar alterações. O número de mortes por SRAG também continua a cair no país. A síndrome é um conjunto de sintomas associados a doenças respiratórias que demanda hospitalização e pode levar a óbito.

— Há uma mudança, no mínimo uma interrupção de queda nos casos. Nas próximas semanas vai ficar mais claro se há interrupção ou tendência de crescimento — explica Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe. — E ainda estamos com valores semanais muito elevados. Embora o país tenha tido várias semanas de queda, ainda não foi suficiente para um patamar de segurança.

O pesquisador afirma que a mudança é esperada devido ao relaxamento das medidas de restrição em um momento em que a cobertura vacinal ainda é insuficiente.

— Estamos baixando a guarda, retomando atividades presenciais. Com isso a população se sente mais confortável, segura, e também diminui a adesão aos cuidados. A comunicação tem que ser muito bem trabalhada nos momentos de flexibilizações para não passar essa impressão equivocada — afirma.

Distribuição : Ministério da Saúde afirma que redução de doses da Pfizer para São Paulo foi compensação

Segundo dados do boletim do consórcio de veículos da imprensa de quarta-feira,  49,14% da população brasileira recebeu a primeira dose de uma das vacinas contra Covid-19 e 20,61% está totalmente imunizada. Gomes explica que só é possível considerar a proteção vacinal de fato após a segunda dose.

Cenário nos estados

Segundo a Fiocruz, na tendência de curto prazo, o Ceará apresenta sinal forte de crescimento de casos de SRAG e São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Acre, Pará e Rio Grande do Norte têm sinal moderado de alta.

Somente no Espírito Santo, Tocantins e Roraima foi observada queda nos casos na tendência de curto prazo, e os outros estados apresentam indicação de estabilidade.

Na tendência de longo prazo, apenas Acre, Mato Grosso do Sul e Pará apresentam sinal de crescimento, com destaque para o primeiro, que registrou sinal forte de alta. Entre os demais estados, nove apresentam sinal de queda na tendência de longo prazo, e os outros de estabilização.

Educação: Bolsonaro edita MP e retira prazo de repasse para custear internet a alunos de escola pública

Muitos casos abaixo de 60 anos

Ele destaca que entre a população acima de 60 anos, embora os valores ainda não sejam "tranquilos", os casos estão abaixo dos picos observados no ano passado. Já entre a população com menos de 60, a situação é inversa: os casos semanais estão muito acima do que os picos do ano passado para essas faixas etárias.

— Isso mostra que a vacinação está funcionando, porque na população com segunda dose mais avançada o cenário é relativamente mais tranquilo em comparação ao ano passado. E na população que não está, ainda vivemos um dos piores cenários. As vacinas funcionam, mas o cenário de transmissão que vivemos hoje ainda é extremamente preocupante — diz o pesquisador.

O boletim aponta que todos os estados apresentam ao menos uma macrorregião de saúde com nível de transmissão comunitária da Covid-19 alto ou superior, exceto Roraima. Gomes alerta que ao manter um número alto de casos na população estamos facilitando as mutações do coronavírus e, desse processo, eventualmente podem surgir novas variantes de preocupação.

— Estamos facilitando esse processo e colocando em risco também as vacinas que aplicamos. Porque podemos ter variantes que tenham escape, seja da imunidade natural, com maior facilidade para reinfecção, ou eventualmente com escape em relação às vacinas  — afirma.

Vídeo: 'Ser uma Barbie destaca a coragem dos profissionais de saúde’, diz brasileira coordenadora da equipe que sequenciou DNA do coronavírus

Reavaliação das flexibilizações

No boletim, os pesquisadores afirmam que os valores ainda elevados de casos e a alta transmissão comunitária evidenciam a necessidade de manutenção "de medidas de mitigação da transmissão e proteção à vida" Eles mantêm a recomendação da cautela em relação a medidas de flexibilização "enquanto a tendência de queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para que o número de novos casos atinja valores significativamente baixos".

Também indicam a necessidade de reavaliação das flexibilizações já implementadas nos estados com sinal de retomada do crescimento ou estabilização ainda em patamares elevados.

— Sabemos que isso tem um custo social, emocional, econômico. Mas o cenário atual também tem esses custos, estamos falando de vidas. Infelizmente são medidas necessárias para a proteção da vida coletiva. E precisamos lembrar que só estamos há um ano nesse cenário porque optamos em diversos momentos por não tomar as medidas necessárias, fortes, simultâneas, coletivas, como muitos países fizeram e conseguiram ter uma reabertura mais ampla e segura — avalia o pesquisador.