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Em nota, Davati nega acusações de reverendo Amilton a Herman

O empresário americano Herman Cardenas, dono da Davati Medical Supply - TV Globo/Reprodução
O empresário americano Herman Cardenas, dono da Davati Medical Supply Imagem: TV Globo/Reprodução

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

03/08/2021 20h05Atualizada em 03/08/2021 20h05

Em nota divulgada na noite de hoje, nos momentos finais da CPI da Covid, a empresa americana Davati Medical Supply negou a acusação do líder da entidade privada Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), reverendo Amilton Gomes de Paula, de que a mudança na oferta de US$ 10 para US$ 11 por dose de vacina da AstraZeneca ao Ministério da Saúde teria partido do dono da companhia, Herman Cardenas. A declaração de Amilton foi dada hoje durante depoimento à Comissão do Senado.

"O presidente da Davati Medical Supply nega veementemente esta manifestação do reverendo Amilton de Paula Gomes nesta terça-feira (3) perante a CPI. Ademais, reitera que a empresa jamais credenciou o sr. Luiz Paulo Dominghetti e o reverendo Amilton de Paula Gomes como representantes de seus produtos", diz trecho da nota.

A Davati defendeu que "jamais enviou proposta (FCO) ao governo brasileiro no valor de US$ 11, inexistindo documento firmado pela empresa com este valor".

Amilton foi questionado pelos senadores porque ele teria enviado e-mail ao Ministério da Saúde indicando que o valor da vacina da AstraZeneca seria de US$ 11 por dose. Por outro lado, a proposta enviada pela Davati seria de US$ 10, segundo o vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

"Eu quero reiterar o que eu já tinha lhe perguntado e o que está sendo perguntado pelo senador Alessandro [Vieira]: temos aqui uma carta de US$ 10, da Davati, e depois uma outra carta sua, do dia 14, que agora o senhor traz a informação de que foi encaminhada dez dias depois, de US$ 11", disse Randolfe.

"Eu recebi do Herman US$ 11", declarou Amilton, em outro momento.

Questionado pela senadora Leila Barros (PSB-DF) se o acréscimo de US$ 1 veio do Herman, Amilton citou matéria do Fantástico, da TV Globo.

"Está no próprio Fantástico, que divulgou isso, que o Herman passou o e-mail... No Fantástico, fala dia 15 que ele passou o e-mail já pro MS de US$ 11 e oferecendo também não só a AstraZeneca, mas a Janssen, US$ 11. Está no próprio e-mail do MS [Ministério da Saúde]", alegou.

O US$ 1 adicional é o mesmo valor citado por Dominghetti como suposta propina pedida pelo ex-diretor de logística do ministério, Roberto Dias.

Ao longo do depoimento, Amilton buscou citar matérias publicadas na imprensa, nem sempre esclarecendo as reportagens ou os veículos aos quais fazia referência.

Segundo o reverendo, o e-mail enviado com o valor de US$ 11 é resultado de reunião que fazia com Herman. "Então, todas as vezes que conversava com o Herman, o Herman falava a respeito do aumento da vacina, e quando se falava a respeito do aumento da vacina, eu pedia para a minha assessoria para enviar um e-mail para atualizar o FCO. Essa demanda era sempre em conversação."

Ao ser informado de que a Davati já estava negando ter ofertado vacina a US$ 11, Amilton disse ter falado com seus advogados para encaminharem os documentos envolvidos no episódio.

Referente às vacinas da Janssen, a Davati afirma que a "única proposta (FCO)" apresentada ao governo brasileiro foi no valor de US$ 10, "em e-mail enviado diretamente ao então secretário do Ministério da Saúde".

Aos senadores, Amilton confirmou ter atuado como um dos elos para que a Davati, representada informalmente pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti, segundo a empresa, conseguisse ofertar ao Ministério da Saúde um suposto lote de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

Amilton disse ter sido procurado por Dominghetti em 16 de fevereiro deste ano. Posteriormente, no dia 22, o religioso teria encaminhado um simples email à SVS (Secretaria de Vigilância em Saúde) do ministério com o objetivo de agendar uma reunião, o que conseguiu no mesmo dia.

A rapidez com que foram atendidos pelo ministério causou estranheza nos senadores da CPI, especialmente porque Amilton argumentou não ter contatos políticos no governo. Na avaliação de Randolfe e de outros senadores, este ponto ficou mal explicado pelo reverendo.

O cabo da PM mineira Luiz Paulo Dominghetti se apresentava, à época, como um revendedor da Davati, empresa com sede no Texas e sem representação formal no Brasil. Havia uma expectativa de lucrar milhões de reais com o acordo (dinheiro de comissão que seria repartido entre o PM e outros intermediários), mas as negociações não vingaram.

Em 29 de junho, Dominghetti foi à imprensa para denunciar um suposto pedido de propina por parte de Roberto Dias, ex-diretor do departamento de logística do Ministério da Saúde. Posteriormente, em depoimento ao colegiado, o policial ratificou a versão.

Com as informações prestadas por Dominghetti, a CPI passou a investigar o caminho percorrido pelo PM na tentativa de vender vacinas para o governo. A partir de um cruzamento de narrativas, apurou-se que as portas do ministério teriam sido abertas pelo reverendo Amilton, em fevereiro, período em que o governo Bolsonaro sofria diariamente críticas pelo atraso na campanha de vacinação.

De acordo com Amilton, ele sofreu "pressão" de Dominghetti e do representante oficial da Davati, Cristiano Carvalho, para conseguir as reuniões com o governo federal.

"Eu estava recebendo pressão exatamente de Cristiano e Dominghetti para levar essa demanda adiante, conversar com o presidente [Bolsonaro], conversar com o ministério, conversar com quem for, mas que teria que dar prosseguimento ao pedido dos dois", declarou.

Dominghetti relatou ter tido reunião com Lauricio ao lado de representantes da Senah na primeira vez em que esteve no Ministério da Saúde.

Amilton teria feito o contato político para que, ao lado de Dominghetti, conseguissem o encontro com Lauricio, segundo o policial. Como vacinas não eram a área de Lauricio, este teria dito que encaminharia os vendedores ao então secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, responsável por essas aquisições, contou Dominghetti.

Fotos no celular de Dominghetti, periciado pela CPI, mostram Amilton ao lado do policial militar e Lauricio, entre outros, no Ministério da Saúde em 22 de fevereiro.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.